RESUMO A proposta deste ensaio é discutir a micropolítica da gestão e do cuidado em saúde na Rede Básica (RB). Inicia-se pelo que se entende por RB e depois por micropolítica – da gestão e do cuidado. Analisam-se as forças que estão operando no cotidiano da RB que se instauram nos atos relacionais, nos encontros, entre gestores e trabalhadores, entre trabalhadores, entre todos esses e os usuários, constituindo campos de força, que conformam modos de estar no encontro, agenciando processos de subjetivação. Destacam-se cinco forças-valores centrais para que sejam pensados o dentro e o fora do comum dos acontecimentos que ocorrem no dia a dia das práticas de cuidado em saúde: a força-valor trabalho, a força-valor território, a força-valor governo de si e do outro, força-valor clínica-cuidado e a força-valor trabalho em equipe. A aposta em um modo de cuidar na RB centrado na produção de potências para o enfrentamento dos desafios do viver com sofrimento, com o adoecimento e seus desdobramentos em situações diversas e adversas deve contribuir para produção de existências possíveis e favoráveis aos melhores modos de andar a vida, com todos os seus desafios.
Resumo Um dos maiores desafios para os sistemas de saúde é a garantia de acesso integral. Os processos regulatórios em saúde no Brasil priorizam a organização de listas de espera e fluxos assistenciais com caráter normativo, mas se distanciam das necessidades dos usuários no sentido de uma produção de cuidado integral. No presente estudo, de caráter qualitativo, analisou-se as implicações da regulação em saúde na produção do cuidado no município de São Bernardo do Campo, utilizando-se as técnicas observação participante, grupo focal e usuário-guia, construídas a partir de um processo cartográfico. Foram identificados arranjos tecnológicos em três cenários: Complexo Regulador, Observatório de Redes e Apoio de Redes, que puderam ser apreendidos em conjunto com gestores, trabalhadores e usuários. Os arranjos tecnológicos relacionados ao matriciamento da pneumologia e à linha de cuidado da dor osteomuscular permitiram a análise da relação entre as ações de regulação e a produção do cuidado em redes. O estudo concluiu que as ações de regulação foram capazes de produzir cuidado centrado no usuário, que o Complexo Regulador atuou de forma coadjuvante na garantia do acesso e que os mecanismos regulatórios nos serviços de saúde potencializaram uma regulação produtora do cuidado em redes de atenção.
Objetivamos problematizar a implementação do Programa Mais Médicos a partir da experiência de uma cidade brasileira. Tendo o encontro como método, apresentamos afecções/reflexões que emergiram de conversas com médicos e outros atores envolvidos com o programa. Os dispositivos para operação do programa revelaram-se insuficientes, considerando-se essa política polêmica/conflituosa. Cada município implementa e tira proveito do programa à sua maneira, criando ou não conjunturas que lhe dão sustentabilidade e potencializam seus efeitos. Em situações desfavoráveis, evidencia-se a fragilidade dos dispositivos para sua sustentabilidade. Constatamos e problematizamos a invisibilidade da política e as fragilidades dos dispositivos na implementação. O programa é uma importante iniciativa federal para melhorar a atenção à saúde, principalmente para a população mais vulnerável; porém, a política está ameaçada e, com a saída dos médicos cubanos, ainda mais fragilizada. Para tanto, debater as suas potencialidades e fragilidades é fundamental.
Em uma pesquisa sobre a produção do cuidado nas redes de saúde, avaliou-se o papel dos colegiados de gestão em uma experiência de mudança no governo da saúde. Com metodologia qualitativa de abordagem cartográfica, observou-se que a ativação dos colegiados pela gestão visava uma dupla tarefa: por um lado, a democracia institucional, e por outro, a criação de governabilidade para a mudança proposta. No entanto, predominavam nesses colegiados pautas restritas aos agires técnicos ou profissionais, além de uma certa tensão junto com vários atores da rede. Por outro lado, também houve encontros nos quais se vivenciou novos pactos intra e entre-equipes, mediante relações simétricas e de coautoria: um analisador aqui denominado magia a-significante. Conclui-se como possível que os colegiados gestores configurem-se como cenários para uma mudança, e para tanto propõe-se o seu engravidamento com ferramentas de educação permanente em Saúde.
O objetivo deste ensaio é produzir memórias e problematizar uma série de redes, tramas, disputas e tensões que estão sendo operadas no país diante da pandemia da Covid-19. O texto está constituído por cinco platôs que buscam dar visibilidade e dizibilidade para um diálogo com a produção de novas realidades de socialização no contexto atual. Mais do que ofertar ideias para serem reproduzidas, construímos linhas de pensamento com as quais esperamos afetar e, assim, disparar novos encontros e pensamentos. Com isso, possibilitar a disruptura do mundo pré-pandemia, que não mais existe, e a abertura para a construção de um “mundo outro”, no qual a vida em sua multiplicidade é o comum de todes, e um equivalente geral para qualquer posicionamento ético no agir em saúde.
Estaria a Saúde Coletiva brasileira preparada para a pandemia que estamos vivendo? réplica Quando colocamos o retorno ao que se vivia nos tempos pré-pandêmicos, Pasche 1 faz bem em defender uma "produção-desejo de acolhida e aconchego de regresso" (p. 2), uma vez que acolhida e aconchego são tanto direitos quanto valores desejáveis em uma perspectiva emancipatória de defensora da vida. E se em algum momento, em nosso texto, possamos ter dado a entender que associávamos esse desejo com algum "apreço pela distopia do mundo em crise" (p. 2), foi falha de nossa escrita. Para nós, no entanto, valores como acolhida e aconchego podem muito bem prescindir de nostalgias, a não ser que se trate de nostalgia de um futuro-outro.
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