A participação infantil assume-se na segunda modernidade como um princípio incontornável em grande parte dos discursos científicos que são produzidos acerca da infância. A Sociologia da Infância, ao considerar as crianças como actores sociais e como sujeitos de direitos, assume a questão da participação das crianças como central na definição de um estatuto social da infância e na caracterização do seu campo científico. Considerar a participação das crianças na investigação é um passo decorrente da construção de uma disciplina das ciências sociais que procura “ouvir a voz das crianças”, isto é, que assume que as crianças são actores sociais plenos, competentes na formulação de interpretações sobre os seus mundos de vida e reveladores das realidades sociais onde se inserem. As metodologias participativas com crianças atribuem aos mais jovens o estatuto de sujeitos de conhecimento, e não de simples objecto, instituindo formas colaborativas de construção do conhecimento nas ciências sociais, que se articulam com modos de produção do saber empenhadas na transformação social e na extensão dos direitos sociais. A investigação participativa com crianças levanta, no entanto especiais dificuldades epistemológicas, relacionadas quer com a alteridade da infância quer com a diversidade das suas condições de existência. O entendimento da “criança” como o outro do adulto decorre do reconhecimento das culturas da infância como modo específico, geracionalmente construído, de interpretação e de representação do mundo. É o trabalho de tradução entre a linguagem das ciências sociais e a linguagem das crianças (com as suas gramáticas culturais distintas) que as metodologias participativas são chamadas a desempenhar, com a consequente recusa do etnocentrismo geracional e com a indispensável mobilização de um discurso polifónico, onde a voz das crianças-investigadoras colaborativas perpassa lado a lado com o trabalho interpretativo dos sociólogos da infância. A atenção à diversidade da infância, decorrente de categorias sociais como o género, a religião, a etnia, a saúde e o (sub)grupo etário, impõe a recusa de olhares uniformizadores, desafiando a imaginação metodológica a uma aceitação e respeito pelas diferenças e pelos diversos modos da sua comunicação. Assente em trabalhos de investigação em Sociologia da Infância construídos com metodologias participativas, esta comunicação interroga a construção do conhecimento em ciências sociais com e sobre as crianças e a infância, atendendo à alteridade e diversidade, e incluindo o debate ético sobre a produção de saber sobre os mundos sociais da infância.
The sociology of childhood is a discipline that was born in Portugal two decades ago, since the publication of the first work that claimed to belong to this scientific area.
A investigação sobre formação de professores/as e educadores/as tem sido profícua e plural.Não obstante, pouco se sabe sobre o que coordenadores/as ou diretores/as de curso sentem e refletemacerca da Prática de Ensino Supervisionada (PES). O estudo exploratório que apresentamos nopresente artigo, a partir da interlocução entre a Sociologia e as Ciências da Educação, teve comoprincipal objetivo identificar e analisar a opinião de 13 coordenadoras sobre os mestrados de formaçãode educadores/as e professores/as do 1.º e 2.º Ciclo do Ensino Básico em Portugal - o lugar, a função eo perfil dos supervisores/as, a avaliação do processo de supervisão, bem como o modelo supervisivoadotado, os pontos fortes e fracos identificados no atual modelo da PES, propostas de alteração aomodelo existente e o grau de satisfação das coordenadoras com a PES. O desenho da pesquisamobilizou procedimento de recolha de dados assente numa metodologia qualitativa, a partir daaplicação de um questionário e consequente análise e interpretação analítica. Como principaisresultados, verificamos, globalmente, a ausência de um modelo de supervisão institucionalizado, aindaque a PES assuma, nos discursos, um lugar central na formação docente.
No atual panorama socioeducativo identifica-se uma controvérsia na Educação de Infância em que a escalada da sua ‘escolificação’ vem sendo confrontada com a sua desconstrução e a defesa de uma pedagogia da infância na qual o brincar, como direito das crianças e expressão cultural infantil, é assumido como (com)texto informal de aprendizagens holísticas, essenciais à sua formação pessoal, social e cultural. Entrecruzando contributos dos Estudos da Infância e das Ciências da Educação, analisam-se políticas para a Educação de Infância (1997-2017) e relatórios da Prática de Ensino Supervisionada dos mestrados profissionalizantes para a docência com crianças até 6 anos, em instituições de ensino superior públicas e privadas de Portugal (2014-2017), visando, no primeiro caso, i) identificar a presença do brincar nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar (1997, 2016), e suas conceções; no segundo caso, i) mapear os relatórios dedicados ao brincar em contextos de creche e jardim de infância; ii) analisar e problematizar as conceções do brincar que são privilegiadas e, por consequência, as de criança, educação e educador/a, nas lógicas e sentidos atribuídos pelas estudantes por relação com a sua prática pedagógica. Advogando a educação de infância como promotora da cidadania das crianças, reivindica-se o brincar como direito de participação delas e como base empírica imprescindível para fundamentar práticas pedagógicas contra-hegemónicas mais equitativas e justas.
Este artigo tem como objetivo refletir sobre as mudanças sócio-históricas que se produziram na concepção e na vivência da Infância, vinculadas ao papel desempenhado pela Educação, numa análise que procura abranger do período romano à (pós)modernidade. A relação da infância e da educação é vista a partir de uma avaliação das práticas sociais e ideologias dominantes em cada época, pontuando-se as propostas feitas e as realizadas; também se verifica a questão da problematização da situação mundial e discute-se a questão dos Direitos da Infância e da Adolescência, observando o caminho seguido desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem, em meados do século XX e, sobretudo salientando as dificuldades na sua implementação em diversos momentos e culturas.
Nas últimas décadas, o fenômeno da violência doméstica emPortugal tem ganhado uma visibilidade crescente, nos planos social eacadêmico, com enfoque nos direitos dos adultos e especial incidência nosdireitos das mulheres. Neste texto, no âmbito do projeto de investigaçãoJust Child, procura-se analisar e discutir os lugares das crianças expostasao fenômeno da violência doméstica em Portugal. A partir da evolução dosquadros jurídico-legais aplicáveis e das políticas públicas, observa-se queas crianças têm ocupado um lugar periférico como vítimas reconhecidasde violência doméstica, face à centralidade dos adultos, geralmentemulheres. Sendo assim, é importante tornar a perspectiva do combate àviolência doméstica inclusiva da criança e diferenciada, tendo em vistaas suas necessidades específicas, diferentes da vítima adulta. Ressalta-se,contudo, algumas exceções recentes a esta invisibilização, incluindo aárea da educação.
A análise da situação da infância em risco em Portugal caracteriza-se por um conjunto de avanços, impasses e retrocessos, na airmação dos direitos da criança e na ediicação de condições de bem-estar social para esta categoria social de tipo geracional. Através de um quadro teórico ancorado na Sociologia da Infância, este artigo tem como objetivo analisar os indicadores plasmados nos relatórios da Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco, em 2000 e em 2010. Propõe-se, assim, a partir de uma análise qualitativa e crítica, compreender as tensões e as ambiguidades que caracterizam a infância das crianças na sociedade portuguesa, em situação de risco, e os contornos que ele foi assumindo no período em análise.
O lugar das crianças de 0 a 3 anos nas políticas educacionais no Brasil e em PortugalThe place of children from 0 to 3 years in educational policies in Brazil and Portugal El lugar de los niños y niñas de 0 a 3 años en las políticas educativas en Brasil y Portugal Ângela Scalabrin Coutinho Universidade Federal do Paraná [UFPR] -Bra. Catarina TomásInstituto Politécnico de Lisboa e CICS.NOVA.UMINHO-Port. RESUMOTendo como quadro teórico-metodológico de referência a sociologia da infância e a concepção de criança enquanto ator social, sujeito de direitos, o artigo tem por objetivo apresentar uma análise das políticas educacionais voltadas para as crianças de 0 a 3 anos no Brasil e em Portugal, com a perspectiva de identificar o lugar que ocupam nas agendas de discussão no campo da educação nesses países, sobretudo a partir dos anos 80 até à atualidade. A análise centrar-se-á em documentos oficiais -legislação e recomendações -que deliberam sobre o direito à educação e que orientam as práticas educacionais com as crianças menores de três de anos, e que possibilitam identificar os principais vetores dessas políticas, indicando suas potencialidades e limites.Palavras-chave: Educação infantil. Políticas educacionais. Crianças de 0 a 3 anos. Sociologia da infância. ABSTRACTHaving as theoretical -methodological frame of reference the sociology of childhood and the conception of child as a social actor, subject of rights, the article aims to present an analysis of educational policies aimed at children aged from 0 to 3 years old in Brazil and Portugal, with the perspective of identifying the place they occupy in the discussion agendas in the field of education in these countries, especially from the 80's until now. The analysis will focus on official documents -legislation and recommendations -which deliberate on the right to education and guide educational practices with children under the age of 3 years old and which make it possible to identify the main vectors of these policies, indicating their potentialities and limits.Keywords: Early childhood education. Educational polices. Children from 0 to 3 years old. Sociology of childhood. RESUMENEn el marco teórico-metodológico de referencia de la sociología de la infancia y la concepción del niño y niña como actor social, sujeto de derechos, este artículo tiene como objetivo presentar un análisis de las políticas educativas dirigidas a niños y niñas de 0-3 años en Brasil y en Portugal, con la perspectiva de identificar el lugar que ocupan en las agendas de discusión en el campo de la educación en esos países, sobre todo a partir de los años 80 hasta la actualidad. El análisis se centrará en documentos oficialeslegislación y recomendaciones -que deliberan sobre el derecho a la educación y que orientan las prácticas educativas con los niños y niñas menores de tres años, y que posibilitan identificar los principales vectores de esas políticas, indicando sus potencialidades y límites.Palabras-clave: Educación infantil. Políticas educacionales. Niños y niñas menores que 3 año...
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