Este artigo problematiza os divergentes posicionamentos sobre raça e etnia nas Atas e Trabalhos do Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia, associando-os às ideias de hereditariedade. Tal evento, ocorrido no Rio de Janeiro em 1929, foi considerado como a maior manifestação pública da eugenia no Brasil. Destacamos, por um lado, a fundamentação científica da proposta de seleção de imigração de Azevedo Amaral, e por outro lado, o posicionamento de outros eugenistas contrários à proposta, protagonizado por Edgard Roquette-Pinto. Portanto, este trabalho contribui por evidenciar a estreita e complexa influência do mendelismo na discussão de raça e etnia por eugenistas brasileiros.
Resumo O artigo problematiza as relações de gênero no primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia, realizado no Rio de Janeiro, em 1929. Abalizadas como a maior manifestação pública do movimento eugênico no Brasil, as Atas e Trabalhos do Congresso foram foco de uma análise das questões de gênero expressas sob o espectro de intrínsecas concepções sobre hereditariedade e reprodução. As problematizações empreendidas se empenham em discutir, por meio do trabalho de diversos participantes do congresso, o papel e o status da mulher na eugenia brasileira, o controle reprodutivo no Brasil e a relação entre os estudos envolvendo a determinação de sexo biológico e a melhora da raça humana.
O artigo tem como objetivo discutir as possíveis contribuições da problematização sobre o movimento eugênico brasileiro para o Ensino de Genética. Uma proposta didática foi produzida com base em eventos históricos sobre eugenia no Brasil dirigida à temática de genética no Ensino Médio sob a ótica teórica da História das Ciências no Ensino. O material foi submetido à convalidação por pesquisadores e professores do Ensino de Ciências, gerando dados em que avaliamos possíveis contribuições dessa didatização na visão dos participantes. A partir de procedimentos para análise de dados qualitativos, consideramos que as principais possíveis contribuições são: propor uma nova abordagem histórica, sociopolítica e contextualizadora para os conceitos de hereditariedade; empregar o conteúdo sobre eugenia como tema propulsor de discussões bioéticas e filosóficas, além de discutir os perigos do determinismo genético.
Em 1996, a historiadora da biologia norte-americana Vassiliki Betty Smocovitis publicou um livro de leitura obrigatória para se conhecer a história da biologia do século XX: Unifying biology: the evolutionary synthesis and evolutionary biology. Embora o subtítulo indique o recorte do evento histórico das décadas de 1930 e 1940, que levou à então chamada síntese moderna ou teoria sintética de evolução, o livro perpassa diversas subáreas das ciências biológicas, incluindo as que ficaram de fora da mencionada teoria. Também mais do que o já trivial relato dos feitos dos “arquitetos” da síntese, Smocovitis ofereceu uma interpretação historiograficamente nova. Em vez de ápice de um processo quase espontâneo, cumulativo e linear, a autora coloca a síntese como um “alvo móvel”, mas de longa data desejado, o da unificação da ciência, nutrido pelas “ciências positivas” do século XIX e definitivamente marcado pelo empirismo lógico das primeiras décadas do século XX. Após contextualizar o ponto de partida dos entrevistadores em meio à pandemia da covid-19 e sumarizar os assuntos acima referidos, o presente artigo traz entrevista realizada virtualmente com a autora em 17 de novembro de 2021. Além dos temas abordados, pudemos conhecer um pouco mais sobre como a autora concebeu a obra e como transcorreu o processo de escrita do seu Unifying biology. Interessou-nos especialmente que ela discorresse sobre o forte contextualismo que renovou a história das ciências nos anos 1990 e hoje passa, por vezes, ignorado dos jovens pesquisadores da área. Nosso interesse foi explorar como ela combinou seu profundo conhecimento da história da biologia e da sua historiografia com as novas tendências dos science studies. Outros tópicos acabaram trazidos à conversa, como o dos paradigmas teóricos subjacentes à história e filosofia da biologia, do estado atual da institucionalização da história das ciências nos EUA, dos entraves da popularização da ciência e do impacto dos governos autoritários na atividade acadêmica.
O presente artigo faz uma discussão do livro de Charles Darwin (1809-1882) The Descent of Man and Selection in Relation to Sex, de 1871, cuja primeira edição completa 150 anos de publicação em 2021. Embora tão famoso, e importante, quanto A origem das espécies, o Descent é, contudo, menos lido e o mais controvertido livro de Darwin, desde seu lançamento até os dias atuais. Os objetivos são o de recolher aspectos do contexto em que o livro foi escrito e problematizar algumas das questões polêmicas que o cercam. Para isso, inicialmente, por aproximações aos estudos de Darwin publicados a partir dos anos 1980, a abordagem historiográfica adotada é caracterizada como pós-positivista, contextualista e enriquecida por teorias multiculturais do conhecimento. O escopo e objetivos do Descent são apresentados, tendo em vista seu autor como representante da elite intelectual inglesa do século XIX. A seleção das polêmicas vivas hoje ocorreu em dois fóruns acadêmicos de 2021, uma disciplina sobre Darwin e um congresso internacional de estudos metacientíficos da biologia. As polêmicas foram reunidas em três grupos: 1) a escola craniométrica e a hierarquia das raças e civilizações; 2) a seleção sexual e os estereótipos culturais de gênero; 3) a seleção natural no âmbito humano e os movimentos eugênicos. As conclusões são desenhadas em convergência com os achados da historiografia recente, reconhecendo que a construção da teoria evolucionista de Darwin se deu na interação de mão dupla entre a ciência e a cultura, como é da natureza da construção de todo conhecimento científico. O seu trabalho teórico reflete elementos da sociedade vitoriana, com a qual o naturalista compartilhava as virtudes e os vícios.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.