“…Em última análise são as práticas sociais e somente elas que decidem sobre o caráter "comum" de uma coisa ou de um conjunto de coisas. Portanto, contra qualquer naturalismo ou essencialismo é preciso sustentar que é a atividade dos homens que torna uma coisa comum, guardando-a de qualquer lógica de apropriação e reservando-a para o uso coletivo38 .O bem comum diz respeito à valorização do que é público, não no sentido estatal, e sim da do uso da terra e dos demais bens naturais, fundado em elementos que o coletivo se sobrepõe ao interesse individual39 . Assim, a ideia é a de que o comum, embora não exclua, por evidente, o direito de propriedade, surge como uma alternativa à mesma, limitando-a, concedendo ao coletivo o lugar que lhe pertence, e cuja titularidade é coletiva.Para fugir dos limites estruturais oferecidos pelo modelo público/privado, que remete a tutela do ambiente à espera da iniciativa estatal e a um arcabouço processual fortemente vocacionado à tutela do patrimônio privado, cogita-se, portanto, de um procedimento jurisdicional de índole coletiva, no qual o Coletivo personalizado possa zelar pelo exercício de uma função socioambiental da propriedade, a tutelar, sobretudo, o uso comum, não excludente e não exauriente dos recursos naturais, ante a voracidade da apropriação privada e da lógica da mercantilização de todos os bens e valores da vida40 .…”