A diferença como política de resistência e de ressignificação da subjetividade feminina em campos de saberes masculinosDifference as a policy of resistance and redefinition of feminine subjectivity in fields of masculine knowledge A diferença como política de resistência e de ressignificação da subjetividade feminina em campos de saberes masculinos
IntroduçãoA marcação dos corpos, dos sexos, dos gêneros com a diferença constitui-se como evento ou acontecimento a partir da metade do século XVIII e durante o século XIX. Como diria Foucault (1999b), trata-se da instituição de enunciados de verdade, vinculados a novos saberes e da emergência de sujeitos instituí-dos por uma nova formação discursiva. A percepção da diferença performata uma relação teórica e prática que é intrinsecamente ligada aos processos de exclusão institucional, social, moral e jurídica, com consequente exclusão e dominação. As motivações e os efeitos desses processos se diversificaram em muitas formas, ao longo do tempo, isto é, detalharam as deficiências e as estranhezas, instituíram hierarquias sociais e se subjetivaram nos sujeitos. Foram produções de verdade nas quais se utilizou politicamente, ideologicamente e culturalmente dos marcadores do determinismo biológico dualizado, para classificar, ordenar e construir as desigualdades de posição dos corpos, em relação ao sexo, a raça e ao ser masculino e feminino. A normatização dos corpos e da sexualidade como opostos e hierárquicos, tanto na sua institucionalização heteronormativa, quanto na patologização da homossexualidade, trouxe embutido o princípio fundamental do mundo moderno, em que o conhecimento do eu adquiriu uma importância crescente como primeira etapa da teoria do conhecimento e resultou em produção da desigualdade e da inferioridade das mulheres em relação aos homens.A diferença presente nas metáforas e nas analogias polí-ticas, sociais e culturais, também fundamentou o discurso científico e consolidou representações, signos e práticas sobre a desigualdade dos chamados povos primitivos e civilizados. Impôs-se com sua rede de significados conectados ou justapostos para fundamentar moralmente os comportamentos femininos e masculinos da sociedade burguesa. Essa demarcação pela diferença e suas antinomias se estendeu e se completou historicamente com contraposições, espacializações e valorações desiguais entre norte e sul, oriente e ocidente, negros e brancos e, semanticamente, manteve seu núcleo original de sentidos, baseado na desigualdade jurídica, nas noções sobre complementaridade natural entre homens e mulheres. Em sua execução, institui-se competente demarcação entre o público e o privado, ao mesmo tempo em que se dava suporte aos julgamentos das condutas morais privadas. Mesmo se considerarmos que, ao longo do tempo, os enunciados de verdade sobre a diferença tenham aberto lugar para variações e tenham se mostrado aptos a incorporar novos sentidos como conjuntos singulares de práticas. O fato é que se mantiveram modelos generalizantes e constituidores de sujeitos como contra...