Ao longo das últimas décadas, diferentes discussões vêm sendo realizadas, dentro dos Estudos da Tradução, sobre a noção de Competência Tradutória e seus componentes. Este artigo adota o modelo de competência tradutória do grupo Procés d’Adquisició de la Competència Traductora i Avaluació PACTE (2003) e toma como ponto de partida o relativamente baixo número de investigações específicas sobre o subcomponente psicofisiológico desse modelo. Associando essa lacuna ao fato de se tratar de um componente não facilmente observável ou mensurável por meio de exames ou métodos externos ao indivíduo, este artigo busca discutir como a Pesquisa Narrativa pode contribuir para o campo disciplinar, fornecendo métodos que permitam uma melhor compreensão desse subcomponente e dos processos de desenvolvimento da Competência Tradutória de tradutores e tradutoras em formação. O artigo se ancora em discussões sobre os métodos e possibilidades oferecidas pela Pesquisa Narrativa — como Clandinin et al. (2017), Connelly e Clandinin (2006) e Dutra e Mello (2008) —; em discussões sobre Competência Tradutória — como PACTE (2003) e Lara (2016) —; e discute a narrativa de uma tradutora em formação, com vistas a mostrar a viabilidade da proposta de pesquisa aqui apresentada. A discussão do caso é realizada a partir do registro bibliográfico da narrativa — em que são discutidas as percepções da discente sobre seus processos de desenvolvimento da Competência Tradutória, suas percepções sobre sua capacidade de segmentação textual e sua insegurança em empreender tarefas de tradução. Este artigo sugere que, no médio-longo prazo, um trabalho sistemático de coleta e análise de narrativas de tradutores e tradutoras em formação poderá elucidar questões relativas ao desenvolvimento da Competência Tradutória e, assim, suprir a lacuna aqui identificada.