Circunscrito no campo da história e historiografia da educação brasileira, este artigo buscou reconstruir o sentido e as representações sociais da alfabetização no Brasil-Colônia, com recorte temporal delimitado entre 1549 e 1822. A opção metodológica adotada foi a pesquisa bibliográfica e o estudo possui cunho qualitativo e descritivo. O texto analisa as concepções de alfabetização a partir de duas doutrinas distintas: a primeira, a alfabetização sacra, de concepção metafísica do conhecimento e da natureza humana, forjada no interior do Ratio Studiorum, sob a responsabilidade dos missionários da Companhia de Jesus jesuítas; e a segunda, de concepção laica, influência iluminista e científica, nascida da implantação das Aulas Régias e sob o comando das reformas pombalinas. O paradigma de educação exercido no período colonial prezava a instrução de indivíduos dóceis, obedientes à religião e ao Estado, em prejuízo da formação intelectual. Para os homens brancos, livres e ricos, a formação propedêutica e o ensino erudito. Para os homens pobres, a preparação para o trabalho. Para os indígenas, a doutrina religiosa e a conversão ao catolicismo. Para as mulheres, os trabalhos manuais e a dedicação à casa, ao marido e aos filhos. Aprender a ler e escrever, no período colonial brasileiro, era uma habilidade excludente: o acesso a essa instrução privilegiava os homens brancos e ricos. Ser alfabetizado significava verbalizar textos escritos e reescrevê-los, mecanicamente. A ênfase do processo de alfabetização estava na oratória e na retórica, em detrimento da competência de interpretar e compreender, com competência, o que estava escrito.