Explicações assimétricas para a desconfiança em partidos políticos no Brasil

Abstract

IntroduçãoPor que os brasileiros não confiam em partidos políticos? Mobilizando as hipóteses elencadas pela literatura, o presente artigo visa responder a essa pergunta utilizando um survey realizado e aplicado pelo Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (Nupps/USP) em 2014. Ainda que o país apresente um padrão similar ao de países europeus no apoio a diferentes dimensões de um regime democrático (Norris, 2011), o baixo apoio a partidos registrado no caso brasileiro -aproximadamente 2% da amostra utilizada disse ter muita confiança em partidos -exige uma melhor compreensão desse fenômeno, justificando o esforço empreendido aqui. Assim, a próxima seção, "A confiança na representação política", desenvolve o argumento que explica a escolha da confiança como atitude-chave para compreender o apoio do eleitorado a partidos políticos, partindo da premissa de que as especificidades da relação entre representantes e representados fazem com que a confiança seja uma atitude moderadora e inata nessa relação. Em seguida, apresentamos os "Marcos teóricos e os condicionantes da confiança", em que trabalhamos o eixo que distingue modelos culturalistas e racionalistas. Na sequência, abordamos a "Operacionalização e desenho de pesquisa", em que tratamos das variáveis que são mobilizadas para testar as hipóteses apresentadas. Posteriormente, relatamos os "Resultados" coletados a partir de regressões logísticas ordinais e as "Considerações finais". A confiança na representação políticaO objetivo deste artigo é claro. Deseja-se investigar os condicionantes da confiança em partidos políticos no Brasil, à luz de variáveis que a literatura da área convencionou chamar ou de culturalistas ou de racionalistas. Em suma, sua pergunta é: por que os brasileiros não confiam em partidos? A análise do tema se faz premente por três razões.Em primeiro lugar, o funcionamento do regime democrático em sua forma representativa conserva uma especificidade que pauta a relação entre representantes e representados pela confiança ou pela desconfiança. Entendendo confiança, assim como faz Sztompka (1999), como a crença de um indivíduo "A" de que outro indivíduo ou entidade http://dx

Uso das redes sociais, valores democráticos e confiança institucional no Brasil

“…Existe uma desconfiança generalizada dos brasileiros para com aquelas organizações que seriam, em tese, as responsáveis por representá-los nas esferas institucionais do país. Esses dados vão na mesma direção de constatações de estudos que examinam a questão da desconfiança nos partidos políticos brasileiros (BAQUERO;RANINCHESKI, 2016;LAZZARI, 2017). Cabe ponderar, contudo, que a falta de confiança nos partidos não é exclusividade do Brasil, uma vez que Power e Jamison (2005) trabalham esse fenômeno em contexto latino-americano e argumentam a existência de uma síndrome de desconfiança política generalizada na América Latina.…”

“…Isso ganha especial relevo quando consideramos a importância do apoio ao regime e da confiança política em uma democracia ainda jovem, como a brasileira. Vários autores(MOISÉS, 1995;FILGUEIRAS, 2012;BAQUERO;RANINCHESKI, 2016;LAZZARI, 2017; CASTRO, 2019; MENEGUELLO; DEL PORTO, 2021) têm se debruçado sobre essa questão desde o processo de transição política até os dias de hoje, afirmando a relevância da compreensão da opinião pública, mais especificamente da confiança política, para o amadurecimento e consolidação da democracia no país. De modo geral, a falta de confiança e apatia política são considerados entraves para o pleno desenvolvimento democrático do país, esvaziando as instituições de significado e estabelecendo um regime que ainda funciona do ponto de vista procedimental, mas que carece de maior adesão por parte dos cidadãos.…”

Sistemas Eleitoral E Partidário No Brasil: Uma Análise Da Minireforma Política De 2017

“…No que concernem os aspectos racionais, a falta de capacidade dos partidos de construírem resultados econômicos satisfatórios e/ou tendências de crescimento nos níveis de corrupção implicaram em uma maior desconfiança em relação às legendas. Quanto ao segundo aspecto, percebe-se, no caso brasileiro, a reprodução ritualizada de um histórico antipartidarismo cultural que reage à frustração em relação às questões racionais(LAZZARI, 2017). Como uma das consequências, o número de filiações partidárias entre 2016 e 2020 reduziu significativamente.…”