Eugenia e seleção imigratória: notas sobre o debate entre Alfredo Ellis Junior, Oliveira Vianna e Menotti Del Picchia, 1926

Abstract

Resumo Analisa o projeto de lei apresentado por Alfredo Ellis Junior à Câmara paulista, em agosto de 1926, que previa a realização de estudos sobre os imigrantes em São Paulo, com o intuito de orientar políticas de seleção imigratória. Ressalta as opiniões de Menotti Del Picchia e de Oliveira Vianna acerca da agenda de estudos sugerida por Alfredo Ellis Junior, focalizando concepções distintas sobre a questão racial e a imigração nos anos 1920. Ao fim, sugere a divergência de Menotti Del Picchia com Alfredo Ellis Junior e Oliveira Vianna como tradução de uma disputa entre literatos e cientistas pela legitimação de seus respectivos conhecimentos sobre a realidade brasileira e pela proposição de políticas para o país.

fundamentação científica da proposta de seleção imigratória de Azevedo Amaral e as divergências sobre racismo entre mendelianos no Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia

“…Mesmo fora do âmbito científico, ainda na década de 1920, alguns deputados propuseram na Câmara Federal projetos de lei que buscavam proibir a entrada de imigrantes negros e amarelos no país. Nesse sentido, tal década foi marcada por constantes discordâncias entre lideranças intelectuais, representadas nas figuras de literatos, políticos e cientistas, sobre as políticas de seleção imigratória 42 .…”

>i<Preciosa>/i<: a trajetória de uma trancista angolana em São Paulo e a racialização dos processos migratórios

“…Saber de casos de racismo no ambiente de trabalho era algo que eu já havia escutado de várias outras pessoas negras brasileiras e há uma produção acadêmica vasta sobre a temática. Há também uma vasta literatura sobre a inserção laboral de imigrantes no Brasil, principalmente pensando mulheres e o trabalho doméstico ou ligado à esfera do cuidado, mulheres haitianas e bolivianas (GUIMARÃES & HIRATA & SUGITA 2011;KERGOAT 2010;HANDERSON & JOSEPH 2015;REZERA 2012;RIBEIRO 2016). Mas ao pensar em pessoas imigrantes, a primeira violência que me passava pela cabeça, ainda no início da pesquisa, era a xenofobia.…”

“…Ainda segundo Deivison Faustino e Leila Maria Oliveira (2021), os únicos trabalhos brasileiros encontrados que versam sobre essa temática são sobre as situações trabalhistas das migrantes bolivianas em São Paulo capital (Ribeiro, 2016); a seletividade na admissão e inadmissão de estrangeiros no controle migratório no Aeroporto de Guarulhos (Alves, 2019); e sobre os conflitos surgidos a partir da presença de crianças imigrantes ou filhas de imigrantes na escola (Oliveira, 2019) Mas a contribuição mais interessante sobre a temática, ao meu ver, é a problematização que os autores realizam ao questionar se o conceito britânico de xeno-racism seria adequado para pensar o nosso contexto nacional, com as peculiaridades da formação social brasileira e as situações de racismo sofrido por imigrantes no Brasil. Em um país com um histórico e uma construção social e racial pautada no colonialismo mercantilista e na escravização racializada, como na breve contextualização que apresentei sobre as políticas de imigração na formação do país enquanto estado-nação, é possível afirmar, portanto, que "no Brasil a relação oficial com o xeno, especialmente de origem europeia no período de transição do trabalho escravo para o livre, foi mais de filia, do que de fobia" (FAUSTINO;OLIVEIRA, 2021) e a fobia então era direcionada a um tipo muito específico de imigrante que é considerado ameaça à ordem estabelecida não só após o período de escravização, mas inclusive até os dias atuais.…”