Eugenia e Fundação Rockefeller no Brasil: a saúde como proposta de regeneração nacional

Abstract

Nas primeiras décadas do século XX, a Fundação Rockefeller atuou de modo decisivo na implementação de ações voltadas para a saúde pública no Brasil, especialmente naquilo denominado de movimento sanitarista. Nesse mesmo período, a eugenia brasileira era equivalente ao sanitarismo, onde defendia-se a máxima de que "sanear era eugenizar". Vários trabalhos discutem o movimento sanitário, a questão da saúde pública no Brasil, a Fundação Rockefeller, a eugenia e seus ativistas. Entretanto, é escassa a discussão a respeito da Rockefeller e o movimento eugenista brasileiro. É necessário alertar que embora nos deparemos com questões ligadas à raça, teorias sobre genética ou evolução, este trabalho não tem como objetivo analisar tais assuntos com profundidade. O que buscamos construir foi o cenário no qual a eugenia de maneira geral, e a brasileira, especificamente, se desenrolou trazendo à tona as posturas de alguns eugenistas brasileiros.

Medicina, saúde e educação: o discurso médico-eugênico nas teses doutorais da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo entre 1920 e 1939

“…Nas duas primeiras décadas do século XX, a eugenia brasileira apresentou características particularesdiferenciando-se das práticas norteamericanas e alemãscomo sua inclinação neolamarckista que influenciou a crença de que as condições do meio ambiente estariam relacionadas diretamente com a condição do povo brasileiro. Além disso, havia uma tentativa de instalar soluções que atendessem às peculiaridades do país, bem como a defesa do ideal de regeneração da raça brasileira (Kobayashi et al, 2009). Segundo Mota (2012b):…”

“…América Latinacom apoio de Arnaldo Vieira de Carvalho como presidente, porém, com sua morte, a instituição foi extinta em 1920 (Stepan, 2005;Kobayashi et al, 2009;Gualtieri, 2012;Prior, 2013). (Santos, 1985;Black, 2003;Kobayashi et al, 2009;Santos e Faria, 2010).…”

“…A Fundação Rockefeller chegou ao Brasil no momento em que a classe médica brasileira iniciava a discussão sobre a necessidade de saneamento dos sertões. O papel da Fundação não se deu como imposição do que já vinha sendo implementado em outros países, mas sim por meio de negociações com o governo brasileiro, como parte de um acordo de cooperação internacional de incentivo à ciência em escala mundial, inserindose em uma realidade particular e envolvendo-se em um movimento que já vinha se consolidando no país, tanto em relação ao sanitarismo quanto à eugenia (Kobayashi et al, 2009;Marinho e Mota, 2012;Bertucci, 2013 (Schwarcz, 1993;.…”

Políticas e práticas de saúde: experiências e narrativas na atenção básica

“…O saneamento dedicou-se mais largamente ao serviço do projeto de nação em curso (Luz, 1982;Schwarcz, 1993;Mota, 2003;Kobayashi et al, 2009;Ferla, 2009;Miskolci, 2012;Koifman, 2012), cumprindo os quesitos de ciência positivista, foi incorporada por nossa elite ilustrada que se propunha a sanear os corpos, os grupos, a moral desviante, os modos de existir. "Nascia, assim, o sonho do Brasil como construção futura, desejo hostil ao seu passado [...] e também hostil à sua população, recusada e temida como parte do que se queria superar" (Miskolci, 2012, p. 21).…”

“…O interesse pelos sertões, pelas intervenções urbanísticas é o desejo de sanear a nação (Mota, 2003;Stepan, 2004;Kobayashi et al, 2009), em que sanitarismo e intervenção corretiva e planejada da sociedade fabricariam uma altiva (e branca) raça, em dois ou três séculos, segundo…”