Encontros e desencontros entre a saúde do homem, a promoção da paternidade participativa e a saúde sexual e reprodutiva na atenção básica

Abstract

Resumo Neste artigo, objetivamos problematizar três ações desenvolvidas em unidades básicas de saúde de três municípios de regiões brasileiras distintas, voltadas para a saúde do homem, a promoção da paternidade participativa comprometida com o cuidado e a saúde sexual e reprodutiva. Trata-se de uma pesquisa qualitativa em que os dados foram construídos através de observações e de entrevistas com 17 homens, usuários do sistema de saúde e envolvidos nessas ações. Na análise dos dados, foram trazidos de forma especial os conceitos de gênero, masculinidades e integralidade; como metodologia de análise, lançamos mão da perspectiva hermenêutica-dialética. Dentre outros aspectos, concluímos que os homens percebem que as questões de gênero ainda são impeditivos para essa inserção, assim como a organização do próprio sistema; e que as ações analisadas se organizam de forma estanque e fragmentada, atuando sobre aspectos isolados da saúde masculina, não contemplando o princípio da integralidade e dificultando a promoção do vínculo desses homens ao sistema pela atenção primária.

Parental Involvement in the Puerperal Pregnancy Cycle: Experiences and Feelings

“…In addition, the active presence of man was considered when the subject felt part of the process and exercised his role of companion and father. 2 A study 15 that had as objective to problematize three actions developed in basic health units of three municipalities of different Brazilian regions, focused on human health, the promotion of participative paternity and sexual and reproductive health. This is a qualitative research, by observations and interviews with 17 men, users of the health system and involved in these actions.…”

Articulating Gender and Health: Professional Qualification Within the Scope of Rede Cegonha

“…Observa-se, entretanto, que atitudes apoiadas em concepções estereotipadas sobre os homens contribuem para afastá-los do processo assistencial. 25,26 Ainda que pressuponha o protagonismo da mulher no âmbito da assistência, a Rede Cegonha não está livre de censuras ou controvérsias. Cabe destacar as críticas de movimentos feministas que a enxergam como um retrocesso no que se refere à atenção integral à saúde das mulheres, ao reduzi-las a sua função reprodutiva, pois ao tomar como ponto inicial de intervenção a gestação já estabelecida, não são questionadas as condições em que esta ocorreu nem as expectativas de sua evolução.…”

“…44 Além disso, sobre a inclusão dos homens/pais na Atenção Básica a partir da paternidade, nada foi dito, o que pode significar desconhecimento ou discriminações de gênero. 26 Alguns profissionais relataram, inclusive, que em seus municípios ainda se mantém a proibição da presença dos homens durante o parto, o que fere a Lei 11.108/2005, 23 que garante o direito da parturiente ter um/a acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Todos são exemplos da íntima relação entre concepções de gênero e masculinidades da equipe de saúde e suas práticas de cuidado e assistência, que precisam ser problematizadas e/ou superadas de forma a garantir níveis assistenciais satisfatórios conforme preconizado pela Rede Cegonha.…”

“…Tais iniciativas são permeadas pela cultura de gênero, que, por vezes, limita os profissionais de saúde, e os próprios homens, a se compreenderem como sujeitos de direito em saúde. 26 …”

Sou homem e pai sim! (Re)construindo a identidade masculina a partir da participação no parto

“…No Brasil, por exemplo, a construção da masculinidade predominante não estimula os homens para o cuidado de si ou do outro (4, 5). Esse modelo cultural coloca homens e mulheres em situação de vulnerabilidade sob diferentes perspectivas (6): seja pela vacância nas unidades de atenção primária à saúde (APS) (5), seja pela busca tardia de serviços de saúde, já em estado avançado de adoecimento (7), o fato é que as políticas públicas voltadas para homens esbarram em questões culturais na implementação (8).…”