RESUMO Objetivo. Compreender como as experiências de participação ativa do homem no pré-natal e no parto influenciam a ressignificação das identidades masculinas. Métodos. Estudo de abordagem qualitativa, com análise antropológica interpretativa e suporte etnográfico para descrição densa. Foram incluídos no estudo nove homens que estiveram em um hospital de referência em parto humanizado e participaram do parto de seus filhos no período de abril de 2015 a novembro de 2016. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, de cunho etnográfico, com roteiro flexível elaborado de acordo com as seguintes temáticas: participação ativa no processo do parto, sensações de acompanhar a mãe da criança desde a gestação e significado de ser pai após participar do parto. Os participantes discorreram sobre os tópicos de forma espontânea. As narrativas foram transcritas e analisadas na forma de categorias e interpretação semântica contextualizada. Resultados. Foram realizados, em média, oito encontros com cada participante. A análise das entrevistas revelou duas categorias temáticas: ressignificação das masculinidades e promoção do autocuidado. As falas caracterizaram o impacto da compreensão de que a masculinidade não se perde se houver uma participação do homem no parto e cuidado dos filhos. Além disso, mostraram que a experiência de participar do parto abriu uma possibilidade de aproximação do homem aos sistemas de saúde para a manutenção do bem-estar, ao invés de necessariamente para o tratamento da doença. Conclusão. Os homens revelaram que podem ser conscientes do autocuidado e empoderados na condução de sua família, garantindo a construção de uma nova identidade masculina na sociedade contemporânea.
No Nordeste brasileiro, a morte por fogo é uma ameaça onipresente e banalizada entre mulheres empobrecidas. Este estudo antropológico descreve a experiência do sofrimento de ser queimada. Em 2009, foram investigados seis casos “ricos em informação” no Centro de Queimados, Fortaleza, Ceará, Brasil. Entrevistas etnográficas abertas com informantes-chave, narrativas de experiências vividas e observação participante na clínica e no domicílio foram realizadas. Utilizamos os métodos Análise de Conteúdo, Sistemas de Signos, Significados e Ações e Interpretação Semântica Contextualizada. Revelou-se que as metáforas emergentes são carregadas de significância cultural da “monstruosidade” e da violência de gênero pelo fogo – inscrita impiedosamente no corpo feminino. O “acidente por combustível” (álcool) esconde a cruel realidade de “carne crua e torrada”. A cicatriz é capaz de desfigurá-las em “não-pessoas”, maculando sua reputação moral e gerando a rejeição social. No Nordeste brasileiro, a vulnerabilidade social provocada pela sequela da queimadura exige uma política de humanização do cuidado.
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