Abstract:Resumo Este artigo pretende adensar a reflexão acerca das possibilidades de trocas econômicas e simbólicas que se desdobram da relativa democratização do acesso aos meios digitais, sobretudo, entre as populações jovens e habitantes de áreas socialmente marcadas por processos de precarização nas metrópoles globais. Para tal, tomamos como ponto de partida a análise do modo pelo qual dois coletivos derappers e realizadores audiovisuais vinculados a regiões periféricas de Lisboa e São Paulo se utilizam de uma vari… Show more
“…Antes menosprezado pelas editoras, rádios e outros meios de comunicação hegemônicos, o rap crioulo atualmente é um dos estilos musicais mais dinâmicos da juventude portuguesa, mobilizando artistas e uma legião de fãs que se utilizam das novas tecnologias de produção e divulgação para se fazerem visíveis (Campos & Simões, 2011;Aderaldo & Raposo, 2016). De fato, o rap crioulo tem conseguido romper com o bloqueio da indústria cultural, conquistando novos espaços sonoros na internet, em rádios comerciais e no espaço público 29 .…”
Section: Circuitos Digitais No Rap Crioulounclassified
“…As novas tecnologias e redes digitais cumprem um papel decisivo nesse processo, ao propiciar novos modos de legitimação do consumo e do gosto estético (Marcon, Sedano & Raposo, 2018). O aparecimento de estúdios caseiros e a posse de dispositivos digitais -samplers, computadores pessoais, softwares de composição musical, websites ou serviços streaming 30 -são exemplares da maior horizontalidade nas dinâmicas de produção musical (Aderaldo & Raposo, 2016), redimensionando a importância do rap crioulo na cena artística portuguesa. Inserido num circuito independente e underground que atua à margem das editoras, o rap crioulo passou a ter muitas canções com impacto nas redes digitais.…”
Section: Circuitos Digitais No Rap Crioulounclassified
“…Esta questão tem alimentado uma nova linha de pesquisa que revela o impacto que as mídia digitais têm tido num conjunto de culturas urbanas e juvenis de natureza mais alternativa ou amadora (Hodkinson, 2004;Woods, 2020;Campos, 2020). O fato é que esses canais abriram novas oportunidades não apenas para a produção musical e videográfica, mas essencialmente para a sua difusão, alargando os circuitos geográficos de consumo deste gênero musical que marca uma presença relevante na esfera pública digital (Yúdice, 2007;Aderaldo & Raposo, 2016;Marcon, Sedano & Raposo, 2018).…”
Resumo Ao longo de décadas, o rap tem sido central na construção de um discurso antirracista em Portugal. Com músicas a denunciar a violência policial, a exclusão social, o legado colonial e o racismo, os rappers negros das periferias de Lisboa desempenham um papel de vanguarda na luta contra a opressão racial, particularmente aqueles que cantam em crioulo cabo-verdiano. Apoiados por dispositivos e redes digitais, estes jovens constroem circuitos de sociabilidade e de produção musical impulsionadores de uma estética insurgente capaz de desafiar o estatuto de subalternidade que lhes é imposto. O presente trabalho debruça-se sobre a importância do rap na exposição do problema do racismo na sociedade portuguesa. Recorrendo a diferentes pesquisas de natureza qualitativa, analisamos os estilos de vida, as letras de música, o acesso às redes digitais e os engajamentos dos rappers no movimento antirracista.
“…Antes menosprezado pelas editoras, rádios e outros meios de comunicação hegemônicos, o rap crioulo atualmente é um dos estilos musicais mais dinâmicos da juventude portuguesa, mobilizando artistas e uma legião de fãs que se utilizam das novas tecnologias de produção e divulgação para se fazerem visíveis (Campos & Simões, 2011;Aderaldo & Raposo, 2016). De fato, o rap crioulo tem conseguido romper com o bloqueio da indústria cultural, conquistando novos espaços sonoros na internet, em rádios comerciais e no espaço público 29 .…”
Section: Circuitos Digitais No Rap Crioulounclassified
“…As novas tecnologias e redes digitais cumprem um papel decisivo nesse processo, ao propiciar novos modos de legitimação do consumo e do gosto estético (Marcon, Sedano & Raposo, 2018). O aparecimento de estúdios caseiros e a posse de dispositivos digitais -samplers, computadores pessoais, softwares de composição musical, websites ou serviços streaming 30 -são exemplares da maior horizontalidade nas dinâmicas de produção musical (Aderaldo & Raposo, 2016), redimensionando a importância do rap crioulo na cena artística portuguesa. Inserido num circuito independente e underground que atua à margem das editoras, o rap crioulo passou a ter muitas canções com impacto nas redes digitais.…”
Section: Circuitos Digitais No Rap Crioulounclassified
“…Esta questão tem alimentado uma nova linha de pesquisa que revela o impacto que as mídia digitais têm tido num conjunto de culturas urbanas e juvenis de natureza mais alternativa ou amadora (Hodkinson, 2004;Woods, 2020;Campos, 2020). O fato é que esses canais abriram novas oportunidades não apenas para a produção musical e videográfica, mas essencialmente para a sua difusão, alargando os circuitos geográficos de consumo deste gênero musical que marca uma presença relevante na esfera pública digital (Yúdice, 2007;Aderaldo & Raposo, 2016;Marcon, Sedano & Raposo, 2018).…”
Resumo Ao longo de décadas, o rap tem sido central na construção de um discurso antirracista em Portugal. Com músicas a denunciar a violência policial, a exclusão social, o legado colonial e o racismo, os rappers negros das periferias de Lisboa desempenham um papel de vanguarda na luta contra a opressão racial, particularmente aqueles que cantam em crioulo cabo-verdiano. Apoiados por dispositivos e redes digitais, estes jovens constroem circuitos de sociabilidade e de produção musical impulsionadores de uma estética insurgente capaz de desafiar o estatuto de subalternidade que lhes é imposto. O presente trabalho debruça-se sobre a importância do rap na exposição do problema do racismo na sociedade portuguesa. Recorrendo a diferentes pesquisas de natureza qualitativa, analisamos os estilos de vida, as letras de música, o acesso às redes digitais e os engajamentos dos rappers no movimento antirracista.
“…In 1978, the neighborhood created a first Commission of Dwellers, while basic services such as electricity and public water were made available (Godinho, 2010). A shared yet heterogeneous African identity with a strong Cape Verdean influence is also configured then, developing what Aderaldo and Raposo (2016: 282) called, with the similar case of Arrentela in mind, a transnational “periphery.” 10 Far from being homogeneous, then, the history of the neighborhood is shaped by the exchange of ideas and hybrid cultural values, as well as for the development of a sense of belonging. From this perspective, if it is true that the Cova da Moura and Quinta do Mocho exemplify the contradictions of “Afro Lisboa,” at the same time that they challenge the pessimistic belief on the lack of alternatives to the neoliberal commodification of difference behind the transformation of Lisbon into a creative capital (See Figures 1 and 2).…”
Section: The Making and Unmaking Of “Afro Lisboa”mentioning
This article analyzes recent audio-visual creativity by young Afrodescendants emerging out of the outskirts of Lisbon. We argue that those cultural productions are challenging unproblematic identifications of the Portuguese capital as a multicultural city shaped by African communities. Responding to issues of racism, police violence, and urban marginalization, but also to celebratory views of Portuguese society as exempt of racial discrimination, the communities inhabiting the neighborhoods of Cova da Moura and Quinta do Mocho are employing creative means to develop a positive identification of afro-diasporic communities. Engaging those means, this article places bottom-up creativity side by side to the activity of Lisbon cultural institutions such as museums and contemporary art centers. It also addresses the relevance of visual and musical creativity to counter the stereotypes and images frequently used to categorize racialized subjects and communities in Portugal. Finally, it explores the strategies employed by the residents of the above mentioned neighborhoods to struggle against the process of cultural gentrification Lisbon is going through.
“…Os estúdios informais têm um papel importante para a comunidade artística imigrante, principalmente na última década, quando a popularização do acesso às novas tecnologias expandiu as possibilidades de gravação e difusão musical (Aderaldo e Raposo, 2016;Yúdice, 2007). Tais estúdios são muito comuns nos bairros visitados, sendo lugares onde se misturam artistas de diferentes musicalidades e idades.…”
As fronteiras geracionais são habitualmente apontadas como fatores de diferenciação social no que toca às práticas e construções de determinados géneros musicais e estilos de vida associados. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada no bairro da Cova da Moura e noutros lugares do circuito musical africano da Amadora, protagonizado por imigrantes cabo-verdianos, concluímos que as sociabilidades e as trocas culturais entre artistas de várias gerações, muitas vezes estabelecidas a propósito da partilha de saberes relacionados com os usos das novas tecnologias, por um lado, e com a aprendizagem de instrumentos musicais, por outro, adquirem uma importância ímpar na construção das identidades sociais. Deste modo, salienta-se a centralidade da música nas trajetórias migrantes que se cruzam em vários espaços da Amadora.
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