Maciel, 2360 -7º andar. Belo Horizonte, MG, 30180-112, Brasil. A APRESENTAÇÃO, UMA DEFESA DE PROPÓSITOS Quando apresento uma abordagem histórica das representações de saúde e doença, é necessário que aponte meu ponto de vista. Devo localizar no espaço do conhecimento o lugar de onde parte meu olhar. Desta localização depende o que podemos visualizar.Inicialmente, quero contar o que li há pouco num artigo de Everardo Duarte Nunes (1992). Trata-se de uma citação de uma autora norte-americana (Fox, 1985) sobre os quarentões como eu, quando, "na plenitude de sua melancolia", não se tornam cinqüentões, mas, sob a ameaça do crescimento desta melancolia na década seguinte, voltam-se para trás e tornamse historiadores. Não sou um historiador de ofício e talvez a constatação anterior justifique a pretensão deste ensaio. Qual seja a de consultar o passado para melhor sentir as inquietações do presente.Ao trafegar numa ambientação histórica, onde as representações sociais envolvem a saúde e a doença, faço-o através de projetos e propostas mais recentes, ligadas a uma conformação determinada da Ciência da História. Refiro-me, então, à ordem simbólica, que é o que dá vida à realidade, pois é onde se movimentam os corpos e as imagens, onde se expressam as ambigüidades humanas, os pensamentos, sensações, ações e atitudes que refletem as representações coletivas. Neste contexto, utilizo alguns conceitos e noções que desejo comentar. Vale dizer ainda que, ao identificar a história como um saber interpretativo da memória coletiva (Birman, 1991) e compor minha exposição com aportes da chamada história nova dos Annales, o recurso ao emprego de noções, enquanto elementos mais imprecisos e mais abertos que os conceitos (Minayo, 1992), é necessário.Vem da história nova da escola dos Annales, nascida a partir da fundação da revista Annales D'Histoire Économique et Sociale por Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929, a perspectiva alternativa da "longa duração" para o tempo histórico. Fernand Braudel, o grande historiador da segunda fase dos Annales das décadas de 1950 e 60, atribuía ao tempo longo uma consistência maior do que ao tempo curto da tradicional história dos acontecimentos. Uma postulação que, posteriormente, opôs também uma história cultural ao fôlego curto de uma história