Pouco se conhece sobre a experiência dos homens, mulheres e crianças das diferentes etnias africanas que colonizaram o Brasil por mais de 300 anos. Apesar do reconhecimento de genéricas "heranças africanas" na mestiçagem cultural brasileira, a imagem dos africanos de primeira geração se diluiu rapidamente na memória popular ao longo do século XX, depois que a lembrança de sua presença viva morreu com aqueles que tinham conhecido os últimos africanos sobreviventes, trazidos ainda crianças nos últimos anos do tráfico de escravos. Hoje, renovado interesse por parte dos descendentes de africanos nas Américas e inédita colaboração entre africanistas e especialistas nas populações negras nas Américas e em outros continentes apontam para uma "redescoberta" da África espalhada pelo mundo. O Brasil, tendo recebido aproximadamente um terço de todos os escravos trazidos para as Américas durante os três séculos de duração do tráfico atlântico, é terreno importante desta busca.
1Com efeito, nos últimos dez anos, a colaboração entre historiadores sediados em diferentes regiões deu força às investigações detalhadas sobre as relações comerciais das regiões africanas com outros continentes, sobre o volume, direção e funcionamento do tráfico de escravos através do Atlân-tico e na direção do Mediterrâneo, e especialmente sobre a experiência das pessoas envolvidas nestes intercâmbios comerciais e culturais, com foco especial, naturalmente, sobre as pessoas escravizadas levadas como mercadoria para outras partes do mundo. A experiência dos africanos na diáspora é o objeto central e unificador dos interesses dispersos e multidisciplinares engajados nesta ampla investigação.2 Envolvendo metodologias diversas, das pesquisas demográficas quantitativas à microhistórica reconstituição de trajetórias de vida, este campo de estudos já tem algumas questões e achados comuns. Tem também muitas lacunas. Este trabalho pretende discutir o caminho percorrido e as perspectivas da história da diáspora afri-