O presente ensaio teórico discute a natureza das relações entre países no sistema internacional e suas respectivas implicações para a gestão de programas e projetos no campo da cooperação internacional para o desenvolvimento (CID), à luz dos postulados e princípios da gestão social. Parte-se do postulado que as ações de CID implicam processos de gestão e são influenciadas pela representação que o país doador faz do desenvolvimento, assim como pelas motivações que o levam a cooperar. A ciência da administração e, em particular a gestão social, tem muito a aportar para a compreensão dos resultados e revisão das práticas de gestão que acompanham as ações realizadas no campo da CID. A prática de impor e sobrevalorizar "saberes técnicos", em detrimento dos "saberes locais", técnicos e não técnicos, considerados inferiores, tem induzido a resultados desastrosos em termos políticos, econômicos e sociais.
INTRODUÇÃOO presente ensaio teórico discute a natureza das relações entre países no sistema internacional e suas respectivas implicações para a gestão de programas e projetos no campo da cooperação internacional para o desenvolvimento. Parte-se do postulado que as ações de cooperação internacional implicam processos de gestão e são influenciadas pela representação que o país doador faz do desenvolvimento, assim como pelas motivações que o levam a cooperar.Uma primeira aproximação permite descrever o campo da cooperação internacional para o desenvolvimento como um espaço de disputas entre os Estados, que, no período pós Guerra Fria, têm buscado consolidar sua posição política via o emprego de poder simbólico. A ciência da administração e, em particular, a gestão social, tem muito a aportar para a compreensão dos resultados das ações realizadas sob a lógica supra referida, uma vez que se dedica a estudar e a compreender as relações de poder.No tradicional modelo de cooperação internacional Norte-Sul, para a aplicação dos programas e projetos nos países receptores, cria-se uma interface de atuação entre os operadores do desenvolvimento, provenientes de países centrais, e as populações-alvo, oriundas de países semiperiféricos e periféricos. Nesse âmbito, instauram-se tentativas de transferên-cia de "saber-fazer", processo através do qual conjuntos de saberes, técnicos (oriundos de um sistema de saberes técnico-científicos cosmopolita e de origem ocidental) e populares (técnicos e não técnicos) (Sardan, 1995), com suas respectivas significações, geralmente, entram em confronto.É por meio da imposição dos saberes científicos, tomados como verdade absoluta, que os países centrais exercem sua dominação sobre os países periféricos, sob a justificativa de cooperar para o desenvolvimento destes países. Todavia, com o avanço da globalização e o reordenamento do sistema internacional, os países semiperiféricos e periféricos, com