ResumoEste artigo procura apresentar e discutir sobre as práticas de governamento dadas às crianças pobres e negras no início do século XX tendo como referência analítica Michel Foucault. Observa-se que as crianças pobres e negras tornaram-se o foco central dessas práticas uma vez que enunciadas e visibilizadas como perigosas e em perigo, vulneráveis e sujeitas a condições precárias de vida e de sobrevivência, de maneira tal a serem postas como um problema social a ser gerido pela e para a população. As práticas de governamento agiram no sentido de promover a retirada dessas crianças das ruas e o exercício sobre elas de uma intensa ação educativa de bases higienistas e eugenistas. O efeito dessas práticas foi o controle sistemático de suas vidas. Mais do que estarem em perigo, essas crianças traziam em si mesmas a própria ideia de perigo, pois ameaçavam um projeto político de constituição da nação brasileira. A criança pobre e negra, portanto, no início do século XX foi visibilizada e enunciada como a criança que precisava de proteção e de "tratamento", como a criança vítima de uma condição precária de vida, vulnerável e sem estrutura familiar e que por estas razões tornava-se perigosa ao projeto de constituição da nação brasileira. As práticas de governamento consistiam em desenvolver ações políticas que envolvesse diferentes 1 Este artigo é um recorte da tese de doutorado "A pedagogização do sexo da criança: do corpo ao dispositivo da infância" (2012) defendida junto ao Programa