ResumoUm palco com dez cadeiras vermelhas postas em semicírculo no centro.Um homem e uma mulher sentados em frente aos seus respectivos computadores, no canto direito do palco. A mulher apresenta o espetáculo -um trabalho da companhia Theater HORA 1 , dirigida pelo bailarino, performer e diretor francês Jérôme Bel -, discorre brevemente sobre o processo de criação e anuncia o modo como o espetáculo transcorrerá: uma sequência de tarefas-ações propostas por Bel e performadas pelos atores. Do início ao fim, o espetáculo obedece à mesma estratégia: a mulher sentada na lateral da cena apresenta as tarefas-ações e, em seguida, os atores as realizam sob o olhar atento dos espectadores. As tarefas são simples: olhar a plateia por um minuto; falar seu nome, idade e profissão; descrever a sua deficiência; fazer uma dança; falar como se sente ao fazer esse trabalho. A espetacularidade No caso de Disabled Theater, Bel dá protagonismo a sujeitos fora do padrão, do que é considerado normal, sem os ficcionalizar ou ocultar suas 2 A bailarina Véronique Doisneau atua tanto como solista quanto no corpo de ballet da Ópera de Paris, mas nunca chegou a ser a estrela da companhia. Jérôme Bel colocou em evidência partes de cenas de alguns espetáculos nos quais a artista atuou. Bel oferece o protagonismo àquilo que sempre esteve em segundo plano. 3 Cédric Andrieux, que dá nome à obra, é um bailarino cujo corpo foi muitas vezes considerado inadequado para certos tipos de dança. O artista atuou por oito anos na companhia de Merce Cunningham.
150Revista sala preta | Vol. Neste contexto de recepção, existiria um gozo particular em sentir-se testemunha de algo real, no pensar-se convidado a observar o que seria proibido, isto é, alguns elementos da vida íntima do performer. Para além de algum escândalo que uma cena do real possa apresentar, a oferta mais tentadora dessa cena é a verdade, ou melhor, a intimidade como matéria que reposiciona o espectador como partícipe de uma experiên-cia. A testemunha é aquele sujeito que se apodera da experiência do outro, pois ao presenciá-la se faz responsável da mesma, estando comprometido na experiência inicialmente alheia. (CARREIRA, 2011, p. 340) A estética que Bel apresenta não pode ser descolada da ética que propõe. Sob a perspectiva estética, suas escolhas são minimalistas:pequenas ações, proposições simples, narrativas econômicas. As escolhas estéticas, ainda que absolutamente rígidas em termos de estrutura -e