Capital espiritual e as relações econômicas: empreendedorismo em organizações religiosas

Abstract

Este artigo busca evidenciar como as organizações religiosas podem ser geradoras de capital social, na medida em que estabelecem relações sociais que beneficiam a ação de seus membros-empreendedores. Neste sentido, a participação nesses espaços pode ser interpretada como uma nova fonte de capital social ou, mais especificamente, de capital espiritual. A hipótese central é de que importantes recursos geradores de capital social (COLEMAN, 1988) - tais como obrigações e expectativas, canais de informação, normas ou sanções, fortalecimento de laços sociais e organização social -podem ser acionados pela prática religiosa. Para explorar essa hipótese, a estratégia de pesquisa adotada foi o estudo de caso qualitativo e comparativo de duas organizações religiosas brasileiras: uma evangélica (Igreja Renascer em Cristo) e outra católica (Movimento dos Focolares). Os dados foram coletados por meio de observação, entrevistas e pesquisa documental. Constatamos que, de modo geral, as estruturas religiosas das organizações investigadas formam um tipo especial de capital social, denominado capital espiritual (porque de origem religiosa) - por meio de "fechamento" de redes sociais, organização social apropriada, obrigações e normas, canais de informações, estruturas de plausibilidade e redes religiosas de ajuda mútua. Evidenciamos características específicas do capital espiritual que não são suficientemente abordadas pelas teorias do capital social, como a formulada por Coleman. Por fim, identificamos diferenças e semelhanças de formação de capital espiritual nas organizações religiosas investigadas, tendo como foco o comportamento do empreendedor-membro.

"Segurando na mão de Deus": organizações religiosas e apoio ao empreendedorismo

“…Para futuras pesquisas, sugerimos o aprofundamento do tema capital social e sua especificidade em organizações religiosas, denominada por alguns pesquisadores "capital espiritual" (BERGER; HEGNER, 2003;WORTHAM;WORTHAM, 2007;SERAFIM;ANDION, 2010), bem como a investigação sobre a formação desse tipo de capital no Brasil e sua ligação com o empreendedorismo. Também entendemos que as três categorias de mecanismos encontradas empiricamente -espaços de informação, formação e motivação -são contribuições importantes ao tema pesquisado, principalmente pela sua evidente relação com as fases do empreendedorismo, podendo mesmo ser consideradas como uma tipologia da gama de serviços de apoio ao empreendedorismo oferecida pelas organizações a seus associados.…”

“…Apesar de alguns estudos mostrarem a importância desse fenô-meno (e.g. SIEPIERSKI, 2003;MARTES;RODRIGUEZ, 2004aRODRIGUEZ, , 2004bPINTO;LEITÃO, 2006;MESQUITA, 2007;SERAFIM;ANDION, 2010), a relação entre empreendedorismo e religião não vem recebendo a atenção necessária por parte da academia brasileira, a julgar pela escassez de trabalhos publicados, que pode ser verificada na bibliografia apresentada ao final deste artigo.…”

A influência das crenças religiosas na intenção empreendedora: uma análise sob a perspectiva da Teoria do Comportamento Planejado

“…Religion is relevant to the study of Entrepreneurship (GRIEBEL, PARK and NEUBERT, 2014;PARBOTEEAH, WALTER and BLOCK, 2015) due to its interaction with social, economic, political and international factors (HOOGENDOORN, RIETVELD and VAN STEL, 2016) and on account of its influence in the sociocultural environment (RIAZ, FARRUKH, REHMAN et al, 2016). Serafim and Andion (2010) emphasize that religious doctrines influence the worldview of the individual. It interferes with the priorities in life, socialization and preferences, especially in the economic scope.…”

From the sacred to the profane: connections between Christian theology and administration

“…Among the research already carried out, some general approaches can be highlighted, based on Tracey (2012) and authors who worked on these subjects. In this sense, there are discussions about the relationship between religious organizations and the context in which they are inserted, reflecting on the effects of religious beliefs and values in the cultural and institutional environment or on the adaptation of religious organizations to a market situation, using contributions such as Field theory, Theory of economic development, Theory of Stakeholders, Theory of social capital and Theory of rational choice, among others (COSGEL and MINKLER, 2004;MARTES and RODRIGUEZ, 2004;PARKER and BAKER, 2007;SERAFIM and ANDION, 2010;OLIVEIRA, CORTES and BALBINOTTO, 2011;SERAFIM, MARTES, and RODRIGUEZ, 2012;SERAFIM and FEUERSCHÜTTE, 2015;ENOQUE, BORGES and BORGES, 2015;CUNHA, SOUZA, MACAU, et al, 2016;BAZANINI and GIGLLIN, 2017;CORRÊA, VALE e CRUZ, 2017;BERNARDELLI and MICHELLON, 2018;PAIVA, SOUSA, LIMA, et al, 2020;SOUSA, PAIVA, SANTOS et al, 2020). Some studies focus on the relationship between religion and individual behavior in organizations, covering ethical behavior, values, and attitudes.…”