Universidade moderna: dos interesses do Estado-nação às conveniências do mercado

Abstract

RESUMOEste texto analisa as transformações pelas quais vem passando a universidade brasileira em relação à configuração institucional, ao financiamento, à gestão e à produção do conhecimento. Primeiramente, dá destaque aos modelos de universidade humboldtiano, napoleônico e norte-americano, de modo que se possa captar o desenvolvimento dessas concepções, sua convergência e materialização na universidade modernizada. Em seguida, desvela que, no decurso dos processos de internacionalização da economia, a ideia de universidade passa a alinhar-se, historicamente, aos desígnios do desenvolvimento econômico por mediação da política científico-tecnológica, sob a orientação de organismos supranacionais e intelectuais orgânicos do capital. Por fim, aponta para a contrarreforma universitária como triplo processo: integração subordinada da educação à política de ciência, tecnologia e inovação; diversificação e hierarquização institucional segundo a oferta e duração dos cursos; e empresariamento da educação. PALAVRAS-CHAVE universidade; contrarreforma universitária; mercantilização da educação.

Universidades tecnológicas: o que induziu esse modelo universitário no Brasil

“…Em 1968, Hobsbawm foi inequívoco ao afirmar que a Revolução Industrial britânica foi a maior transformação da história mundial gravada em documentos escritos. Outros historiadores concordam sobre a magnitude e importância das mudanças nesse período, especialmente na Grã-Bretanha (BERG; HUDSON, 1990;HOBSBAWM, 1999;BIANCHETTI, 2016). A Grã-Bretanha, além de qualquer outra nação, aumentou progressivamente seus poderes de produção, pelo rápido avanço científico, introduzido em quase todas as áreas produtivas (BERG;HUDSON, 1990).…”

“…Com uma concepção liberal, Humboldt planejava uma organização universitária que conciliasse liberdade de ensino com a intervenção estatal. O Estado deveria respeitar a autonomia e a liberdade universitárias, dando centralidade a pesquisa para só então se beneficiar do desenvolvimento da ciência (CUNHA, 1988;BIANCHETTI, 2016). Página | 588 Na visão de Humboldt (1997, p. 79), "as instituições científicas apenas se justificam plenamente quando as ações que as definem convergem para o enriquecimento da cultura moral da Nação".…”

Educação como mercadoria

“…É defendido por Atcon que a autonomia universitária consista basicamente em autonomia financeira, sendo essa considerada Como a liberdade de a universidade selecionar, contratar e demitir pessoal; autoorganizar-se pedagógica, administrativa e financeiramente, com um custo que lhe permita o máximo de rendimento e menor inversão das disponibilidades financeiras dentro do orçamento anual, o que implica obrigação de procurar outras fontes de financiamento, que não o Estado, para suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. (SILVEIRA;BIANCHETTI, 2016, p. 90). E é essa perspectiva de autonomia que foi difundida no decorrer da expansão da universidade brasileira durante a ditadura civil-militar que comandou o país por 21 anos.…”

“…o Programa Universidade para Todos (ProUni), institucionalizado pela lei n. 11.096, de 13 de janeiro de 2005 e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), instituído pelo decreto n. 6.096, de 24 de abril de 2007; o decreto n. 7.423, de 31 de dezembro de 2010, que regulamenta as parcerias entre as universidades federais e as fundações de direito privado, viabilizando a captação de recursos privados para financiar as atividades de pesquisa científica e tecnológica (SILVEIRA;. BIANCHETTI, 2016, p. 15).…”

University–society collaboration in developing countries: Preliminary evidences from Brazil

“…We show that while there are ample studies on the university-industry relations, there is still a lack on the literature about the "developmental" role of the Brazilian universities, at least not in the innovation system perspective. There are however critical studies proposed mainly by "science, technology and society" scholarsthat bring into debate the fragilities of giving more attention to university-industry relations in detriment to the other actors (Dagnino 2015) -and by "educational studies" (Silveira and Bianchetti 2016) In section three we present the methodology used to construct our database. The data was sourced from The National Council for Scientific and Technological Development (CNPq), which is responsible for gathering information about the research groups (Grupos de Pesquisa).…”