Recomendações médicas para a educação da criança-problema: um estudo de manuais de higiene mental, 1939-1947

Abstract

Apresenta os primeiros resultados de uma investigação a respeito das orientações para a educação da criança-problema contidas em compêndios de higiene infantil redigidos por médicos brasileiros. Destinadas às mães e professoras encarregadas da educação das crianças, essas obras procuravam explicar a origem dos problemas de comportamento mais comuns e ofereciam instruções para a superação dessas dificuldades que prejudicavam o desenvolvimento e o ajustamento da criança à família e à escola. A análise preliminar de dois manuais, à luz do referencial teórico de Foucault e outros autores sobre a governamentalidade, indica que os compêndios examinados procuravam, acima de tudo, orientar os adultos a fazer um bom uso do poder na relação com as crianças.

A discreta introdução do behaviorismo no português brasileiro: A tradução de “Psychological Care of Infant and Child” de Watson e Watson

“…O presente artigo tem como objetivo analisar historicamente o surgimento da tradução do Psychological Care of Infant and Child para o português brasileiro. Brasil RBTCC 23 (2021) a rejeição às tradições culturais, com a seleção da ciência como principal referencial (Freire, 2008;Lima 2013).…”

“…Os médicos manifestavam o intuito de enfrentar esse problema por meio do higienismo e da educação às mães (Costa, 1989;Ferreira & Freire, 2005;Freire, 2008). O discurso dos médicos puericultores, que defendiam a higienização da infância, girava em torno da condenação do exercício tradicional da maternidade, defendendo preceitos científicos para a educação das crianças, o que trouxe um modelo inédito de maternidade a ser seguido no país, a "maternidade científica", exigindo uma nova forma de agir da mulher, que esta se tornasse uma "mãe moderna" (Costa, 1989;Freire, 2008Freire, , 2014Lima, 2013).…”

“…Juntamente com o surgimento da "mãe moderna", com a importância dos conhecimentos científicos como aliados na criação dos filhos, veio a rejeição às tradições culturais. Havia um esforço na eliminação de qualquer vestígio do "atraso do passado", da tradição, ou da cultura colonial, ao mesmo tempo em que se buscavam novas formas de agir e pensar baseadas na modernidade (Costa, 1989;Freire, 2008Freire, , 2009Freire, , 2014Lima, 2013). Mães deveriam deixar de lado as crenças e conselhos de comadres e vizinhas, e as práticas das amas de leite (Costa, 1989;Freire, 2006Freire, , 2008Freire, , 2014Lima, 2008;Magalhães, 2011;Pereira, 2006).…”

“…O exposto até então mostra uma similaridade no contexto estadunidense com o contexto brasileiro no momento do recebimento da proposta de educação infantil de Watson. Ambos os contextos sugerem empenho no combate à mortalidade infantil (Freire, 2008;Lima, 2013;Martins, 2008;Vincent, 1951), relacionado com uma preocupação com a saúde física do bebê, principalmente com a alimentação e o uso de amas de leite (Costa, 1989;Freire, 2006Freire, , 2008Freire, , 2014Lima, 2008;Magalhães, 2011;Pereira, 2006;Vincent, 1951). Para diversos autores, a partir desses problemas em relação a criação das crianças, surgiu a necessidade de educar uma populaçãoestudantes de medicina, clínicos e os leitores em geral, principalmente as mães (ou ao menos as mães de famílias ricas) -que deveriam utilizar o conhecimento preconizado pela ciência, relativos aos cuidados infantis (e.g., Costa, 1989;Freire, 2006Freire, , 2008Freire, , 2014Lima, 2008;Magalhães, 2011;Martins, 2008;Pereira, 2006;Vincent, 1951).…”

A representação cultural de um “parto natural”: o ordenamento do corpo grávido em meados do século XX

“…Sabe-se que os médicos, durante o século XX, estavam preocupados em produzir manuais educativos dirigidos para as famílias. Nesse período, os investimentos na saúde e na educação eram percebidos como estratégicos para obter uma população potente e apta para trabalhar 7 , e eliminar os problemas de conduta desde a concepção, o nascimento até a infância era uma preocupação das famílias, das escolas e do governo [7][8][9][10] .…”