Expressões da precarização no trabalho do agente comunitário de saúde: burocratização e estranhamento do trabalho

Abstract

Resumo O artigo analisa expressões da precarização do trabalho dos agentes comunitários de saúde (ACS) relacionando-as com o processo de reestruturação produtiva e de intensificação da precarização social do trabalho. Também é parte de pesquisa de doutorado concluída e fundamenta-se no materialismo histórico dialético. Entre os anos 2013-2017 realizaram-se 20 entrevistas e aplicou-se questionário a 105 dirigentes sindicais e de associações de ACS de todas as regiões do Brasil. A burocratização e o estranhamento do trabalho foram categorias empíricas identificadas; há transformações no processo e na gestão do trabalho dos ACS; intensificação da realização de atividades administrativas em detrimento do tempo para visitas domiciliares; indução do trabalho para coleta de informações; preenchimento de sistemas de informação e metas a serem cumpridas; avaliação sobre quantidade de procedimentos e não da qualidade dos processos. Há tensionamento da relação identitária do ACS em se reconhecer no trabalho que realiza no território. A precarização se expressa nos desiguais vínculos empregatícios, precárias condições de trabalho e sub-remuneração dos ACS, mas também no estranhamento do trabalho agravado por transferências de mediações típicas do trabalho industrial para o de serviços. Isso produz sofrimento para os trabalhadores e desafia sindicatos e associações; assim como impacta no trabalho do ACS junto à equipe e usuários.

Supervisão de agentes comunitários de saúde na Estratégia Saúde da Família: entre controle, apoio e formação

“…As atividades dos agentes, especialmente as visitas domiciliares, que têm o propósito de promover o cuidado das comunidades, passam a constituir uma finalidade em si mesma, com repercussões negativas na qualidade do trabalho. Ao direcionar as práticas a partir do enfoque produtivista, os processos avaliativos reforçam e direcionam o trabalho para o modelo centrado na doença e em ações programáticas ou emergenciais, o que se mostra contraditório com a reorientação atribuída à ESF (MOROSINI;FONSECA, 2018;NOGUEIRA, 2019).…”

Gestão do trabalho de equipes da saúde da família

“…27 Specifically, for the CHA, there is an intensification of administrative activities to the detriment of the time for home visits added to a work proposal for the collection of information Family health work management Gleriano JS, Fabro GCR, Tomaz WB, Forster AC, Chaves LDP and the filling of information systems, resulting in a tension in unequal employment relationships and precarious working conditions with underpaid. 28 Given the limits imposed by economic policy, it is important to remember that there are mechanisms for hiring personnel through Non-Governmental Organizations (NGOs) and Civil Society Organizations of Public Interest (Oscip), whose expenditures are accounted for as "third-party services" and not as "personnel expenses, 29 devices used to circumvent the Fiscal Responsibility Law. This shows the need for a mechanism to create possibilities to increase spending, without being confronted with the law of fiscal responsibility and respecting contracting.…”

How do community health workers institutionalise: An analysis of Brazil’s CHW programme

“…Health Ministry, 2015, p. 40). Increased bureaucratisation of the CHW tasks over the years, with more and more data required, in practice means less time with the communities and performance measures assessing a single indicator (the number of houses visited) (Lotta, 2015;Nogueira, 2019;Saddi et al, 2018). Hence, the evaluation mechanisms redirect CHW practises to quantifiable activities to the detriment of community mobility (Marinho & Bispo Júnior, 2020).…”

“…Many CHWs complain about the burden of record keeping and administration to update the information systems after they have visited the families, and problems with such systems not working properly, demanding rework (Barreto et al, 2018;Jatobá et al, 2020;Lopes et al, 2018;Nogueira, 2019). In recent years, the Federal Government has developed online information systems, but the acquisition of tablets or other gadgets is dependent upon the hiring institutions.…”