1998
DOI: 10.1590/s0103-40141998000200012
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Os discursos sobre as raças e a ciência

Abstract: 157RECRUDESCIMENTO recente de discursos políticos abertamente racistas é um sintoma inquietante da fragilidade de nossas sociedades e um lembrete de que retrocessos são sempre possíveis. Após a mais sinistra experiência que a humanidade conheceu nessa ordem para os tempos modernos, o genocídio programado e realizado pela Alemanha nazista e por seus colaboradores contra os judeus e outros grupos humanos rebaixados à categoria de subhomens, poder-se-ia pensar que pelo menos uma lição do horror tivesse sido retid… Show more

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“…Não é o caso aqui de passar em revista os filósofos, naturalistas e cientistas que se debruçaram na imensa tarefa de "invenção das raças". Para fim de ilustração, basta para os propositivos deste artigo lembrar os nomes de Jean Louis R. Agassiz (1807-1873), Samuel George Morton (1799-1851), autor de "Crania Americana" (1839), Conde de Goubineau (1816-1882), célebre pela obra "Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas" (1858), Houston Stewart Chamberlain , conhecido pelo extremo arianismo e antissemitismo, reconhecido como o "antropólogo do Kaiser" (Guilherme II), que fizeram do racismo um esteio para as políticas nacionalistas, segregacionistas, colonialistas e, no limite, eugênicas e genocidas (DARMON, 1991;SCHWARCZ, 1993;PATY, 1998;GOLD, 1999;MENAND, 2002;BLAK, 2003;STEPAN, 2005;BARBUJANI, 2007;DIWAN, 2007, ALMEIDA, 2018. Para além das diferentes abordagens, o que unia esses teóricos era a ideia da hierarquia entre as raças (superiores e inferiores) e a aversão à miscigenação, considerada fenômeno degenerativo da civilização.…”
Section: Biopolítica E Racismo Estruturalunclassified
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“…Não é o caso aqui de passar em revista os filósofos, naturalistas e cientistas que se debruçaram na imensa tarefa de "invenção das raças". Para fim de ilustração, basta para os propositivos deste artigo lembrar os nomes de Jean Louis R. Agassiz (1807-1873), Samuel George Morton (1799-1851), autor de "Crania Americana" (1839), Conde de Goubineau (1816-1882), célebre pela obra "Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas" (1858), Houston Stewart Chamberlain , conhecido pelo extremo arianismo e antissemitismo, reconhecido como o "antropólogo do Kaiser" (Guilherme II), que fizeram do racismo um esteio para as políticas nacionalistas, segregacionistas, colonialistas e, no limite, eugênicas e genocidas (DARMON, 1991;SCHWARCZ, 1993;PATY, 1998;GOLD, 1999;MENAND, 2002;BLAK, 2003;STEPAN, 2005;BARBUJANI, 2007;DIWAN, 2007, ALMEIDA, 2018. Para além das diferentes abordagens, o que unia esses teóricos era a ideia da hierarquia entre as raças (superiores e inferiores) e a aversão à miscigenação, considerada fenômeno degenerativo da civilização.…”
Section: Biopolítica E Racismo Estruturalunclassified
“…O racismo científico, no entanto, sofreu pesado golpe a partir do final da segunda guerra mundial, sendo desacreditado pela antropologia e pela própria biologia (STRAUSS, [1952(STRAUSS, [ ] 2006BARBUJANI, 2007;PENA, 2008), o que não significa o mesmo que dizer que ele fora dissipado ou mesmo tenha perdido sua potência na construção do imaginário das relações sociais. Essa ideia de refutação das teorias raciais no contexto do pós-Segunda Guerra não deve ser aceita sem reservas, até porque não são poucas as tentativas de restabelecer a raça como categoria científica, o que faz com que seu fantasma continue pairando nas sociedades contemporâneas (PATY, 1998;GUERRA, 2006;BARBUJANI, 2007). Exemplo significativo dessa tentativa de restabelecer a raça como critério científico e político, encontramos no livro dos cientistas políticos norte-americanos Charles Murray e Richard Herrnstein "The Bell Curve: Intelligence and Class Structure in American Life" (1994).…”
Section: Biopolítica E Racismo Estruturalunclassified
“…Grandes utopias e promessas da razão redentora da modernidade se constituíram em poderosas distopias. O eterno retorno de tais pretensões faz soar o alerta que o filósofo Paty (1998) já chamava a atenção quando da ascensão política das ideias racistas nos anos 1990. A fronteira entre utopia e distopia é tênue e constantemente borrada.…”
Section: Antes Que O Crime Aconteça: Implicações éTicasunclassified
“…Há quase 20 anos, o filósofo francês Paty (1998) já alertava sobre os discursos sobre as raças e a ciência: "de novo, a besta imunda ronda por aqui" (p. 157). Se, após a Segunda Guerra Mundial e seus horrores, parecia haver um rompimento com as premissas eugênicas e um retrocesso do pensamento racista, que já não encontrava espaço para se expor explicitamente ou para se justificar teoricamente, nos anos 1990, o autor identifica uma retomada dos discursos sobre as raças e o racismo, na esteira tanto de lutas étnicas como de segregação aos estrangeiros que se deslocavam com cada vez mais velocidade em um mundo globalizado.…”
Section: Introductionunclassified
“…Sem contar as idéias presentes em nossa cultura sobre as características psicológicas, muitas vezes infamantes e estigmatizadoras da composição cultural brasileira: os sírio-libaneses são avaros, os mestiços preguiçosos, os orientais retraídos, mas inteligentes; imagens que parecem transportadas integralmente da ciência do século XIX, para este início de século. De acordo com Paty (1998), "as realidades sociais, os comportamentos e as mentalidades sempre demoram a se transformar. E a erradicação definitiva do pensamento desigualitário, pode-se imaginar, seria uma obra de grande fôlego" (p. 157).…”
Section: A Atualidade Da Polêmicaunclassified