resumo: O artigo pretende desenvolver a categoria de reconstrução, em dois momentos distintos da obra de Habermas: primeiro, em Conhecimento e interesse, e, depois, em Teoria da ação comunicativa. Para isso, recorre-se à tipologia das compreensões de reconstrução proposta por Robin Celikates. Pretende-se mostrar que a essa tipologia faltam elementos importantes que permitem primeiramente identificar pontos comuns entres aqueles projetos reconstrutivos, e, depois, sustentar que a segunda compreensão de reconstrução não implica, como quer Celikates, uma separação entre teoria e crítica. Nesses últimos dez anos, foi possível constatar, na produção intelectual vinculada à Teoria Crítica, uma tendência de unificar as diversas vertentes a partir da noção de reconstrução. A respeito disso, Olivier Voirol (2012, p. 95, 98) fala de uma "virada reconstrutiva" iniciada por Jürgen Habermas e de um "paradigma da reconstrução", na teoria crítica contemporânea. Por sua vez, Piet Strydom (2011, p. 135) considera que o conceito de reconstrução "[...] se tornou central para a autocompreensão metodológica da Teoria Crítica." Essa tendência é reforçada por Axel Honneth (2007), na medida em que ele generaliza a noção de crítica reconstrutiva como base metodológica de toda a Teoria Crítica, ou seja, de Horkheimer até Habermas, incluindo ele próprio. Soma-se a isso a tentativa de Mattias Iser (2008) de desenvolver um modelo próprio de Teoria Crítica, sintetizando os conceitos honnethiano e habermasiano de reconstrução, e, de maneira negativa, também o esforço de Rahel Jaeggi(2008, 2014 de retomar, contra o método reconstrutivo, a ideia de crítica imanente, o que dá testemunho da abrangência cada vez maior daquela categoria metodológica. Por fim, cabe mencionar o trabalho de Robin Celikates (2009, 2012, visando a desenvolver um modelo reconstrutivo de teoria social que dê conta dos princípios da Teoria Crítica, em especial da ideia de crítica como práxis social.