Marxismo, Estudos Organizacionais e a luta contra o irracionalismo

Abstract

IntroduçãoU m dossiê cujo tema envolve a relação entre as diferentes versões do marxismo e os estudos organizacionais é algo a ser destacado. Sobretudo a vanguarda da Organizações & Sociedade em encampar um material desta natureza com o qual a Administração nutre uma hostilidade por vezes declarada. Se o espectro ideológico os separa com força considerável, o mesmo seria possível dizer com relação aos estudos organizacionais?Dada natureza mais eclética e aberta, mesmo indefinida, a resposta necessariamente deveria ser negativa. Isso é ainda mais verdade se considerarmos a multiplicidade de possíveis relações entre eles. Temos acompanhado, porém, uma luta intestina de correntes teóricas, por assim dizer, formadas por diferentes inclinações (entre as quais situamos as versões do marxismo) e as correntes dominantes, com frequência demarcadas como mainstream. Se essa luta contra o caráter manipulativo das expressões teóricas mais atinentes aos interesses dominantes já acumula alguma história e muitas páginas, existe outra que se desenvolve de modo um pouco mais silencioso. Trata-se da luta contra o delírio contemporâneo: as formas variadas do irracionalismo.Dito de outro modo, o desenvolvimento dos marxismos nos estudos organizacionais é um tema que merece atenção não tanto pelos vínculos históricos e pelos enlaces de importantes autores no século XX, mas muito mais em razão de resguardar, no interior mesmo desse campo de estudos, o potencial processo autoconstitutivo ao infinito do gênero humano; algo que confronta a dominância das formas teóricas míopes às contradições sociais e, mais importante, a corrosiva invasão das variadas versões do irracionalismo. Este último, que oscila do simbolismo mais solipsista, passando pelo encantamento da tão bradada "morte do homem" e que culmina nos pós-modernismos que se põem "de joelhos para o presente e de costas para o futuro" (CHASIN, 2000, p. 202), cultua o indeterminismo, enquanto constitui a forma mais acabada da justificação dos problemas sociais convertidos em virtudes: a falsidade socialmente necessária.Um exemplo muito claro é o entendimento corrente de que vivemos uma sociedade do consumo e não mais da produção. Nessa formação social do consumo não haveria mais lugar para a luta de classes, mas apenas para lutas localizadas em torno de outras questões que não a exploração do trabalho como categoria econômica decisiva à compreensão do capitalismo. Aliás, "capitalismo" teria ficado para trás em nome de um conceito mais abrangente como pós-modernidade. Um observador mais imparcial teria que reconhecer que nunca houve, em qualquer

Comunicação que constitui e transforma os sujeitos: agir comunicativo em Jürgen Habermas, ação dialógica em Paulo Freire e os estudos organizacionais

“…Despite the relevance of these issues for the field of Organizational Studies, matters such as subject, emancipation, reflection, engagement and criticism are no longer considered central for several perspectives on the field. We support the importance of focusing on the discussion about the formation of the subject, especially when several approaches mention its "death", thereby causing loss of hope in the emancipatory potentials for transformation and change (CUNHA and FERRAZ, 2015), considering that emphasizing the formation of the subject (always relational) also means arguing on behalf of the possibilities of emancipation and critical engagement. It is our argument that, within the field of Organizational Studies, this article may direct the perspectives on teaching-research-extension where several publics co-participate in the possibilities for the formation of reflective subjects.…”

“…Finally, the positions of the two authors are references for what Cunha and Ferraz (2015) call fight against irrationality in the field of Organizational Studies. Freire and Habermas, with their due disagreements, have in common with several Brazilian Organizational Studies the defense of "the infinite potential of the self-constitutive process of human kind" (CUNHA and FERRAZ, 2015, p. 193).…”

The contributions of Clóvis Moura’s interpretation of slavery in Brazil and the possible dialogues with organization studies

“…In this context, Marxist perspectives can play an important role, both by providing a view of human history and the dynamics of capitalist development, and by offering a powerful interdisciplinary approach that unfolds the social core of economic relations (Vidal et al, 2015). The various versions of Marxism, besides being an entry point for the demands of the working class in Organizational Studies, are vehicles for the sustenance of human emancipation as an authentic horizon (Cunha & Ferraz, 2015). In this sense, when Clóvis Moura "blackens Marxism" by employing the perspective of radical praxis, he offers a solution that is not only subjective for the "Black dilemma" but also objective, as the political significance of Black praxis is human emancipation that would occur with the overcoming of bourgeois society (Oliveira, 2011, p. 62).…”

As contribuições da interpretação de Clóvis Moura sobre a escravidão no Brasil e seus possíveis diálogos com os Estudos Organizacionais

“…Nesse contexto, olhares marxistas podem desempenhar um papel importante, tanto por oferecer uma visão da história humana e da dinâmica do desenvolvimento capitalista, como também por disponibilizar uma poderosa abordagem interdisciplinar, desdobrando o núcleo social das relações econômicas (Vidal et al, 2015). As diferentes versões do marxismo, além de porta de entrada para demandas da classe trabalhadora nos Estudos Organizacionais, são veículos de sustentação da emancipação humana como horizonte autêntico (Cunha & Ferraz, 2015). Nesse sentido, quando Clóvis Moura "enegrece o marxismo" valendo-se da perspectiva da práxis radical, oferece uma solução não apenas subjetiva para o "dilema negro", mas também objetiva, pois o significado político da práxis negra é a emancipação humana que ocorreria com a superação da sociedade burguesa (Oliveira, 2011, p. 62).…”