Os Tentáculos da Tarântula: Abjeção e Necropolítica em Operações Policiais a Travestis no Brasil Pós-redemocratização

Abstract

Resumo O artigo tem como proposta central analisar um conjunto de racionalidades que perpassam a configuração dos processos de incriminação-criminalização de travestis. Tomando como acontecimento-chave uma operação policial que teve início em 27 de fevereiro de 1987 na cidade de São Paulo – Operação Tarântula –, almejou-se compreender como a mesma surge enquanto condição de possibilidade de um contexto sociopolítico específico; mas que, para além dele, apontam-se pistas para um modus operandi que produz corpos travestis a partir de uma política da inimizade e da abjeção. Investiga-se linhas de força que compõem a materialidade da operação policial e os processos de subjetivação produzidos – e que se mantêm após mais de três décadas. A partir da análise de diferentes registros percebe-se que o acionamento de pânico moral direcionado a corpos travestis mobiliza circuitos de racionalidades capazes de agregar discursos sobre segurança pública em dinâmicas de seletividade penal advindas de composições necropolíticas. Entendendo as condições que possibilitam as relações entre o Estado penal e as pessoas travestis que ocorriam no momento de redemocratização do Brasil, podemos perceber rastros dos elementos que ainda hoje perpassam tais relações.

Global South Perspectives on Stonewall after 50 Years, Part I—South by South, Trans for Trans

“…By 'process, ' we mean a singular movement led by the desire to freedom and equality. As an example of what we are saying, we can cite the phenomenal form of resistance by Brazilian travestis in the late 1980s, in what was known as Operação Tarântula, as brilliantly narrated by Céu Cavalcanti and co-authors (Cavalcanti, Barbosa, and Bicalho 2018). During that time, there was so much hatred toward travestis in the city, attributing to them the spread of HIV, a stereotype that still persists and against which the trans movement in Brazil is struggling.…”

Violência pós-morte contra travestis de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil

“…This denial made it difficult to link them to their gendered character, as well as eluding responsibility by local government to provide answers to the problem. Here, it is interesting to see how institutions actuate through a normalisation device against recognising the gender of trans people and travestis 37 .…”

Violências no Brasil: que Problemas e Desafios se Colocam à Psicologia?

“…Nos últimos anos, a Psicologia tem tomado cada vez mais o campo das violências como objeto de discussão, intervenção e produção científica. Isso se materializa fortemente pelas questões sociopolíticas do país, especialmente no que se refere às abordagens policiais, ao encarceramento em massa, ao aumento sistemático/ ininterrupto dos homicídios de segmentos infantojuve-nis negros, colocando em discussão políticas de aprisionamento e criminalização (Barros, & Benicio, 2017;Cavalcanti, Barbosa, & Bicalho, 2018;Oliveira, Rezende, & Bicalho, 2018;Pontes, Ferreira, & Bicalho, 2018;Scisleski, Silva, Galeano, Bruno, & Santos, 2016).…”