A questão do não aprendizado na escola vem sendo alvo de inúmeras pesquisas em diversas áreas do conhecimento, e, sobremaneira, na Psicologia. Parte das discussões gira em torno de indicar as origens ou as causas, em que se destaca o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, um problema orgânico, da alçada médica, cuja solução seria a Ritalina. Assim, rapidamente como se constitui o problema, se diagnostica e se resolve. Este artigo propõe uma reflexão acerca do não aprender, analisando de que forma isso é tomado como um problema, sendo a infância, ela mesma, forjada e apreendida sob o escopo da Medicina. Como disparador dessa questão, recorremos a uma abordagem crítica do uso abusivo da Ritalina e ao conceito de biopolítica, que situa a gênese do saber médico no controle das formas de vida, constituindo um saber sobre os modos de viver, de ser criança. Muitas vezes, a Psicologia, como disciplina e campo de saber, incide nessa seara corroborando os processos de medicalização da vida. Propomos uma outra prática, imersa na problemática gênese biopolítica: uma clínica-política, na qual a Psicologia possa reapropriar-se das constituintes cognitivas e coletivas que compõem essa temática.
The consequences of coronavirus in favelas in Rio de Janeiro (Brazil) point to social inequality as a structuring factor in Brazilian society. The contagion spread and multiple death cases reveal the multiplicity of existence ways that cohabit the urban context, indicating that in many of these scenarios, access to decent housing, drinking water, and minimum income is not a reality and recommendations from international health agencies are challenging to implement. Against government technopolitics that drive different forms of death to the poorest, black communities, and slum dwellers, territorial insurgencies indicate other paths for the construction of a dignified life and access to fundamental rights, targeted solidarity practices, territorial political organization and the construction of specific public policies to deal with the effects of the virus which takes into account the particularities and distinct realities of the territory. The experiences of community organization around Crisis Offices in the favelas, led by social organizations and supporting institutions, have guaranteed (i) food and personal hygiene items distribution, (ii) sanitization of alleys, (iii) dissemination of information on the virus, and (iv) political articulation for disputes in defense of life preservation in the favelas, in opposition of genocidal processes carried out by the state power. Such local spaces represent practices of resistance to the death policies undertaken by the state policies, which most are not configured as spaces for collective construction and disregard inequalities and different needs in these territories. That way, community associations are presented as an inflection point, a deviation from the normal course of modulated subjectivities by the social principles and practices of neoliberalism, with the indication that the most efficient way to deal with social crises is through the strengthening of the collective and the popular organizations.
Resumo O artigo tem como proposta central analisar um conjunto de racionalidades que perpassam a configuração dos processos de incriminação-criminalização de travestis. Tomando como acontecimento-chave uma operação policial que teve início em 27 de fevereiro de 1987 na cidade de São Paulo – Operação Tarântula –, almejou-se compreender como a mesma surge enquanto condição de possibilidade de um contexto sociopolítico específico; mas que, para além dele, apontam-se pistas para um modus operandi que produz corpos travestis a partir de uma política da inimizade e da abjeção. Investiga-se linhas de força que compõem a materialidade da operação policial e os processos de subjetivação produzidos – e que se mantêm após mais de três décadas. A partir da análise de diferentes registros percebe-se que o acionamento de pânico moral direcionado a corpos travestis mobiliza circuitos de racionalidades capazes de agregar discursos sobre segurança pública em dinâmicas de seletividade penal advindas de composições necropolíticas. Entendendo as condições que possibilitam as relações entre o Estado penal e as pessoas travestis que ocorriam no momento de redemocratização do Brasil, podemos perceber rastros dos elementos que ainda hoje perpassam tais relações.
O presente artigo objetiva colocar em análise os modos de subjetivação produzidos no Brasil contemporâneo tomando como vetor analítico a questão da insegurança. Utilizaremos o conceito de produção de subjetividade de Guattari e Rolnik, articulando o contexto da insegurança pública, dentro da ordem neoliberal, com as três funções da "subjetividade capitalística" propostas pelos autores: culpabilização, segregação e infantilização. A sensação de insegurança é fortalecida por processos de subjetivação que potencializam a incerteza como principal vetor do controle social e pela repressão a determinados grupos sociais entendidos como "classes perigosas" numa sociedade que busca consolidar o regime democrático.
RESUMOO artigo aborda o ingresso dos "profissionais psi" no campo da segurança pública. Para tal, examina as principais definições de controle social, procurando relacionar a questão da escalada da insegurança com o advento da nova ordem social proposta pelo modelo neoliberal, bem como da reedição de propostas criminológicas positivistas que embasam políticas destinadas a conter o fenômeno da criminalidade. Reúne, ainda, três analisadores; o 'caveirão", os mandados de busca coletivos e os autos de resistências, que condensam uma correlação de forças que fortalece a criminalização da pobreza e a adoção do extermínio como políticas de segurança pública. Com a perspectiva de problematizar o "fazer-psicológico", coloca em análise a construção de "máquinas de guerra" e o desencadear de processos de singularização.Palavras-chave: psicologia; segurança pública; processos de criminalização; produção de subjetividade. ABSTRACTThe article discusses the entry of 'professional psy' in the field of public security. For this study we examine key definitions of social control, seeking to link the escalation of insecurity with the advent of the new social order proposed by the neoliberal model, and the reissue of positivist criminology proposals that support policies designed to curb thephenomenon of crime. It also gathers three analyzers, the 'caveirão', search warrants, and the collective case of resistance, which precipitated a balance of power that strengthens the criminalization of poverty and the adoption of extermination as an official policy of public security. With the prospect of exposing the "makepsychological," puts in question the construction of 'war machines' and the introduction of processes of singularity.Keywords: psychology; public security; criminalization process; production of subjectivity. IntroduçãoAtualmente, dentro do proclamado contexto de insegurança e incerteza pública, cada vez mais o psicólogo é convocado a atuar nas agências oficiais de manutenção da ordem e de promoção da segurança pública � . Como se dá a inserção do psicólogo nesses espaços? Qual é o papel do saber psicológico nas atuais políticas de segurança pública? Quais são suas implicações e o que ele legitima? É possível a não vinculação com o paradigma repressivo?Alguns desses questionamentos serão tematizados neste artigo, não com o intuito de descrever quais são as atribuições profissionais da psicologia em cada espaço institucional, direta ou indiretamente ligadas à segurança pública e à justiça criminal, mas sim como objetos de uma análise crítica que buscará delinear quais são os pressupostos colocados à disposição do profissional "psi" que ingressa no campo em questão e quais são os possíveis instrumentos que podemos apontar para a busca de produção de diferença em tais âmbitos.A aliança da concepção positivista de Psicologia, que entende o saber psicológico como neutro e objetivo com os atuais mecanismos de segurança pública que atualizam concepções da criminologia, também de cunho positivista, que defende a existência de um "cr...
Estudos de Psicologia, 21(4), outubro a dezembro de 2016, 415-423 Resumo O presente artigo teve por objetivo analisar a racionalidade política que rege o sistema prisional brasileiro na atualidade. Para isso, tomou-se como objeto de pesquisa os relatórios de inspeções realizadas em estabelecimentos penais brasileiros pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) nos anos de 2011 e 2012. A análise da superlotação da população encarcerada possibilitou inferir a lógica não somente limitada às prisões, mas expandida por todo o corpo social, direcionada principalmente àqueles à margem da produção e do consumo e, por isso, a prisão tal como se observou, funciona como efeito que conserva a função de reprodução desta racionalidade.Palavras-chave: crime; psicologia da prisão; políticas públicas; problemas sociais. Abstract Overcrowding in Brazilian prison system: Political operator of the contemporary rationality.The presented article aims to analyze the political rationality that governs the Brazilian prison system in the actuality. To this end, reports of inspections in Brazilian penal establishments made between 2011 and 2012 by the National Council for Criminal and Penitentiary Policy (CNPCP) were taken as the research object. The analysis of the overcrowding of the inmate population made it possible to infer that the logic is not limited to prisons, but exists within the society instead, particularly directed at those at the margin of production and consumption. Therefore the prison as observed is the effect and it retains its function of reinforcing this rationality.Keywords: crime; prison psychology; public policies; social issues. ResumenSuperpoblación de las prisiones brasileñas: Operador político de la racionalidad contemporánea. Este artículo tuvo como objetivo analizar la racionalidad política que rige el sistema penitenciario brasileño hoy. Para ello, se tomó como objeto de investigación los informes de inspección llevadas a cabo en las prisiones brasileñas por el Consejo Nacional de Política Criminal y Penitenciaria (CNPCP) en los años 2011 y 2012. El análisis del hacinamiento de la población carcelaria ha llevado a deducir la lógica no sólo limitado a las cárceles, pero ampliado en todo el cuerpo social, dirigida principalmente a aquellos en los márgenes de la producción y el consumo y por lo tanto la detención como se ha señalado, trabaja el efecto que salva la función de reproducción de esta racionalidad.Palabras clave: crimen; psicología de la prisión; políticas públicas; problemas sociales.
Resumo No início do ano de 2020, a Covid-19 - doença causada por um novo tipo de coronavírus - foi classificada como pandemia pela Organização Mundial de Saúde e acometeu países de todos os continentes, levando a morte de centenas de milhares de pessoas. No Brasil, a doença também se espalhou rapidamente, exigindo medidas de isolamento social. Marcadas pela superlotação e infraestrutura precária, as prisões brasileiras tornaram-se alvo de preocupação de órgãos nacionais e internacionais que demandaram medidas de desencarceramento. Nesse contexto, o presente artigo analisa a proposição do Departamento Penitenciário Nacional de utilização de contêineres para abrigamento de pessoas presas, na contramão da resolução 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça, que pautou pela necessidade de redução da população privada de liberdade. Discute-se como a desconsideração por medidas de desencarceramento e a demanda por proposições ainda mais violadoras de direitos apontam para a ratificação de uma política de morte para as pessoas presas.
Resumo: O presente trabalho surge do projeto de pesquisa-intervenção Construindo um Processo de Escolhas mesmo Quando Escolher não É um Verbo Disponível, vinculado ao Instituto de Psicologia da UFRJ, e procura colocar em análise as diferentes forças que constituem o processo de produção de subjetividade das juventudes na favela. Através da proposta da prática de análise do vocacional com jovens da favela da Maré, buscou-se acompanhar os processos de escolha que emergem no momento da saída do ensino fundamental e verificar como as perspectivas de futuro podem ser (re)experimentadas no plano de uma coletividade ético-política. Palavras-chave: Adolescentes. Escolha profissional. Comportamento de escolha. Áreas de pobreza.Abstract: This paper is based on the intervention project called "Building a process of choices even when choosing is not an available verb", linked to the Institute of Psychology at UFRJ, and it seeks to analyze the different forces that constitute the process of production of subjectivity of youths in the slum. Through the practice vocational analysis with young people from favela da Maré, we sought to monitor the processes of choice that emerge when they finish elementary school, and how the prospects for the future of these youths can be (re) experienced in terms of an ethical-political community.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.