Resumo Dado o crescimento da violência letal no Nordeste do Brasil, o artigo objetiva analisar psicossocialmente a problemática dos homicídios de adolescentes e jovens em Fortaleza, sob a perspectiva de adolescentes e jovens inseridos em territorialidades periferizadas da capital cearense, bem como de profissionais de políticas sociais que trabalham com tais segmentos. O texto é fruto de uma investigação alicerçada por diálogos da Psicologia Social com referências tanto pós-estruturalistas quanto pós/decoloniais e utiliza como principal operador conceitual a noção de necropolítica, de Achille Mbembe. Os dados foram produzidos por uma pesquisa-intervenção realizada em quatro localidades de Fortaleza com as maiores taxas de homicídio em 2017, a partir de observações, entrevistas e grupos de discussão. Os resultados apontam que, de acordo com adolescentes/jovens e profissionais participantes do estudo, a elevação dos homicídios na adolescência/juventude em Fortaleza-Ceará decorre principalmente do agenciamento de três aspectos: transformações da dinâmica da violência urbana em função do fortalecimento de facções e de suas disputas territoriais, efeito da política do encarceramento em massa; investimentos equivocados em políticas de segurança pública orientadas pela “guerra às drogas” e centradas no policiamento ostensivo, na militarização das margens urbanas e na criminalização de segmentos juvenis pobres e negros (des)subjetivados como “matáveis”; precarização de políticas sociais destinadas a tais segmentos em tempos neoliberais. As conclusões do artigo apontam caminhos para prevenção e enfrentamento dos homicídios.
Resumo: O crescente homicídio de jovens é realidade preocupante no cenário sociopolítico brasileiro. A elevação dos índices, desde o final da década de 1970 até os dias atuais, aponta para a continuidade de maquinarias autoritárias e para a fragilidade de processos de consolidação democrática no país. O objetivo deste artigo é problematizar os homicídios juvenis como analisadores dos desafios à democracia brasileira e das implicações ético-políticas da Psicologia nas lutas por democratização. Tal discussão se estabelecerá a partir de interlocuções da Psicologia Social com estudos de Foucault, Deleuze, Guattari e Agamben. Em um primeiro momento do texto, será discutido como a questão dos homicídios de jovens se relaciona com a intensificação de modos fascistas de viver no interior das formações ditas "democráticas". Posteriormente, a repercussão social e midiática da chacina considerada como a maior da história do Ceará será tomada como um acontecimento-analisador da operação de dispositivos de criminalização juvenis e de produção de "sujeitos matáveis" no cotidiano de nossos grandes centros urbanos, entendendo que o panorama da violência na cidade de Fortaleza é um caleidoscópio do que vem ocorrendo no cenário nacional. Por fim, o artigo aponta possibilidades acerca da implicação ético-política da Psicologia na luta por democratização, por meio da apresentação de caminhos de pesquisa e extensão desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violências e Produção de Subjetividades (Vieses-UFC).
Resumo O artigo problematiza racionalidades ligadas à implantação de um dos principais dispositivos de segurança em funcionamento em periferias da cidade de Fortaleza, as Células de Proteção Comunitária (CPC), a partir de discursos de jovens negros e realizando interfaces da psicologia com a questão das relações raciais numa perspectiva de desnaturalização de preconceitos e discriminações. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, sob a perspectiva da pesquisa-inter(in)venção, operacionalizada por entrevistas semiestruturadas e grupo de discussão com jovens da região onde a primeira CPC foi instalada. Teoricamente, traçam-se diálogos da psicologia com estudos foucaultianos sobre dispositivos de segurança, reflexões de Mbembe sobre necropolítica e discussões sobre a questão racial no Brasil. Os participantes apontam que a CPC promoveu o agravamento de racismos institucionais, expondo os jovens negros a situações de criminalização e violação de direitos. A CPC é percebida pelos jovens como emblema do desinvestimento do Estado em políticas sociais e recrudescimento de um Estado securitário, potencializando processos de precarização e segregação de vidas racializadas em prisões ou nas margens urbanas. Aponta-se que a articulação do dispositivo de segurança ao dispositivo racial se sustenta por uma racionalidade necrobiopolitica, que produz as regiões periferizadas como zonas de morte e espaços heterotópicos e reforçam a estigmatização de juventudes negras como inimigos ficcionais. Conclui-se que a pesquisa em psicologia pode se constituir um potente dispositivo de problematização de relações raciais, enfrentamento ao racismo e construção de uma psicologia Antirracista, capaz de fomentar diálogos e composições conjuntas com segmentos historicamente silenciados e subalternizados.
Este estudo objetiva discutir os usos do conceito de responsabilidade social da universidade (RSU), colocando em análise como a RSU tem sido abordada na literatura científica brasileira. Metodologicamente, o estudo se trata de uma revisão sistemática (RS) operacionalizada na Plataforma de Periódico Capes referente a produção de artigos científicos dos últimos dez anos (2010‑2019) no Brasil. Sob o método PRISMA de RS, foram incluídos 12 artigos na análise final. Os resultados foram sistematizados em quatro eixos: 1) o conceito de RSU é polissêmico e fragmentado, e está associado com práticas de gestão de governança corporativa e modelo stakeholders de decisão compartilhada; 2) a RSU nas universidades brasileiras é amplamente difundida por meio das políticas universitárias de extensão na relação universidade‑sociedade; 3) Percebe‑se que os processos mercadológicos e de gestão têm retido interesses neoliberais com relação à RSU na prática cotidiana; por último, 4) A RSU no Brasil se destaca pelas suas políticas de ações afirmativas e de inclusão.
Resumo Este artigo tem como objetivo discutir problemas e desafios colocados à Psicologia por expressões da violência no Brasil, analisando suas implicações éticas na problematização de políticas de subjetivação atuantes nesses cenários. Para essa discussão sobre as expressões da violência, elegemos dois analisadores: os fenômenos do encarceramento em massa e dos homicídios de segmentos juvenis. Nos últimos anos, a Psicologia tem tomado cada vez mais o campo das violências como objeto de discussão, intervenção e produção científica. Isso se materializa fortemente pelas questões sociopolíticas do país, especialmente no que se refere às abordagens policiais, ao encarceramento em massa, ao aumento sistemático/ininterrupto dos homicídios de segmentos infantojuvenis negros, colocando em discussão políticas de aprisionamento e criminalização. Utilizaremos autores que refletem criticamente acerca da colonialidade, a exemplo de Mbembe, dialogando com produções da Psicologia Social que discutem violência. O texto se desenvolverá por meio de três seções. Na primeira, discutiremos a problemática das mortes juvenis e do encarceramento em massa como expressões de uma necropolítica à brasileira. Na segunda, problematizaremos a produção de vidas (in)vivíveis como um dos desafios éticos à Psicologia em contextos de violências. Por último, abordaremos o aceno ético necessário como caminho de construção de uma outra Psicologia.
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