ResumoOriginada a partir dos Estudos Culturais norte-americanos, a Teoria Queer ganhou notoriedade como contraponto crítico aos estudos sociológicos sobre minorias sexuais e à política identitária dos movimentos sociais. Baseada em uma aplicação criativa da filosofia pós-estruturalista para a compreensão da forma como a sexualidade estrutura a ordem social contemporânea, há mais de uma década debatem-se suas afinidades e tensões com relação às ciências sociais e, em particular, com a Sociologia. Este artigo se insere no debate, analisa as similaridades e distinções entre as duas e, por fim, expõe um panorama do diálogo presente que aponta para a convergência possível no projeto queer de criar uma analítica da normalização.Palavras-chave: Teoria Queer. Sociologia. Sexualidade. Diferenças. Michel Foucault. Analítica da normalização.Teoria Queer emergiu nos Estados Unidos em fins da déca-da de 1980, em oposição crítica aos estudos sociológicos sobre minorias sexuais e gênero. Surgida em departamentos normalmente não associados às investigações sociaiscomo os de Filosofia e crítica literária -essa corrente teóri-ca ganhou reconhecimento a partir de algumas conferências em Universidades da Ivy League, nas quais foi exposto seu objeto de análise: a dinâmica * Professor do Departamento de Sociologia da UFSCar. Doutor em Sociologia pela USP.
A partir da reconstituição histórica dos medos coletivos por trás da rejeição social a gays e lésbicas e de como estes mesmos temores moldam as reações afirmativas desses grupos, este artigo discute as relações entre pânicos morais e formas de controle social. A luta pela parceria civil entre pessoas do mesmo sexo, ou casamento gay, serve de exemplo contemporâneo da forma como nossa sociedade renegocia padrões normativos e práticas sexuais na moeda do controle social.
Resumo: Nos últimos anos, em diversos contextos nacionais, emergiram debates sobre o que grupos -religiosos e laicos -denominam de "ideologia de gênero". Este artigo busca retraçar a genealogia desse termo para compreender a gramática política em que se insere. Com este objetivo, retoma textos que o definem já há 20 anos, mapeia onde ele emerge na América Latina e quando passa a ser acionado contra avanços nos direitos sexuais e reprodutivos. Demandas de direitos humanos têm sido interpretadas por empreendedores morais como ameaças à sociedade, engendrando, ao mesmo tempo, um pânico moral e um campo discursivo de ação.Palavras-chave: ideologia de gênero, direitos sexuais e reprodutivos, política latino-americana, religião, empreendedores morais. Com esse parágrafo, Jorge Scala começa seu livro La ideología del género. O el géne-ro como herramienta de poder. Segundo o autor, a "ideologia de gênero" é um instrumento político-discursivo de alienação com dimensões globais que busca estabelecer um modelo totalitário com a finalidade de "impor uma nova antropologia" a provocar a alteração das pautas morais e desembocar na destruição da sociedade. O livro, que tem por finalidade "despertar consciências adormecidas, e ajudá-las a trabalhar por um mundo melhor" (Scala, 2010: 8), provocou grande impacto, não apenas na Argentina, onde foi publicado pela primeira vez, mas também em outros países (tendo sido também traduzido para o português).
George CHAUNCEY, 1995;Didier ERIBON, 1999; e James GREEN, 2000. 302 Estudos Feministas, Florianópolis, 21(1): 301-324, janeiro-abril/2013 RICHARD MISKOLCI conhecido como "meio gay".5 Associada a esse circuito, a partir de 1997, a internet comercial iniciou seu processo de expansão no Brasil, recriando, mas sobretudo ampliando o espaço para a socialização homoerótica.Os espaços on-line se estendem e se aproximam da maioria que vive na periferia, em cidades médias, pequenas ou mesmo na zona rural. Além disso, para pessoas que jamais quiseram (ou puderam) se expor de forma a frequentar algum local claramente gay, a web criou a possibilidade de criarem redes de relações. Esses sujeitos, frequentemente marcados por uma origem social conservadora, encontraram na internet uma forma de conhecer parceiros e até fazer amizades sem o ônus da exposição de seus interesses eróticos no espaço público. 6 Curioso sobre esse cenário, desde o final de 2007, pesquiso como usuários homens adultos articulam o uso de plataformas da rede em busca de parceiros sexuais e amorosos do mesmo sexo. A investigação associa leituras sobre o tema e o desenvolvimento de longa etnografia que tem permitido criar contatos pessoais para acompanhar a vivência dos pesquisados. Desde o início, eles demonstraram que o uso da rede é feito para a criação de contatos face a face. As falas de meus colaboradores reiteraram essa relação intrínseca entre vida on-line e off-line, pois o uso da internet costuma se associar à constituição de contatos e redes de relacionamento que se estendem para a vida social. 7 Também salta aos olhos a recorrência, em anúncios sexuais, na apresentação em bate-papos ou mesmo em perfis de redes sociais voltadas para um público homossexual, a afirmações como "sou fora do meio" ou "procuro alguém fora do meio, como eu". Diante desse aparente paradoxo de os usuários estarem dentro do que procuram e negarem surge a questão: o que estaria por trás da autoapresentação recorrente como "fora do meio"? A primeira pista está na forma como meus colaboradores buscam relações face a face que possam reproduzir as características que as originavam online, ou seja, a possibilidade de acesso individualizado e anônimo. Isso demonstra a persistência do armário na era das mídias digitais.Eve Kosofsky Sedgwick define o armário como o regime de controle da sexualidade que rege e mantém a divisão binária hétero-homo da sociedade Ocidental desde fins do século XIX. O armário se caracteriza por um conjunto de normas nem sempre explícitas, mas rigidamente instituídas que faz do espaço público sinônimo de heterossexualidade, relegando ao privado as relações entre pessoas do mesmo sexo. 8 Ao final do século XIX, quando virou voz corrente -tão óbvio para a Rainha Vitória como para Freud -que conhecimento significa conhecimento sexual e segredos, segredos sexuais, o feito gradualmente reificante dessa recusa significou que se havia constituído, de fato, uma sexualidade particular, distintamente constituída como segredo. 9A partir das luminosas ...
Abstract:The persecution of philosopher Judith Butler during her visit to Brazil in late 2017 revealed the power of the ghost of the so-called "gender ideology", a specter that serves as an articulating focus of various interest groups that struggle against the advance of sexual and reproductive rights. This article seeks to identify these groups and their interests, analyze their alliances and the political grammar of their action. The article presents historic elements to retrace the emergence of the campaign against sexual rights in Brazil and to sociologically analyze the conditions that permit its dissemination as a moral crusade.
A busca da adequação aos padrões de identidade socialmente impostos tem justificado e instituído as mais variadas formas de controle corporal. Há cerca de dois séculos vivemos um processo de contínuo disciplinamento e normalização dos corpos que também tem conseqüências subjetivas, pois a subjetividade está diretamente associada à materialidade do corpo. Assim, a história da criação de corpos e identidades sociais é também uma história dos modos de produção da subjetividade. O texto parte dessa constatação para discutir uma forma de resistência ao assujeitamento: a proposta foucaultiana de uma estética da existência.
Resumo: Neste artigo, discuto as transformações históricas que têm contribuído para a consolidação de uma era digital assim como as iniciativas de pesquisa que buscam compreender o contexto sociotécnico no qual vivemos. Argumento que a proposta de uma sociologia digital não envolveria apenas repensar metodologias, antes uma agenda de pesquisa ampla e uma reflexão teórico-conceitual sobre os usos contemporâneos das mídias digitais. A era digital não se caracteriza apenas por rupturas e novidades, mas também por continuidades e aprofundamentos de fenômenos previamente abordados pela sociologia, como a exposição midiática e a influência da comunicação e seus conteúdos na cultura contemporânea.Palavras-chave: sociologia digital; usos das mídias digitais; relações sociais mediadas em rede. Digital Sociology: notes on research in the era of network communication
Based on an ethnography with men that use digital media in search of same sex partners in São Paulo, Brazil, this paper discusses what motivates their use of technological platforms. It also employs sociological and historical elements to reflect upon the social aspects of desire that fuel this search and the new visibility regime in which these men live. Finally, it analyses the moral, symbolic and material restrictions that mold an economy of desire demanding their discretion and secrecy.
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