Trata-se de uma proposta de análise das experiências de crianças em situação de refúgio no Brasil, a partir da articulação teórico-metodológica entre tecnologias de governo, modos de subjetivação e migração internacional. Problematizo as maneiras pelas quais essas crianças se constroem como sujeitos, a partir dos modos como operam as tecnologias de governo voltadas aos refugiados no país, sobretudo a tensão entre proteção à infância e gerenciamento das migrações. Enquanto menores em perigo, são antes de tudo as normas legais ligadas à proteção da infância que deveriam prevalecer. No entanto, por vezes, a condição de estrangeiro é privilegiada e essas crianças são submetidas estritamente às políticas de migração destinadas, em geral, aos adultos. Diante de tal cenário, procuro destacar o potencial das experiências dessas crianças para revelar o que nem sempre é objeto de atenção nos estudos sobre migração. Busco refletir sobre os direitos e a proteção de crianças em deslocamento e também sobre os “sujeitos desses direitos” e seu “protagonismo social” nos modos de gerenciamento da chamada crise migratória. Proponho pensar como a situação de crianças refugiadas no Brasil também nos interpela de maneira paradoxal: entre o desejo de proteção e a tentação da rejeição