Populações quilombolas são historicamente atingidas por amplas desigualdades sociais, que geram vulnerabilidades em vários âmbitos da vida cotidiana, associadas à saúde mental e à produção de sofrimento psíquico. Este artigo objetiva discutir a incidência de transtornos mentais comuns a partir da ótica da Determinação Social da Saúde. Aplicou-se questionário sociodemográfico, o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), e entrevista semiestruturada em uma comunidade quilombola rural. Observou-se que as experiências de sofrimento psíquico estão relacionadas às iniquidades sociais, à escassez de estratégias de apoio comunitário e de possibilidades de acolhimento e de cuidado culturalmente sensível na rede de atenção psicossocial, além de se apresentar de modo desigual entre homens e mulheres. O racismo institucional se revela em práticas em saúde que perpetuam as desigualdades que atingem as populações negras e do campo. Esses elementos impactam e revelam a intrínseca articulação entre gênero, raça, classe e saúde mental.
Partimos das problematizações em torno do racismo institucional em que vivem as comunidades quilombolas no Brasil. Para tanto, objetivamos com este estudo: a) identificar o perfil da população, as condições de vida e de acesso às políticas públicas; e b) mapear as linhas de força que compõem as subjetividades e suas histórias de luta. A pesquisa foi realizada numa comunidade quilombola do Estado do Rio Grande do Norte. Os dados foram produzidos a partir da aplicação de questionário sociodemográfico ambiental para os moradores, acompanhado de observação do cotidiano da comunidade e entrevista semiestruturada com as lideranças. Os resultados indicam os efeitos do racismo institucional na produção das iniquidades e desigualdades. Portanto, entendemos o racismo institucional como um bem-sucedido mecanismo da biopolítica ao produzir subjetividades que paradoxalmente sobrevivem entre a captura e a resistência aos propósitos de intervenção e controle social pelas estruturas de poder e domínio do Estado.
Objetiva-se discutir saúde mental em uma perspectiva multidimensional, considerando que ela sofre efeitos do lugar e que os contextos de vida podem funcionar como amortecedores da vulnerabilidade ou disparadores de sofrimento psíquico. Destaca-se a ótica da Determinação Social da Saúde que parte da história e particularidades dos territórios, de análises situacionais das necessidades de uma população, para a contextualização do processo saúde-doença-cuidado. No meio rural, as condições de vulnerabilidade se agravam. Indicadores socioeconômicos de assentamentos rurais do Nordeste brasileiro revelam considerável índice de não alfabetizados, de insegurança alimentar e de mortalidade infantil; dificuldade no acesso aos serviços públicos e assistência técnica; precariedade das condições de trabalho e maior dependência dos programas de transferência de renda. Ou seja, uma complexidade de fatores e combinação de riscos produtores de sofrimento que impactam na saúde mental.
As mulheres se destacam na gestão do Bolsa Família. Essa condição tem produzido deslocamentos nas relações de gênero, bem como no trabalho em contextos rurais. A respectiva pesquisa buscou investigar as formas de gestão do Bolsa Família, analisando seus efeitos no cotidiano de setenta e duas mulheres, moradoras de duas comunidades quilombolas, por meio de entrevistas semiestruturadas. O benefício tem sido usado para atender às condicionalidades em relação aos filhos e à manutenção da família. Entretanto, foi possível constatar que as mulheres suprem outras necessidades domésticas e pessoais. Observa-se que, para além da complementação da renda familiar, o benefício tem impactado na diminuição da sobrecarga de trabalho doméstico e no campo, na ampliação da segurança alimentar e da mobilidade, bem como na mudança de padrões familiares e de gênero estabelecidos. Tais aspectos apontam para a ampliação dos graus de autonomia identificados pelas próprias participantes no seu dia-a-dia, reverberando em novos modos de vida e de trabalho distintos.
ResumoObjetivamos identificar os padrões de uso de álcool entre homens e mulheres de uma comunidade quilombola do Rio Grande do Norte, Brasil. Buscamos, ainda, conhecer os sentidos do consumo alcoólico, identificar as estratégias, recursos de cuidado utilizados e oferta de apoio social. Utilizamos as ferramentas: Questionário Sócio-demográfico (64 famílias), o Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) e entrevistas semi-estruturadas (n=12). Identificamos maior uso problemático nos homens (50,1%. n=61) comparado às mulheres (8,2%. n=32). Os sentidos sobre consumo de álcool pelos homens se relacionaram como estratégia de socialização, aprovação social e prazer e pelas mulheres como resolução de problemas e enfrentamento das condições de vida. Houve pouco reconhecimento de apoio social, baixa procura aos serviços de saúde, com estratégias de cuidado voltadas para a dimensão religiosa e familiar. Concluímos que as condições de vida aliadas aos lugares sociais de gênero interferem nos padrões de consumo da bebida.
Objetivamos discutir as formas de participação política de mulheres quilombolas rurais, considerando os espaços de inserção, os desafios enfrentados e efeitos produzidos na vida cotidiana. Para tanto, realizamos entrevistas semiestruturadas como tática de produção de dados. As principais instâncias de participação das mulheres se dão em movimentos sociais, sindicato, a associação de moradores e grupos religiosos. Nesses espaços contribuem na presença em reuniões como ouvintes e na contribuição financeira mensal ao sindicato e à associação. As mulheres apontam dificuldades relativas aos lugares tradicionais de gênero, de ordem material como a falta de transporte, inviabilizando a participação em eventos, bem como forte desmobilização comunitária. Identificam repercussões da participação política em termos da melhoria nas condições de vida, na aquisição de novos conhecimentos e alteração nas relações comunitárias e familiares. A identidade étnico-racial e o racismo foram questões pouco evocadas no tocante aos conteúdos tratados nas instâncias de participação política.
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