O objetivo deste estudo foi analisar a constituição da responsabilidade no trabalho de profissionais de saúde em uma unidade de terapia intensiva pediátrica. A pesquisa é de abordagem qualitativa, com coleta de dados mediante entrevistas com roteiro semiestruturado a um grupo heterogêneo de 14 profissionais. Foram realizadas observações sistemáticas em diversos horários de trabalho, em um total de oitenta horas, registradas em diário de bordo. A análise do discurso fundamentou-se na perspectiva foucaultiana. A partir deste estudo, aponta-se que o sentimento de responsabilidade é convertido em sentimento de culpa pelos profissionais, a partir de um entrelaçamento de regimes de verdades provenientes dos campos do poder judiciário, do Cristianismo e do saber médico, que incidem sobre as práticas. As dificuldades em lidar com limites na atuação profissional desencadeiam conflitos interprofissionais geradores de sofrimento no lidar com a morte de crianças.
Resumo Objetivou-se analisar a micropolítica das relações interprofissionais em uma unidade de terapia intensiva pediátrica. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, de cunho cartográfico, com observações da dinâmica das relações entre os sujeitos, entrevistas com 14 profissionais, no período de junho a agosto de 2014. As relações interprofissionais são constituídas em um território híbrido formado pela interseção dos saberes biomédicos, práticas de trabalho intervencionistas com aparelhos tecnológicos, reguladas por normas, protocolos e pelo lidar com crianças e seus pais. O afeto despertado nos profissionais frente à espontaneidade e sofrimento de crianças desestabiliza o plano normativo e científico do trabalho em prol da estabilização orgânica das crianças, desencadeando novos agenciamentos dos profissionais, ora flexibilizando as normas, ora intensificando comportamentos controladores e perfeccionistas. Aponta-se a importância da potencialização dos agenciamentos inventivos dos profissionais e criação de dispositivos para ações coletivas e saberes que promovam a associação da clínica da vida junto à da sobrevida.
O objetivo deste artigo é analisar o discurso de reportagens de capa da revista Veja BH para compreender qual cotidiano da cidade de Belo Horizonte/MG a revista evidencia e como a cidade é discursivamente apresentada. Como aporte teórico, utilizamos a perspectiva do cotidiano de Certeau (1998). Este trabalho contribui para reflexões sobre o registro do cotidiano da cidade por meio de uma escrita midiática a respeito da forma pela qual a história e a mídia retratam eventos, sujeitos e formas de viver. Os resultados da análise do discurso de corrente francesa demonstram que o cotidiano evidenciado é o da classe média alta belo-horizontina, suas formas de lazer, suas práticas culturais e gastronômicas e os problemas que a atingem. Tal cotidiano envolve grandes números, estatísticas, valores e sucesso. Além disso, a revista se posiciona a favor do que seria a cidade planejada diante da cidade vivida e silencia problemas que possam ser considerados detritos da gestão das cidades, construindo a personagem de uma BH poderosa e em crescimento. Ideologicamente, constrói a BH que atende aos interesses do homem branco, construindo, para as mulheres, personagens atreladas à sexualidade ou ao ambiente doméstico.
As doenças cardiovasculares são consideradas a maior causa de mortes no mundo. Os cuidados aos cardiopatas têm demandado esforços dos serviços de saúde e muitos psicólogos e psicanalistas, que compõem equipes multidisciplinares, se embasam na teoria psicanalítica para fundamentar suas práticas clínicas junto a esse público. Este estudo tem como objetivo investigar de que forma a experiência do infarto agudo do miocárdio (IAM) impacta um indivíduo, na sua dimensão psique-soma, conceito proposto por Donald Winnicott. Através do método de relato de caso, acessamos o material clínico produzido pelo registro dos atendimentos psicológicos de uma paciente infartada, acompanhada pelo pesquisador no período de um ano e meio. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e teve consentimento da paciente. Baseado na teoria winnicottiana, percebemos que o infarto provocou abalos na dimensão psique-soma – causando episódios de despersonalização, grande fragilidade emocional, medo da morte, desesperança – e revelou seu caráter traumático, dada sua ação invasiva e abrupta. O processo psicanalítico nesse caso clínico se mostrou como um dispositivo de acolhimento e intervenção, no qual a paciente pôde revisitar a própria história, integrar situações traumáticas e recuperar sua esperança e desejo de viver.
O presente artigo tem como objetivo, por meio de um relato de experiência, compartilhar reflexões a respeito das ações de um projeto de extensão realizado em 2020 com o intuito de fortalecer trabalhadores de saúde durante a pandemia da Covid-19. Estudantes de psicologia, psicólogos residentes e uma docente participaram da experiência, oferecendo acolhimento psicológico a treze trabalhadoras de instituições públicas de saúde, em sua maioria profissionais da enfermagem, que buscaram o projeto por demanda espontânea. Durante os encontros, estimulou-se a análise do cotidiano do trabalho e dos mecanismos de enfrentamento individuais e coletivos, metodologia baseada na Ergologia. Os temas convergentes nos acolhimentos foram: senso de responsabilidade, sentimento de culpa e sofrimento no trabalho; risco de contaminação, distanciamento social e estigmas; gestão do trabalho e humanização do cuidado. Por fim, considera-se a importância do projeto para o suporte e reflexão crítica das trabalhadoras sobre os processos de trabalho.
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