O presente artigo tem como objetivo analisar o retrocesso no Sistema Africano de Direitos Humanos, na medida em que o sistema entrou em campos politicamente sensíveis como é a orientação sexual. Criada pela Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos tem o mandato de proteger, promover e interpretar os direitos e deveres consagrados na Carta Africana. No entanto, a pressão política do Conselho Executivo da União Africana ameaça minar a independência e o mandato da Comissão. Ao mapear os desenvolvimentos entre a Comissão e o Conselho Executivo no caso da Coalition of African Lesbians, este artigo analisa a evolução e a resistência do sistema africano dos direitos humanos face à pressão política hostil. Analise igualmente os argumentos evocados, nomeadamente a alegada jurisdição conflitual entre a Comissão e o Tribunal de direitos humanos. Conclui que os órgãos políticos estão a minar o sistema africano de direitos humanos em benefício das agendas políticas dos Estados.
A resistência da União Africana (ua) enquanto fórum internacional representativo do continente, tem a sua expressão mediática maior na relutância dos estados africanos em cooperar com o Tribunal Penal Internacional (tpi). Em junho de 2015, a África do Sul acolheu a 25.ª sessão ordinária de chefes de Estado e de governo da União Africana, na qual esteve presente Omar al-Bashir, Presidente do Sudão e sob o qual existia um mandado de captura internacional por genocídio e crimes contra a humanidade cometidos no Darfur. A África do Sul recusou deter o Presidente Omar al-Bashir, alinhando-se desta forma com as resoluções da ua, que pediam aos estados africanos membros do Estatuto de Roma para não cooperarem com o tpi 1 . Contudo, a estratégia da ua para com o tpi vai muito mais além do que mera resistência à sua ação e negação de cooperação com o Tribunal. A ua tem procurado fortalecer os seus órgãos judiciários, em particular a proposta de fusão do Tribunal de Justiça da União Africana (tjua) com o Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos (tadhp), resultando um «tribunal unificado» denominado Tribunal Africano de Justiça e Direitos Humanos (tajdh), dotado de jurisdição sobre crimes internacionais 2 . Desta forma, a ua espera conseguir impedir futuras intervenções do tpi no continente africano. Outubro de 2016 marcou um ponto de fratura na relação da África com o tpi. No espaço de poucos dias, três estados africanos -o Burundi, a África do Sul e a Gâmbia -manifestaram publicamente a intenção R E S U M O A s relações entre o Tribunal Penal Internacional (tpi) e a União Africana encontram-se num ponto de rutura. O tpi é acusado de ter uma postura racista e neocolonialista, perseguindo seletivamente os líderes africanos. Em resposta, a União Africana tem procurado ativamente formas de impedir que o tpi atue no continente, tal como o fortalecimento das instituições judiciárias da União, com a criação de um tribunal penal africano. Este trabalho propõe-se a perceber o trajeto da criação deste órgão, qual pode ser o seu papel no combate à impunidade dos crimes graves no continente africano e que relação futura poderá estabelecer com o tpi. Palavras-chave: Tribunal Penal Internacional, União Africana, tribunal penal africano, impunidade.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.