A Guerrilha do Araguaia teve lugar nas regiões sudeste do Pará e norte do então estado de Goiás (atual Tocantins), também abrangendo terras do Maranhão, na área conhecida como 'Bico do Papagaio'. Ocorreu entre meados dos anos 1960, quando os primeiros militantes do Partido Comunista do Brasil chegaram à região, e 1974, quando os últimos guerrilheiros foram caçados e abatidos por militares, treinados para combater a guerrilha e determinados a não fazer prisioneiros. Execuções, eliminação de vestígios e tortura estão nos relatos colhidos, assim como na literatura existente sobre a guerrilha. As prováveis operações de 'limpeza' teriam sido realizadas de diversas maneiras, a confiar nos relatos colhidos pela ouvidoria do Grupo de Trabalho Tocantins, criado pelo Ministério da Defesa para cumprir sentença da Justiça Federal. Além de reaver a memória sobre a guerrilha, a partir de narrativas de quem viveu a experiência, é importante jogar luz sobre o que popularmente se conhece como a 'segunda guerra'. Na região, os governos da Ditadura Militar (1964-1985) montaram um intenso sistema de repressão e controle político, e um modelo de ocupação pela pecuária que devastou as florestas, de forma que, quando falamos da guerrilha, precisamos também falar da guerra que veio depois.
Resumo: Em Belém, intervenções urbanísticas na orla da cidade, conduzidas pela prefeitura com recursos do Banco Mundial, projetam a requalificação dos espaços públicos no sentido de transformá-los em ambientes de consumo. Gentrificação é o caso, e significa retirar pessoas e com elas sociabilidades que dão identidade aos lugares. Os portos da Palha e do Açaí e o Ver-oPeso são espaços públicos de grande relevância para a cidade e, principalmente, para a população de pretos e pardos, os negros e os indígenas mestiços que transitam e fazem transitar mercadorias entre as ilhas e o continente. Milhares de pessoas cruzam rotineiramente entre esses lugares no continente e as várias ilhas do outro lado do rio. Contudo, quem promove as intervenções urbanísticas quer remover a vida popular dos seus lugares. Como se costuma dizer, a pobreza tem cor. Eles resistem à remoção, mas a questão racial não está posta nesses lugares. Reconhece-se a segregação social, entretanto ela não é vista também como racial. A gramática racial não está presente na resistência contra os projetos excludentes. Somadas aos interesses de classe, a dimensão cultural e a luta pelo reconhecimento racial acrescentariam um conteúdo significativo na capacidade de resistência e insurgência dessas populações. O presente artigo levanta essa questão. Palavras-chave:Espaço público. Gentrificação. Segregação racial. Reconhecimento. Abstract:The municipal government, through urban developments, plans to gentrify public spaces in Belém´s waterfront. Gentrification here means to transform public spaces into consumption places, leading to the removal of people and, with them, the sociability that gives identity to these places. Public spaces focused here are the ports of Palha and Açaí and the Ver-o-Peso market. They are important places for popular life in Belém, mostly for the black people who use them. Thousands of people comute daily between these places in the continent and the many islands on the other side of the river. Gentrification tends to remove these people, most of them poor, and their activities to more distant areas. As the popular saying goes, 'poverty has a color'. People resist urban developments that exclude black people. Nevertheless, racial factor isn't acknowledged as contributing to segregation nor the racial argument is present in resistance discourse. Put together the cultural dimension and the racial factor recognized they would add significant weight to the capacity of resistance and insurgence among this population affected by the changes. This is a point the article raises.
A produção de biodiesel na lógica da agricultura familiar demanda empenhos institucionais diversos. São necessárias pesquisas agronômicas e tecnológicas e é preciso desenvolver a produção por meio do associativismo e do cooperativismo. O zoneamento agrícola e o crédito, assim como a assistência técnica, são também aspectos importantes para a atividade, cujo propósito é garantir uma nova alternativa de mercado aos agricultores, sem agressões ambientais e sem que isso signifique prejuízo à produção de alimentos. Significa dizer que o biodiesel, na lógica da agricultura familiar, exige a integração de muitas abordagens, o que pode ser alcançado mediante uma ação sistêmica, capaz de articular competências institucionais diversas aos interesses de agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Esse é o objetivo da Rede Paraense de Agricultura Familiar e Biodiesel. Mais que constituir um fórum de discussão, a rede busca a articulação de competências institucionais em função de projetos definidos conforme contextos territoriais. Nessa direção, a rede integrou-se ao projeto Araguaiana Biodiesel, cujo escopo é desenvolver, com o apoio da Petrobras, uma alentada ação no sul do Pará. A esse conjunto institucional soma-se, decisivamente, a Secretaria de Agricultura do Estado do Pará.
O movimento indígena, reivindicando identidade e território, iniciou-se em 1998, na Flona Tapajós, com uma comunidade declarando-se Munduruku. Logo outras comunidades nos rios Tapajós, Arapiúns e Maró se assumiram indígenas e o movimento cresceu, e não apenas em virtude dos direitos dos povos indígenas, respaldados por legislações internacionais e pela Constituição de 1988, em um quadro de insufi ciência de serviços públicos para as comunidades caboclas. Concorre também o desejo de pertencer a um povo, a um lugar e a uma luta. A etnogênese que se verifi ca no Baixo Tapajós está em sintonia com processos de retomada de tradições por grupos étnicos, então considerados aculturados ou extintos, em vários lugares do Brasil e América Latina. No Baixo Tapajós se assenta uma questão política relevante, com os indígenas signifi cando um obstáculo aos negócios.
ResumoO artigo considera que depois da Guerrilha do Araguaia veio outra guerra, também com graves violações de direitos humanos. No Bico do Papagaio, essa segunda guerra repete barbaridades da primeira e alcança os dias de hoje em violências contra camponeses e indígenas. As violências que ocorrem hoje têm um vínculo com o remate da guerrilha, que foi uma caçada humana, com execuções de prisioneiros, decapitações e torturas impostas a centenas de pessoas suspeitas de ligação com os guerrilheiros. A impunidade está entre as causas da continuação dos abusos. É preciso esclarecer o passado buscando as causas da violência para compreender o presente, e então descontinuar essa história. A partir do Estado, as comissões pela memória, verdade e justiça bucam esclarecer, reconhecer e responsabilizar, e podem ter efeitos amplos. AbstractThe article considers that after the Guerrilla of Araguaia another war has come, also with serious violations of human rights. In the Bico do Papagaio region, this second war repeats barbarities of the fi rst and reaches the present days in aggressions against peasants and Indians. The ongoing violence has a link with the fi nal phase of the guerrilla, which was a sort of human chasing, with prisoners executions, decapitations and tortures imposed to hundreds of people under suspicion of liaison with the guerrillas. Impunity is among the causes of the abuses continuation. It is necessary to clarify the past searching for the causes of the violence to understand the present, and then discontinue that history. From the State, the commissions of memory, truth and justice strive to clarify, recognize and defi ne responsibilities, and its effects can be broad. Novos Cadernos NAEAMemória, verdade e justiça: reconhecendo abusos do passado e do presente no Bico do Papagaio Memory, truth and justice: recognizing abuses of the past and the present in the Bico do Papagaio region
Resumo: Este artigo considera a resistência popular nas feiras e portos públicos da Estrada nova, atual av. Bernardo sayão. interpreta a ocupação da parte sul da orla de Belém, analisada em termos da produção social do espaço urbano. A resistência popular busca manter os portos públicos da Palha e do Açaí como lugar de trocas econômicas e culturais múltiplas, contra a intenção do poder público municipal de 'gentrificar' ou enobrecer essa margem urbana da cidade, removendo os atuais usuários, mediante o projeto denominado Portal da Amazônia. A resistência de feirantes, trabalhadores e moradores contrapõe a metáfora 'janelas para o rio', que funciona como uma espécie de pensamento único na cidade, com outra metáfora, a de 'portas para o rio', que diz respeito à necessidade de ir e vir dos ribeirinhos, que reivindicam seu direito à cidade. o movimento de pessoas e mercadorias nos portos e redondezas configura um espaço de economia e vida popular em Belém. Esse movimento proporciona identidade aos bairros do Jurunas, Condor e Guamá e condiz com preceitos urbanísticos recomendados por autores como Jane Jacobs e Marshall Berman, que valorizam a vida cotidiana da rua. o projeto avança de forma obscura, sem qualquer critério de diálogo e transparência.Palavras-chave: resistência popular, Gentrificação, Portal da Amazônia, Portos públicos.Abstract: this article considers the popular resistance on the street markets and public harbors in the Estrada nova of Belém. it interprets the occupation of the southern waterfront of Belém, analyzed in terms of the social production of urban space. the popular resistance strives to keep the public harbors, Porto da Palha and Porto do Açai, as places of multiple economic and cultural exchanges, against the municipality's intention of gentrifying the waterfront and removing its current users through the project called Portal da Amazônia. the resistance of small traders, workers, and residents opposes the metaphor 'windows on the river,' which represents a one-sided exclusive approach, with another metaphor, that of 'gateways to the river,' which has to do with the necessity of coming and going of riverine people, who demand their right to the city. the movement of people and goods at the harbors and the surroundings creates a setting of popular economy and life in Belém. this movement gives identity to the neighborhoods of Jurunas, Condor, and Guamá and agrees with the urbanistic requirements of Jane Jacobs and Marshall Berman, who value everyday life in the streets. in spite of grassroots resistance, the project goes ahead in an obscure way, without any consideration for dialogue or transparency.
Este artigo objetiva mostrar que a experiência de turismo desenvolvida na comunidade de Anã/Santarém/Pará envolve várias relações de troca e reciprocidade, conforme a concepção de Mauss (1925/2017). Para esse autor, a dádiva é ambivalente, pois é simultaneamente, interessada e desinteressada, voluntária e obrigatória. O caráter ambivalente da dádiva foi compreendido pela noção de interesse postulada por Bourdieu (2011). A pesquisa de campo seguiu os pressupostos da pesquisa etnográfica antropológica, e o caminho metodológico foi construído a partir da concepção de Lanna (2000) sobre a “etnografia da troca”. Os dados foram coletados por observação direta e entrevistas, em dois períodos: agosto de 2016 e janeiro de 2017. Destacamos como principais resultados: a observação de cinco relações de troca entre os agentes internos e externos à comunidade de Anã, que envolvem vários tipos de “prestações”, como define Mauss (1925/2017); a interpretação do turismo como uma dádiva em ambientes sociais que ele promova a troca de bens e de sua espiritualidade de forma ambivalente; a constatação de que a comunidade não possui autonomia sobre a gestão do turismo em seu território. Consideramos que a experiência de turismo em Anã não alcançou, ainda, a condição requerida para ser considerada, de fato, de base comunitária.
Um movimento popular no município de Marituba, na Região Metropolitana de Belém (PA), reivindica a retirada de um aterro sanitário que funciona nos moldes de um fétido lixão. O problema do lixão põe a nu o desprezo que empreendimentos econômicos e governos reservam a populações localizadas em periferias de cidades amazônicas. As condições pelas quais o chamado “Aterro Sanitário de Marituba” foi licenciado - em 2015 - e opera hoje exibem evidentes irregularidades ambientais e sociais. O “Fórum Permanente Fora Lixão” (FPFL) tem denunciado o empreendimento e exercido importante pressão popular em busca de soluções para o problema. A questão tem repercutido: dois diretores da empresa responsável pelo empreendimento foram presos, e o governo do estado, responsável pela licença ambiental, é apontado, no mínimo, como omisso. O lixão de Marituba é um exemplo de uma forma colonial na relação entre empresas e poderes públicos, na medida em que estes permitem o licenciamento e a operação de empreendimentos em flagrante desrespeito à legislação ambiental e, no caso do lixão de Marituba, da Lei Nº 12.305, que orienta a instalação e a operação de projetos de aterros sanitários para o tratamento de resíduos sólidos. O FPFL lidera uma ação coletiva que tem conquistado adesões importantes, entre as quais a de entidades da sociedade civil e a Universidade Federal do Pará, além de políticos e outros atores locais. O movimento carrega um forte componente de subjetividade, posto que o lixão afeta dramaticamente a vida das pessoas que expressam suas emoções no espaço público. O objetivo do artigo é analisar uma ação coletiva cuja luta é pelo direito ao lugar.Palavras-chave: Fórum Permanente Fora Lixão. Ação coletiva. Marituba. Movimentos sociais. Lugar.
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