É discutida a participação das comunidades em situações de injustiça ambiental na produção de conhecimentos, as quais são decorrentes de desigualdades e de discriminações na distribuição de riscos e benefícios do desenvolvimento econômico. São destacados os limites epistemológicos e políticos para a produção de conhecimentos e de alternativas que possibilitem o avanço na construção de sociedades mais justas e sustentáveis. A partir de uma visão ampliada de saúde são discutidos os limites das abordagens científicas em reconhecer a importância do saber local, seja para analisar riscos ambientais ou seus efeitos à saúde, incluindo os estudos epidemiológicos. Tais limites relacionam-se basicamente ao ocultamento de conflitos e incertezas, à falta de contextualização da exposição aos riscos e efeitos sobre a saúde, assim como às dificuldades de diálogo com as comunidades. O artigo apresenta ainda contribuições e avanços decorrentes de movimentos por justiça ambiental. Concluiu-se que uma perspectiva construtivista, processual e democrática de confrontação de saberes e práticas poderá orientar a produção científica em prol da justiça ambiental.
Injustiças da sustentabilidade: Conflitos ambientais relacionados à produção de energia "limpa" no Brasil Este trabalho discute as contradições existentes na implementação de projetos de energia "limpa", a partir de quatro casos do contexto brasileiro: agrocombustíveis via cana-de-açúcar, hidrelétricas, parques eólicos e, por fim, energia nuclear. Todos geram inúmeros impactos sociais, ambientais e à saúde que caracterizam o que denominamos provocativamente "injustiças da sustentabilidade". Assumimos que os conflitos ambientais existentes nos casos são inevitáveis em sociedades de mercado, cuja visão hegemônica de desenvolvimento econômico das corporações e, frequentemente, órgãos de governo é confrontada por populações atingidas e movimentos sociais. Portanto, consideramos estratégico reconhecer as injustiças ambientais como forma de articular as bases materiais da sustentabilidade com questões econômicas, sociais, culturais e filosóficas acerca da noção de progresso.
The article discusses conceptual and methodological issues related to environmental risks and health problems, in the context of environmental injustice and conflicts. In doing so, we use the conceptual frameworks of political ecology and what we call political epistemology. We propose a comprehensive vision of health that relates not only to illness and death, but also to life, nature, culture and fundamental human rights. We summarize this as health and dignity, echoing the voices of countless people who have been fighting for the right to life and the commons, and against the impacts of mining, agribusiness and the oil industry. Therefore our concept of health is intrinsically related to the capacity of affected communities and their democratic allies to face environmental conflicts (the exploitation of natural resources and the workforce with the systematic violation of rights related to work, land, environment and health). Mobilizations for environmental justice also struggle for the autonomy of communities, their cultures, and the right to maintain indigenous or peasant livelihoods. The way knowledge is produced plays a fundamental role in environmental justice mobilizations since issues of power are related to epistemological disputes and counter-hegemonic alternatives. Political epistemology is an alternative way of confronting crucial questions related to knowledge production, uncertainties and the manipulations of those who generate environmental injustices. Finally, we point to some strategies for strengthening the shared production of knowledge and the mobilization of communities that organize to confront environmental injustices. Key words: political epistemology, political ecology of health, health and dignity RésuméL'article traite des questions conceptuelles et méthodologiques liées aux risques environnementaux et aux problèmes de santé, dans le contexte de l'injustice environnementale et des conflits. Ce faisant, nous utilisons les cadres conceptuels de l'écologie politique et ce que nous appelons «épistémologie politique». Nous proposons une vision globale de la santé qui concerne non seulement la maladie et la mort, mais aussi la vie, la nature, la culture et les droits humains fondamentaux. Nous résumons ceci comme «la santé et la dignité», faisant écho aux voix d'innombrables personnes qui ont lutté pour le droit à la vie et les biens communs, et contre les impacts de l'industrie minière, l'agroalimentaire et l'industrie pétrolière. Par conséquent, notre concept de santé est intrinsèquement lié à la capacité des communautés touchées et de leurs alliés démocratiques de faire face à des conflits environnementaux (exploitation des ressources naturelles et de la main-d'oeuvre avec violation systématique des droits liés au travail, à la terre, à l'environnement et à la santé). Les mobilisations pour la justice environnementale luttent également pour l'autonomie des communautés, leurs cultures et le droit de maintenir des moyens de subsistance indigènes ou paysans. La façon dont la connais...
RESUMOProblemas de contaminação ambiental do solo, quando socialmente percebidos, geralmente suscitam conflitos socioambientais, tendo em vista as incertezas quanto aos seus possíveis riscos e impactos na saúde humana e nos ecossistemas. Além disso, tais problemas também evidenciam a distribuição desigual de riscos e impactos ambientais pela sociedadesobrecarregando grupos sociais mais vulneráveis -, conforme articulado pela noção de (in)justiça ambiental. Desta forma, o presente artigo contextualiza a problemática da contaminação do solo no âmbito da gestão ambiental, ao mesmo tempo em que a relaciona com a ocorrência de conflitos socioambientais. Para tanto, utiliza-se como estudo de caso principal o evento de contaminação por resíduos industriais decorrente das ações da empresa CENTRES no município de Queimados, RJ. Ao final, ressalta-se a importância do reconhecimento da dimensão do conflito socioambiental inerente aos problemas de contaminação do solo, de maneira a estimular processos democráticos e participativos de gestão dos mesmos, incorporando os grupos sociais afetados em todas as etapas destes processos, e, assim, deslocar o problema do domínio meramente técnico-científico para um mais ampliado, que leve em consideração a perspectiva social.
Resumo A vigilância popular ambiental (VPA) promove o protagonismo dos sujeitos em situação de vulnerabilidade ambiental na produção e avaliação de dados sobre a poluição a que estão submetidos. O objetivo deste trabalho foi analisar as experiências de VPA desenvolvidas em duas localidades impactadas por siderúrgicas: Santa Cruz/RJ e Piquiá de Baixo/MA. Nesses locais foram realizadas atividades de monitoramento ambiental comunitário (MAC) dos níveis de material particulado de 2,5 micrômetros (MP2,5) na atmosfera, entre novembro de 2016 e julho de 2017, utilizando equipamento monitor de qualidade do ar de baixo custo e fácil operação. As médias mensais dos níveis de MP2,5 em Piquiá e Santa Cruz foram elevadas, a depender da época avaliada, pois ultrapassaram a média anual recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de 10 µg/m3, e por várias vezes a média diária recomendada, de 25 µg/m3. A ideia principal desta proposta de monitoramento consistiu em estabelecer, com o engajamento das comunidades atingidas, um processo capaz de apresentar um contraponto às informações oficiais sobre cenários locais de poluição atmosférica. Os dados de poluição produzidos possibilitam que essas comunidades tenham uma atuação mais qualificada nos espaços públicos de debate e tomada de decisão.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.