O espelho de Próspero é um passo a mais na paixão latino-americanista que une autores tão diversos como Darío, Martí, Rodó, Mariátegui, Manoel Bonfim, Sérgio Buarque de Holanda ou Gilberto Freyre - toda uma linhagem, enfim, a conceber o espaço fantástico de uma "outra" América, pensada ou sentida no contraste com o grande irmão do Norte. O espelho norte-americano refunda, desde o século XIX, a geografia shakespeariana que impressionou Sérgio Buarque e que porventura o assombraria enquanto concebia, na aventura do exílio, Raízes do Brasil. Embora esse ensaio clássico não seja explicitamente referido n'O espelho de Próspero, parece razoável supor que o livro de Richard Morse seja uma espécie de reescritura de Raízes do Brasil, capaz de radicalizar a promessa ibero-americana que brilha, também, no horizonte de Sérgio Buarque de Holanda.
VISCONDE de Cairu é um autor bastante conhecido no campo das Ciên-cias Sociais e entre historiadores, notadamente por conta de seus escritos de cunho econômico e por sua atuação política, não apenas como deputado constituinte em 1823, mas como um dos idealizadores da abertura dos portos em 1808, ou ainda como um dos principais censores da corte. Como muitos de seus contemporâneos, formou-se numa Coimbra supostamente varrida dos resquícios da velha Escolástica, conectado portanto a muitas das mais modernas discussões filosóficas, morais e econômicas -num tempo em que a moral e a economia apenas começavam a distinguir-se. Um homem seguramente bem informado, sobretudo se se tiver em conta o quão provinciana era a corte do Rio de Janeiro.Como dado anedótico, note-se que Cairu é um censor muito consciencioso, e não se pode dizer que estulto, como são alguns censores, justamente porque sabia detectar com precisão o poder daquilo que lia. Tanto assim que, muitas das obras censuradas e portanto vedadas à leitura dos seus compatriotas aparecerão em sua obra magna moralizante, que é a Constituição moral e deveres do cidadão, editada entre 1824 e 1825 na Imprensa Régia do Rio de Janeiro. Interessante que essas fontes proibidas passem por uma espécie de filtro moralizante, capaz de ressignificá-las, dando-lhes um enquadramento muito particular, através do qual são "explicadas" para o leitor, no mais das vezes purgadas de seus efeitos maléficos. Notável o caso das máximas de La Rochefoucauld, utilizadas como o veneno terrível que ofereceria, a bem dizer, uma ética especular, isto é, o exato contrário daquilo que os jovens leitores da obra deveriam seguir, na linha das boas e transparentes ações. Aquilo que La Rochefoucauld desvendava -o impé-rio do amor-próprio -era o alvo com o qual se batia o visconde brasileiro.Desde que é tão candente o tema das paixões e do nacionalismo, parece razoável, e mesmo importante, discutir o discurso do visconde de Cairu, procurando fixar não o caráter apaixonado de seu nacionalismo, mas sim o temor que lhe causavam as mesmas paixões. E aqui, parece-me, o registro deve nos remeter às paixões no seu sentido mais antigo e original, isto é, não o desejo que brota do sujeito, senão este movimento da alma que independe de nossa vontade. Conviria, daí, retornar a um tempo anterior ao século das luzes.
Entre Jeca Tatu, o caboclo “inadaptável à civilização”, e o matuto solertee imprevisível que é Macunaíma, estende-se o largo espectro das discussões sobre ohomem e a terra, que marcaram tão fundo a imaginação social e literária brasileira.Este artigo pretende averiguar como, em diferentes fi gurações da “preguiça”, emMonteiro Lobato e Mário de Andrade, projetam-se seus desejos, seus temores e suasinterrogações sobre o futuro do Brasil.
Roots of Brazil, the debut book of historian and literary critic Sérgio Buarque de Holanda (1902–1982), is a classic work of Brazilian social critique. Conceptualized in Germany between 1929 and 1930 and published in Rio de Janeiro in 1936, during the Getúlio Vargas government (1930–1945), the book attempts to make sense of the dilemma of modernization in Brazil. Focusing on the crises stemming from urbanization and, in 1888, abolition, Buarque de Holanda analyzes how these factors put in check the personalism that had governed Brazilian sociability since colonial times. In exploring the Iberian roots of the mentality of the Portuguese colonizers, as well as concepts such as the “adventurer” and the “cordial man,” the book reveals the contentious formation of democratic public space in Brazil. The limits of liberalism, the seduction of totalitarianism, the legacy of slavery, and new forms of labor are some of the themes explored in Roots of Brazil. Still central to the Brazilian imagination today, the book has lent itself to a diversity of conservative and radical readings, including those of the author himself, who revised it substantially and never felt fully satisfied with his initial foray into topics that would captivate him throughout his academic career.
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