Entre duas preguiças: Macunaíma e o Jeca Tatu

Abstract

Entre Jeca Tatu, o caboclo “inadaptável à civilização”, e o matuto solertee imprevisível que é Macunaíma, estende-se o largo espectro das discussões sobre ohomem e a terra, que marcaram tão fundo a imaginação social e literária brasileira.Este artigo pretende averiguar como, em diferentes fi gurações da “preguiça”, emMonteiro Lobato e Mário de Andrade, projetam-se seus desejos, seus temores e suasinterrogações sobre o futuro do Brasil.

Nostálgicos na terra do banzo: o imigrante italiano em Juó Bananére e António de Alcântara Machado

“…Segundo Naquele momento, além da explicação da nossa formação racial assentada na mescla das "três raças tristes" (Machado, A. A., 1988, p.77), o povo brasileiro suportava ainda o peso excessivo de uma cultura que, para Lobato (1951), já havia cruzado os limites da saúde e começado a derrubar suas primeiras pétalas; dos conflitos sociais; do futuro incerto, tudo acontecendo simultaneamente sobre um mesmo palco, onde vários elementos teatralizavam a dança eclética da indefinição. Para aliviar a alma desses excessos, prescreve Menotti Del Picchia em um artigo publicado em 1920, é preciso "rir!".…”

“…Por outro lado, o momento crítico vivido pela sociedade permitiu que as sátiras de Bananére preparassem, gradativamente, a recepção do imigrado. Conforme Monteiro Lobato (1951), era preciso que a sociedade voltasse a rir para liberar-se das mazelas sociais, das desilusões trazidas pela República. A caricatura era o caminho e passava a ser um produto mais assimilável à medida que adotava temas populares, espelhando a voz muitas vezes silenciosa ou silenciada da sociedade paulista.…”

“…Tanto Lobato (1951) como Del Picchia (1920 sugerem o riso como remédio necessário à ineficiente panaceia prescrita pela República aos males herdados do Império. Imigrantes anarquistas, especialmente italianos, lideram movimentos e encabeçam lutas operárias que acabam por incomodar aqueles que haviam subvencionado a imigração.…”

“…Estamos sofrendo uma endosmose. (ibidem, p.1) Nesse mesmo artigo, referindo-se às Ideias de Jeca Tatu, de Lobato (1951), ele critica a indiferença do escritor frente ao fenômeno de absorção étnica que estava ocorrendo no país. Após asseverar que Lobato "subordina todas as questões e todas as coisas ao ponto de vista preconceituosíssimo do seu nacionalismo" (Couto, 1920, p.1), Couto observa que essa postura do pai espiritual e material de Jeca aproxima-se imensamente do caboclismo, uma vez que o "caboclismo" "é mais ou menos um sistema patriótico caracterizado pela ideia vã de fabricar, em dois tempos, um Brasil absolutamente brasileiro, rejeitando tudo o que é estrangeiro" (ibidem).…”

Hegemonia, álcool e proibicionismo: um estudo em economia política da punição

“…Não paga a pena... -Além de preguiçoso, bêbado; e além de bêbado, idiota, era o que todos diziam. 490 O colapso da ordem senhorial-escravista, a reconfiguração da forma do Estado, os fluxos imigratórios que intensificaram o processo de urbanização, tudo isso colocou novos problemas na agenda do controle social brasileiro no final do século XIX. Ante as particularidades nacionais, como "o passado escravista, a diversidade racial e mesmo a ausência de formação moral da população", 491 soluções aplicadas em outros países não poderiam ser importadas sem mediações.…”