Este artigo propõe uma discussão das implicações políticas e teóricas da miscigenação como uma formação discursiva, que produz como seu centro a figura idealizada e essencializada do mestiço - mulata ou mulato. Em segundo lugar, toma o caso concreto da construção de duas figuras de gênero racializadas no ambiente da chamada reafricanização da cultura e da política em Salvador: o brau e a beleza negra. O primeiro, uma performance masculina hiper-sexualizada e agressiva, marcada por releituras juvenis vernáculas da "cultura" funk-soul; a segunda, um ideal de mulher e de beleza feminina, oscilante entre políticas de identidade e formas de subjetivação definidas pela relação com o mercado. Em ambos os casos, observa-se a encenação de uma crítica prática ao "regime de verdade" da miscigenação.
Neste artigo, o autor pretende explorar desenvolvimentos do processo conhecido como reafricanização da cultura e da política em Salvador corporificados na cristalização transitória de determinada figura social conhecida como o brau. Essa seria uma inflexão de masculinidade informada pelas tensões raciais e de gênero em Salvador, assim como uma re-apropriação localizada de temas culturais da diáspora africana. Braus foram (são) jovens negros da periferia que re-inventam uma visualidade/corporalidade negra a partir de releituras da 'cultura' soul norte-americana e ao mesmo tempo são estigmatizados pela classe média como violentos, de "mau-gosto" e hiper-sexualizados, ou seja, excessivamente 'negros' e excessivamente 'masculinos', em uma hiperbolização que em certo sentido contradiz com sua estigmatização.
Neste ensaio etnográfico procura-se, com base em investigação conduzida entre jovens moradores do grande loteamento popular na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, interrogar a experiência da modernização em ambientes periféricos e empobrecidos. Com atenção específica para os efeitos estruturantes dessa modernização sobre as práticas de raça e gênero. Busca-se com isso fornecer novos elementos tanto para o debate sobre a especificidade da modernização brasileira, quanto para a compreensão das relações raciais e de gênero em contextos de pobreza. A partir dos dados produzidos por esta pesquisa pretende-se representar o "ponto de vista" dos agentes e as condições objetivas para a reprodução das desigualdades, algo que parece crucial para a elaboração de políticas adequadas de saúde sexual e reprodutiva para juventude, respeitando-se as condições interseccionais de produção da desigualdade e da violência.
The Black man continues to be the very opposite of an interlocutor; he remains a topic, a voiceless face under private investigation, an object to be defined and not the subject of a possible discourse. Paulin Hountondji (apud Apter, 1992, p. 95) O narrado e o imaginado quanto pela produção do outro significativo, condição essencial para a produção de sentido dos discursos.
ResumoO ar ti go dis cu te, a par tir da po lê mi ca de sen ca de a da com a pu blica ção do ar ti go "So bre as Arti ma nhas da Ra zão Impe ri a lis ta", de P. Bourdi eu e L. Wac quant, as pec tos do de ba te so bre as re la ções ra ci a is bra si le iras vin cu la dos a dois as pec tos de ter mi na dos: i) a for ma ção do cam po cien tí fi co como his tó ri ca e so ci al men te de ter mi na do; e ii) a co lo ni a li da de de po der/sa ber que pa re ce de fi nir a cons ciên cia in te lec tu al na ci o nal com o sen ti men to de ina de qua ção. Esta ina de qua ção, mar ca his tó ri ca da cons ciên cia in te lec tu al na ci o nal, já foi ex pli ca da como re sul tan te da inser ção pe ri fé ri ca do Bra sil no ca pi ta lis mo mun di al. Pro cu ra re mos, nes te sen ti do, apon tar al guns pa râ me tros para a re con si de ra ção da po lê mi ca so bre a in tro du ção de ca te go ri as "es tran ge i ras" no cor pus da re fle xão soci o ló gi ca so bre o ne gro no Bra sil.Pa la vras-chave: cam po ci en tí fi co, crí ti ca ide o ló gi ca, co lo ni a li da de do po der, so ci o lo gia do ne gro no Bra sil.
Neste estudo, procuro explorar determinada perspectiva crítica relacionada à articulação entre raça, sexualidade e gênero, entendendo que a pornografia gay se prestaria exemplarmente a flagrar a produção de um sistema ordenado de classificações e categorias, estereótipos e representações, instituídos como um discurso capaz de ser lido como o inventário da fetichização socialmente produzida para o desejo sexual racializado. Para desenvolver essa perspectiva apresento uma breve discussão teórica sobre a pornografia, interrogada pela articulação prazer/poder e a leitura de três conjuntos êmicos de representação racial associados ao desejo homossexual: a negritude, a branquidade e a brasilidade.
Neste artigo, o autor apresenta dados preliminares de pesquisa etnográfica com jovens de ambos os sexos em grande bairro popular na periferia de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O objetivo da pesquisa é interrogar sobre a experiência da modernização em ambiente de pobreza e subcidadania e, mais especificamente, como as práticas e representações de raça e gênero são mobilizadas pelos agentes nesse contexto. O debate sobre modernização e relações raciais, assim como uma descrição sociológica sintética do bairro, ajudam a enquadrar as observações etnográficas, relacionadas principalmente aos usos do corpo, sua racialização e gendering; a experiência da subalternidade de classe; e o sentimento de excentricidade ou condição periférica.
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