O objetivo desse artigo é analisar, a partir da obra de Ludwik Fleck, o papel da biologia e das ciências da vida como matriz modelar na constituição de uma teoria e metodologia de escrita da história da ciência. O que aqui é chamado de “modelo biológico” na historiografia da ciência. Em contraposição ao modelo de história da ciência kuhniano inspirado fortemente na física clássica – ainda que posteriormente Kuhn tenha também se referenciado na biologia – em Fleck, podemos encontrar uma história da ciência que se inspira na biologia e na medicina apresentando uma fundamentação epistemológica mais robusta que, consequentemente, permite uma melhor elaboração da escrita da história da ciência. Com efeito, analisando essa questão em Fleck também podemos constatar que – além da afirmação dos aspectos sociais e históricos na construção do conhecimento científico como por ele defendido –, sua epistemologia também se assenta profundamente no referencial biológico fazendo, assim, do pensador polonês um precursor dessa abordagem. Ao destacar a importância da influência da biologia em Fleck, o artigo também salienta uma leitura não kuhniana do pensador polonês.
The article aims to demonstrate the possibility of writing the history of science from the later Wittgenstein viewpoint. To accomplish this purpose, it exposes the “theory of history” of Wittgensteinian inspiration, called “grammar of history”. Then it discusses the idea of a Wittgensteinian-inspired “theory of science”, here called “grammar of science”. Finally, based on the interconnections between the grammar of history and the grammar of science previously exposed, some guidelines for writing the history of science from a Wittgensteinian perspective are outlined.
Resumo:Esse artigo procura mostrar a crítica de Thomas Kuhn a algumas concepções da historiografia da ciência contemporânea que radicalizaram muitas das posições formuladas inicialmente pelo próprio Kuhn. Pretende-se ainda mostrar que um reposicionamento de Kuhn, a partir de sua crítica a seus sucessores, o aproxima mais de suas influências iniciais, em especial,
Inspirado nas noções de gramática e pragmática da linguagem de Wittgenstein, a proposta desse artigo é apresentar a ciência da história como uma “gramática”. Talvez o sentido geral da noção de gramática do segundo Wittgenstein pudesse ser expresso da seguinte forma: o que é lógico ou racional está expresso nas regras da gramática de nossos comportamentos sociais. O que é lógico ou não é dito pela gramática. Podemos estender essa concepção de racionalidade gramatical de Wittgenstein para a ciência da história que em seu modus operandi também pode ser entendida como uma gramática. Essa “gramática da história” – como uma caracterização da racionalidade científica que insere sentido aos processos históricos – pode ser concebida como uma “teoria da história” que compreende tais processos históricos como uma “teia”, uma rede flexível e multidirecional de linguagens, práticas e interações sociais que se estende por meio de “semelhanças de família”. Essa rede gramatical não se propõe a fornecer “uma” inteligibilidade total e completa de uma “grande narrativa” do mundo, mas simplesmente proporcionar a compreensão de nossa condição de seres inseridos na gramaticalidade de nossa própria história, ainda que nossa gramática compartilhe “semelhanças de família” com outras gramáticas.
O s estudos de história da ciência têm ocupado um espaço cada vez maior nos círculos acadêmicos brasileiros, com destaque para a crítica de uma visão tradicionalista, na qual prevaleciam as biografias elogiosas de grandes gênios e/ou narrativas de descobertas e invenções progressivas a desaguar em pretensas certezas do presente. Novas perspectivas têm sido exploradas na construção da história das ciências no Brasil, não só pela produção expressiva de livros, revistas (como é o caso de História, Ciências, Saúde -Manguinhos), dissertações e teses em programas de pós-graduação, mas também pela troca profí-cua de experiências e debates por ocasião de eventos, tais como os seminários organizados pela Sociedade Brasileira de História da Ciência.Nesse contexto, é compreensível o interesse crescente dos estudiosos brasileiros acerca de publicações internacionais diretamente dedicadas ao tema da história da ciência. A busca de um diálogo pluralista e multicultural -do qual possa emergir uma análise densa e dinâmica da ciência como uma prática social e historicamente constituída -possibilita-nos um conhecimento mais amplo das especificidades do fazer científico em diferentes espaços e temporalidades.Essas considerações justificam a presente resenha acerca de uma nova revista européia dedicada ao estudo da história da ciência, Jahrbuch für Europäische Wissenschaftskultur (Yearbook for European Culture of Science), editada pela Steiner, em Stuttgart, Alemanha. O periódico tem freqüên-cia anual (consultar www.steiner-verlag.de) e seus artigos são publicados em alemão, italiano, francês e inglês. Os editores pertencem a renomadas instituições européias: Olaf Breidbach, do
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