Foram analisados os processos de trabalho de três equipes da ESF no município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil, bem como a gerência do cuidado, tomando as visitas domiciliares como foco da análise. Optou-se pelo estudo de caso, selecionado em um contexto complexo, com pessoas em situação de fragilidade, incerteza e sofrimento. Resultados da pesquisa destacam o improviso dos profissionais frente à precariedade das condições de trabalho e aos desafios impostos cotidianamente para a realização das visitas e para lidar com demandas que emergem no território. Embora a visita domiciliar se apresente como instrumento potente para o planejamento das ações de saúde e a reorientação das práticas, ainda encontra importantes entraves para sua consolidação, especialmente por exigir grande disponibilidade interna do profissional de saúde para lidar com o inesperado e o diverso.
O presente texto procura explorar algumas questões derivadas das relações entre subjetividade, processos intersubjetivos/grupais e processos de planejamento e gestão nas organizações de saúde. Essa problemática tem-se destacado, fundamentalmente, a partir da constatação dos obstáculos à implementação dos processos de mudança nas organizações, bem como dos limites dos instrumentais teórico-metodológicos disponíveis em planejamento e gestão para favorecer tais processos. O setor saúde no Brasil tem sido, simultânea e paradoxalmente, espaço de experimentação de propostas inovadoras nos campos da assistência e da gestão pública, bem como locus privilegiado de manifestação das contradições sociais e do intenso processo de exclusão, segregação e desvalorização da vida que tem marcado nossa sociedade. Neste contexto, o que nos interessa essencialmente examinar é até que ponto é viável a construção de projetos coletivos, no âmbito das organizações de saúde, e como é possível abordar suas dimensões cultural, subjetiva e inconsciente - condição, nos parece, indispensável para se aprender sobre os limites (e possibilidades) de governabilidade dessas organizações.
O presente artigo se propõe a discutir alguns desafios para a produção do cuidado em saúde, considerando os processos intersubjetivos e inconscientes que o condicionam. A abordagem metodológica de análise se apóia em categorias teóricas da Psicossociologia francesa, da teoria psicanalítica sobre os processos intersubjetivos/grupais e da Psicodinâmica do Trabalho. Os padrões de sociabilidade e os modos de subjetivação dominantes na sociedade impõem sérias limitações ao trabalho em saúde, que se somam às de ordem material, tecnológica ou organizacional, mais facilmente reconhecidas. A dimensão intersubjetiva/inconsciente do trabalho em saúde produz efeitos sobre a qualidade da assistência. A especificidade do trabalho em saúde e suas exigências de trabalho psíquico são discutidas, examinando-se suas consequências para a qualidade do cuidado. Algumas possibilidades de análise e abordagem da dimensão intersubjetiva/inconsciente do trabalho em saúde são apresentadas e podem contribuir para um novo modo de produzir a gestão do cuidado em saúde.
OBJETIVO: Este estudo visou a identificar fatores associados ao abandono do serviço de saúde por pacientes com HIV/aids. MÉTODOS: O estudo foi desenvolvido no Serviço de Assistência Especializada de um hospital universitário do Rio de Janeiro, considerando uma amostra estratificada de pacientes adultos, incluindo todos os casos de abandono (155) e 44,0% dos 790 casos em acompanhamento regular. Análises bivariadas visaram a identificar associações entre o abandono do serviço de saúde e variáveis demográficas, socioeconômicas e clínicas. Um modelo de regressão logística e um modelo de Cox foram utilizados para a identificação dos efeitos independentes das variáveis explicativas sobre o risco de abandono, no segundo caso incorporando a informação sobre a ocorrência do desfecho no decorrer do tempo. RESULTADOS: Os pacientes tinham em média 35 anos, sendo predominantemente do sexo masculino (66,4%) e de nível socioeconômico baixo (45%). Em ambos os modelos, mostraram-se consistentemente associados ao risco de abandono estar desempregado ou possuir vínculo instável, usar drogas ilícitas e ter antecedentes psiquiátricos - associação positiva; e idade, ter o diagnóstico de aids e ter usado vários esquemas antirretrovirais - associação negativa. Na regressão logística, mostrou-se também positivamente associado à ocorrência de abandono o tempo entre o diagnóstico e a primeira consulta, enquanto no modelo Cox, o hazard de ocorrência de abandono mostrou-se positivamente associado a ser solteiro e negativamente associado a ter nível de escolaridade mais elevado. CONCLUSÕES: Os resultados deste trabalho permitem a identificação de pacientes com HIV/aids mais vulneráveis ao abandono do serviço de saúde.
RESUMO A atenção integral em saúde mental é um desafio para os serviços de saúde, sobretudo no que diz respeito ao acompanhamento não psiquiátrico. O objetivo deste artigo é apresentar uma revisão bibliográfica acerca do atendimento ofertado ao paciente com transtorno mental grave, internado no hospital geral devido a complicações clínico-cirúrgicas. Como resultado, verifica-se que as publicações, ainda que escassas, indicam que o louco é considerado perigoso, violento e imprevisível. Assim, conclui-se que não basta criar no hospital geral leitos de atenção integral a pacientes com transtorno mental sem que se promova espaços de elaboração das representações negativas associadas à loucura.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.