* Esse artigo é originário das teses e ensaio de Livre Docência das autoras, as quais em conjunto produziram sínteses das idéias elaboradas sobre o tema da gestão, destacando seus saberes e seus enfoques na atenção primária e em organização hospitalar. A importância da prática de gestão, bem como a participação dos enfermeiros e o espaço que ocupam na dinâmica do processo organizacional das instituições de saúde contemporâneas, remetem-nos a pensar no caráter complexo e polêmico da gestão, que por conseguinte constitui-se em desafio teórico-prático para os gestores do setor saúde, especialmente os enfermeiros, que têm sobre si responsabilidades de gerir unidades e serviços. Neste sentido, os saberes se constituem em importante recurso de ação e se traduzem num instrumento legitimador do trabalho de diferentes profissionais, da mesma forma que se revertem em fontes de autonomia, autoridade e poder dos sujeitos no contexto de suas práticas. Os níveis hierárquicos criados no seio das organizações geram diferentes possibilidades de concepção e execução do trabalho de gerência, à medida das diversas configurações de padrões, processos e elementos a que se referem as posições funcionais e estruturais dos gestores. Assim, no âmbito das distintas posições hierárquicas há também distintas formas de se conceber e executar as ações gerenciais, as quais são produzidas e reproduzidas de acordo com a natureza dos saberes subjacentes. A explicitação da natureza de tais saberes é importante na medida das diferentes valorizações sociais a que correspondem, valorizações estas resultantes da apreensão e monopólio de um dado conhecimento por parte dos sujeitos envolvidos no processo de trabalho. Então, é em torno da problematização dos saberes que esta análise teórica se apresenta, no sentido da caracterização dos saberes indeterminados e dos saberes-fazer.O saber-fazer é um saber que se operacionaliza em situações padronizadas e regulamentadas e está associado ao trabalho que obedece uma rotina prefixada. Não está subjacente a este saber a aplicação de um exercício intelectual interpretativo e sua aquisição se dá na prática pela repetição de procedimentos codificados. Esta definição, entretanto, não dá conta de objetivar como este saber é construído e sustentado socialmente e, neste sentido, algumas análises são esclarecedoras em dois níveis. Num primeiro nível, apreendese que o saber-fazer está incorporado por elementos do saber científico, o que torna possível fazer uma distinção entre o saberfazer empírico e o saber-fazer analítico. O primeiro é um saber que se apóia na interação entre o trabalhador e seus instrumentos e objeto de trabalho, mas não "integra a percepção cognitiva e formalizada do processo subjacente aos atos de trabalho". Isto é, o trabalhador não apreende cognitivamente o processo de trabalho como um todo e seu saber acaba por se restringir ao campo da rotinização. Já o saber-fazer analítico espelha uma componente interpretativa, visto que a relação entre o sujeito, o objeto e os meios de trabalho é precedida d...