entendemos que este dado cronotópico merecia algumas reflexões. Pô-lo, talvez, nesses dois espelhos do tempo, de que já falava Salomão, o do passado e o do futuro, ainda que o Homem consiga ver mais facilmente o que foi do que aquilo que há-de ser ou fazer.Vemos, então, no espelho do passado da Gastronomia, Albino Forjaz de Sampaio, da Academia das Ciências de Lisboa, que, em 1939, no livro Volúpia. A nona Arte: a Gastronomia escreveu, depois de citar, entre outros Brillat-Savarin: "São breves digressões à beira de um assunto bem interessante mas quase ainda não tratado. Porquê? Ignoro. Não há falta de tratadistas ilustres, nomes eminentes na sociedade, nas letras que se lhe dedicam. Entre nós os homens não estão acima nem abaixo do assunto, estão fora, nunca o cultivaram, parecia-lhes vergonhoso talvez. Parecia. Hoje não direi". O optimismo de Forjaz Sampaio foi enorme comparado com a realidade que se seguiria, pelo menos, até finais do século XX, se pensarmos na entrada da Gastronomia na investigação científica, e princípios do século XXI, se considerarmos a sua elevação a matéria de estudo e formação graduada no Ensino Superior.E no 1.º caso, a investigação ao serviço da Gastronomia, jamais poderemos esquecer Salvador Dias Arnaut e Giacinto Manuppella, autores da 1.ª edição, em 1967, do Livro de Cozinha da Infanta D. Maria. Ao primeiro, coube fazer aquela que é ainda hoje a melhor síntese da alimentação na Idade Média, no reino de Portugal, enquanto o segundo se encarregou da transcrição integral do manuscrito conservado na Biblioteca Nacional de Nápoles. A edição foi da responsabilidade da própria Universidade. Que sinal importante dava a nossa Academia! No entanto, esta obra não foi suficiente para congraçar o interesse e a valorização socio-cultural pela Gastronomia havia tanto tempo desejada.Teremos de esperar pelas últimas décadas do século XX para assistirmos à publicação de dissertações de mestrado sobre a matéria em apreço.