Para responder ao convite da Profa. Eni Orlandi - e fazer parte do número temático dos Cadernos destinado à história das idéias lingüísticas, em domínios de estudo da linguagem que compõem uma área de investigação - apresento alguns caminhos tomados por uma Neurolingüística que têm sua origem traçada por condições históricas, início dos anos oitenta, em nosso Departamento, tempo caracterizado por debates fundantes, nele, de idéias e ideais da Lingüística, em várias de suas dimensões, que abriam novas possibilidades de interfaces - envolvendo uso, funcionamento e conhecimento da linguagem e de sistemas de línguas naturais.
Esse texto aproxima afásicos, que deixam de exercer a língua, de crianças com dificuldades em sua entrada na língua escrita. Tal reflexão se faz com base em práticas com a linguagem envolvendo fala, leitura e escrita; e na teorização atual desenvolvida pela Neurolinguística Discursiva, sobretudo à luz de Jackson, Freud e Jakobson.
O objetivo deste artigo é apresentar princípios teóricos e práticos da Neurolinguística Discursiva a partir da avaliação e acompanhamento longitudinal de adultos afásicos e de crianças com dificuldades escolares que afetam o aprendizado da leitura/escrita nos ambientes discursivos Centro de Convivência de Afásicos e Centro de Convivência de Linguagens da Universidade Estadual de Campinas. Os dados mostram processos de descoberta e conhecimento das dificuldades que os sujeitos apresentam e que põem em suspenso a relação do sujeito com a linguagem, e que, mediante as várias práticas discursivas em que se engajam, ou podem se engajar, podem vir a acontecer novamente em ambientes discursivos.
Este artigo apresenta parte do trajeto histórico da Neurolingüística Discursiva, retomando conceitos e práticas que articulam discurso com atividade constitutiva, cérebro com linguagem/trabalho. Os dados de linguagem produzidos em meio à visão discursiva e à reflexão acerca da afasia possibilitam por em destaque processos de significação que se interpõem na impossibilidade de dizer por meio de arranjos que selecionam e combinam palavras, o que faz fluir o discurso. Os dados mostram que sujeitos afásicos não dispõem, como antes, dos recursos expressivos para significar, mas experimentam na interlocução outros processos de significação que ajudam na tradução intra e inter-semiótica.PALAVRAS-CHAVE: Neurolingüística. Afasia. Dislexia. Transtorno do déficit de atenção. Práticas com a linguagem.ABSTRAC This paper shows part of the historical course of Discursive Neurolinguistics, retaking concepts and practices that articulate discourse with constitutive activity, brain with language and work. A discursive point of view enabled us to show up specific processes in aphasic language that affect the speech flow. The data show that aphasics subjects do not have, as before, the expressive resources to mean, but use other ways and the experience in other processes to help them in the translation meaning intra-and inter-semiotics. KEYWORDS: Neurolinguistic. Aphasia. Dyslexia. Attention-deficit hyperactivity disorder. Language practices.
Este ensaio apresenta um apanhado dos principais movimentos do projeto Neurolinguística Discursiva: afasia e infância, apoiado pelo CNPq, com foco na relação entre escrita na afasia e escrita infantil, por meio de dados que revelam um curso comum entre a criança e o afásico, em tempos diversos da vida. A criança entrando no sistema de escrita e o afásico tendo perdido relações que sustentam esse sistema. Destaca-se, também, a articulação teórica – novos e velhos autores –, realizada para dar continuidade à despatologização de crianças normais e à correlação entre afasia e infância. Ressalta-se, ainda, o investimento nas parcerias previstas no Projeto, com Fernanda Freire e Sonia Sellin Bordin. Com Freire demos continuidade aos temas da avaliação discursiva/prática discursiva, ao banco de dados de neurolinguística (BDN), bem como à visibilidade das cenas enunciativas que este último confere aos dados, condição fundamental para a análise e a escrita de caso. A questão do ritmo da fala e da escrita foi focalizada nos dados de afásicos e iniciantes de escrita. Com Bordin, continuamos analisando dados que ampliam e refinam a relação entre afasia e infância, investimos na análise da relação com as famílias e escolas, destacando como incluir crianças que estão barradas no aprendizado da leitura/escrita. Também refinamos a descrição dos dois ambientes discursivos que são a fonte de dados do BDN: o CCA e o CCazinho. A metodologia, tema presente nas diversas produções da área, é retomada neste texto.
RESUMO:O presente artigo focaliza a inter-relação entre a entrada da criança no mundo das letras e a involução que o afásico experimenta no que diz respeito à leitura e escrita, a partir da teorização proposta pela Neurolinguística Discursiva, chamando a atenção, em especial, para o ajuste que o falante (criança ou afásico) faz ao ler palavras depois de escrevê-las, para que a escrita que propôs se ajuste à fala que lê, diferente de como diz a palavra sem a escrita como apoio. Para tanto, analisamos dados de escrita de uma criança e de dois afásicos, que se encontram em momentos diferentes em relação à retomada da escrita, com base em uma metodologia heurística que busca descobrir o que está encoberto pelas dificuldades escolares e pela afasia e o que se desponta nessa descoberta. Os resultados mostram caminhos comuns que crianças e afásicos tomam e, assim, contribuem para uma maior compreensão tanto do processo normal de aquisição e uso da escrita quanto de processos patológicos que ocorrem na afasia. Palavras-chave: afasia, infância, fala, leitura, escrita, Neurolinguística Discursiva ABSTRACT: This article focuses on the interrelation between the child's writing acquisition process and the involution that the aphasic experiences with regard to speech, reading and writing. The theorization comes from Discursive Neurolinguistics, especially to the adjustment that the speaker (child or aphasic) makes when reading words after writing them, so that the writing he proposes fits into the speech he reads, different from what occurs when he says the word without writing as support. To achieve our goal, we analyze the writing data of a child and two aphasics who are at different points in the process of writing restoration, based on a heuristic methodology that seeks to discover what is hidden by school difficulties and aphasia and what emerges in this discovery. The results show common paths that children and aphasics take and this contributes to a greater understanding of normal acquisition process and use of writing as well as the pathological processes that occur in aphasia.
Discutem-se, neste texto, alguns episódios significativos para a compreensão da relação que estabelecem com a linguagem tanto os afásicos em situação de reconstrução dessa linguagem, como as crianças em fase de aquisição da sua representação escrita. Argumenta-se que nessas produções, para além do estilo “telegráfico” que parece caracterizar algumas delas, devem-se reconhecer indícios de procedimentos de significação intermediários que constituem momentos cruciais do processo de (re)elaboração lingüística tanto dos afásicos como das crianças.PALAVRAS-CHAVE: Linguagem de afásicos. Primeiras escritas de crianças. Estilo “telegráfico”. Linguagem interna. Operações epilingüísticas. Processos intermediários de significação.ABSTRACT This paper discusses meaningful events that can help understand the relationship between the linguistic behavior of aphasic subjects in the process of recovering language and of children in the process of acquiring written language. We argue that both kinds of linguistic productions reveal more than what, at first sight, might be considered a "telegraphic style". What these kinds of productions exemplify are in fact intermediate signifying procedures that represent crucial moments of linguistic (re)elaboration in aphasic and in children language as well. KEYWORDS: Aphasic language. Children writings. “Telegraph style”. Internal language. Epilinguistic operations. Intermediate signification procedures.
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