Esse texto aproxima afásicos, que deixam de exercer a língua, de crianças com dificuldades em sua entrada na língua escrita. Tal reflexão se faz com base em práticas com a linguagem envolvendo fala, leitura e escrita; e na teorização atual desenvolvida pela Neurolinguística Discursiva, sobretudo à luz de Jackson, Freud e Jakobson.
O objetivo deste artigo é apresentar princípios teóricos e práticos da Neurolinguística Discursiva a partir da avaliação e acompanhamento longitudinal de adultos afásicos e de crianças com dificuldades escolares que afetam o aprendizado da leitura/escrita nos ambientes discursivos Centro de Convivência de Afásicos e Centro de Convivência de Linguagens da Universidade Estadual de Campinas. Os dados mostram processos de descoberta e conhecimento das dificuldades que os sujeitos apresentam e que põem em suspenso a relação do sujeito com a linguagem, e que, mediante as várias práticas discursivas em que se engajam, ou podem se engajar, podem vir a acontecer novamente em ambientes discursivos.
Discutimos as particularidades do processo de aquisição de leitura e escrita do sujeito RM, em acompanhamento fonoaudiológico dos 8 aos 12 anos em virtude de queixas de dificuldades escolares, e as diferenças entre seu desempenho na escrita e na leitura, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Neurolinguística Discursiva, em especial, o conceito de palavra e a relação refletido/voluntário e irrefletido/automático apresentados por Freud em seu texto sobre as Afasias. A análise dos dados mostra que ao final do acompanhamento o sujeito apresentava um desempenho melhor na leitura do que na escrita - que passou a ser mais produtiva quando silenciosa -, diferente do que ocorria no início do processo; e que a sua escrita ainda apresenta problemas de ortografia, acentuação, pontuação e traçado de letra, embora, quando questionado, saiba soletrar as palavras corretamente. Esse aparente retrocesso da escrita de RM pode ser explicada por duas razões: (a) automatização não convencional da grafia de algumas palavras, em especial aquelas que usam as letras “b” e “d”; (b) registro de fatos e acontecimentos que exigem maior complexidade sintática, o que desvia sua atenção de como escrever para o quê escrever.
Este artigo põe em discussão o excesso de diagnóstico realizado na área de leitura e escrita, questiona essa situação e propõe a observação de um conjunto de fatores que concorrem para que seja marcada no corpo da criança a causa do seu insucesso escolar.PALAVRAS-CHAVE: Neurolinguística. Linguagem. Leitura. Escrita. Diagnósticos.ABSTRACT This paper puts under discussion the excess of diagnosis carried through in the reading and writing area, as well raises questions about this situation and considers different aspects of a set of factors that concur so that the cause of his/her school failure is marked directly in the body of the child. KEYWORDS: Neurolinguistic, Language. Reading. Writing. Diagnostic.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.