O objetivo deste artigo é investigar uma das principais funções dos partidos políticos em uma democracia representativa: organizar e controlar a produção de representação. Para isso, dois processos intrapartidários serão examinados: a formação e manutenção da estrutura organizacional e a seleção de candidatos à Câmara dos Deputados realizados pelo PFL, PP, PMDB, PSDB e PT no estado de São Paulo. A proposição que orienta a análise é que quanto maior o controle dos partidos políticos sobre esses dois processos, maior será a vitalidade de suas organizações partidárias na dinâmica representativa.
This paper aims to investigate one of the main roles of political parties in a representative democracy: to organize and to control the production of representation. In order to do that, two internal party processes will be examined: the setting and maintaining of the party's organizational structure and the candidate selection for the Camara dos Deputados in the state of Sao Paulo for the PFL, PP, PMDB, PSDB and PT parties. The analysis is based on the idea that the more control political parties have over these two processes, the more vital are their party organizations in the representative dynamics
Há décadas a constatação corrente no Brasil é de que os partidos pouco importam para explicar o comportamento dos eleitores brasileiros. Entretanto, esse cenário de baixa identificação partidária contrasta com a observação de que, ao menos para as eleições presidenciais a competição eleitoral tem se estruturado em torno de duas organizações partidárias: PT e PSDB. O objetivo deste artigo é demonstrar que mesmo que os partidos de fato não estejam internalizados em termos de identidade partidária, estamos vivenciando importante movimento no sentido de uma divisão do eleitorado entre as duas principais organizações políticas em termos de simpatia partidária, redundando na estruturação de um sistema bipartidário ao nível da disputa nacional. Com base nas respostas dos entrevistados do ESEB 2002, 2006 e 2010 sobre as eleições presidências verificamos que nesses pleitos as simpatias eleitorais pelo PT e PSDB se mostraram um dos principais componentes de explicação do voto nos candidatos. Este artigo também destacou que apesar das simpatias partidárias serem uma heurística utilizada para decisão do voto entre os eleitores com maior escolaridade, foi possível observar que mesmo entre os menos escolarizados essa variável foi fundamental para explicar o voto, evidenciando que mesmo entre eleitores com menor conhecimento político, os partidos têm auxiliado na decisão do voto.
For decades the conventional wisdom in Brazil has been that political parties do not matter in explaining the behavior of Brazilian voters. However, this scenario of low partisan identification contrasts with the observation that, at least for presidential elections, electoral competition has been structured around two party organizations: those of the PT and PSDB. The aim of this article is to demonstrate that, even if parties are in fact not internalized in terms of party identification, we are witnessing an important division between two principal political organizations in terms of party preference, reflecting the emergence of a bipartisan system at the national level. On the basis of responses of interviewees about the presidential elections in the CSES-ESEB of 2002, 2006, and 2010, we see that in these elections the electoral affinities for the PT and PSDB are some of the principle components of an explanation of the vote. This article also emphasizes that despite the fact that party preference is more pronounced as a means of candidate selection for those with a high degree of education, it is possible to observe that even among those with less education this variable is fundamental to explain the vote, providing evidence that even for voters with less knowledge of politics, the parties are helping to structure the voting decision
ResumoO artigo recupera a discussão dos conceitos de filiação partidária e identificação partidária na Ciência Política contemporânea e analisa os respectivos dados a partir dos resultados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de 2014. Analisamos os dados sobre a filiação partidária e a identificação partidária, primeiro através de inferências descritivas a respeito da distribuição das variáveis na amostra do ESEB, depois avaliando o poder explicativo das variáveis para entender diferentes dimensões do comportamento e das atitudes políticas dos entrevistados. Identificamos três tipos de filiados: (i) os filiados sem empatia por um partido; (ii) os que tem empatia pelo partido ao qual estão filiados (50%) e (iii) os que apresentam empatia por um outro partido. Esses resultados indicam a necessidade de explorar diferentes dimensões da filiação partidária em futuras pesquisas. Em relação à identificação partidária, verificamos que ela contribui para explicar a probabilidade de filiação e de se engajar em diferentes formas de ativismo político. A variável identificação partidária também ajuda prever o comparecimento eleitoral. Os fenômenos da filiação partidária e da identificação partidária, pouco valorizados na Ciência Política brasileira, apresentam padrões consistentes e são ferramentas importantes para entender o comportamento político dos cidadãos. Futuras pesquisas devem dedicar mais atenção a esses fenômenos.PALAVRAS-CHAVE: filiação partidária; identificação partidária; partidos políticos; participação política; Estudos eleitorais. I. Introdução 1A maior parte da literatura acadêmica diagnostica o vínculo entre os partidos políticos e o eleitorado brasileiro como fraco. A conturbada tradição de diferentes sistemas partidários ao longo da história brasileira e a dificuldade de associar as divisões partidárias a clivagens sociais ou ideológicas são alguns dos fatores arrolados para explicar porque os partidos não contam com eleitores fiéis (Soares 1982). A proliferação de siglas partidárias desde a volta ao multipartidarismo, a partir de 1980, e as altas taxas de fragmentação e migração partidárias seriam sintomas desses laços fracos entre partidos e sociedade. A curta tradição das organizações partidárias e o número elevado de siglas dificultaria a criação de vínculos estáveis entre eleitorado e partidos que caracteriza outras democracias representativas (Kinzo 2005). Finalmente, as pesquisas eleitorais indicam que os partidos políticos têm um papel periférico no imaginário político. Poucas semanas após o pleito somente uma pequena fração dos votantes se lembra em qual partido votou na última eleição 2 .Todos esses indícios são usualmente arrolados para fundamentar a tese da relevância limitada dos partidos políticos para estruturar as opiniões e ações do eleitorado brasileiro. Por outro lado, confrontamos o fato de que os eleitores reconduzem os partidos políticos aos cargos mais altos aproximadamente na mesma proporção dos pleitos passados. A identificação com partidos políticos no eleitorado é baixa, mas ...
Os partidos políticos, apesar de crescentes questionamentos quanto à sua capacidade de representação, continuam exercendo funções fundamentais para o bom funcionamento dos regimes democráticos. Entre essas funções está a de articulação entre os cidadãos e as esferas de poder político, que acontece, especialmente, por meio do processo de seleção de candidatos a cargos eletivos. Mas quais são os efeitos do processo de seleção de candidatos sobre a competição política para a Câmara dos Deputados no Brasil? Com o objetivo de responder a essa questão, o artigo cumpre com uma dupla tarefa: Identificar os fatores que teoricamente afetam o processo de seleção de candidatos a cargos eletivos proporcionais, e suas consequências para o sistema partidário; e verificar qual é o controle que as lideranças dos partidos analisados apresentam sobre a composição da lista partidária. Para cumprirmos os objetivos levantados, analisamos os dados relativos às eleições para a Câmara dos Deputados, no estado de São Paulo, em 2006 e 2010. Mostramos que há uma coordenação que envolve o número de candidatos, o espaço geográfico em que competem e o seu perfil socioocupacional, além da própria distribuição de recursos partidários. O trabalho aponta que os partidos brasileiros não são tão fracos e desorganizados como parte da literatura indica. Sugerimos que os partidos são capazes de agir de maneira coordenada nas eleições para a Câmara, estabelecendo estratégias de acordo com elementos mais conjunturais (a perspectiva de contar com "puxadores" de votos, por exemplo) ou estruturais (a necessidade de organizar a lista geográfica e socialmente para coordenar recursos).
ResumoEste artigo tem o propósito de realizar um balanço político das eleições de 2014. Para isso, busca responder algumas questões-chave a respeito da situação dos partidos e do sistema partidário brasileiro no momento em que estamos completando 30 anos dessa segunda experiência de democracia competitiva. Que correlação de forças essas eleições expressaram no país? Quais partidos se fortaleceram em cada tipo de disputa? A polarização PT versus PSDB se enfraqueceu no país? Quais as tendências de evolução do sistema partidário? Defendemos o argumento de que, após três décadas de reorganização e estruturação, a dinâmica do sistema partidário brasileiro alcançou um grau razoável de estabilidade, configurando-se ao redor de sete partidos relevantes que vêm dividindo, de maneira ainda mais equânime, os principais postos de poder eletivo. A tendência, portanto, foi no sentido da concentração da representação e do maior equilíbrio entre as forças partidárias relevantes.Palavras-chave: eleições de 2014, partidos políticos, competição política, Brasil.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.