Em dezembro de 1989, durante a quadragésima quarta sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, os anos noventa foram decretados a International Decade for Natural Disaster Reduction -IDNDR. A iniciativa visava reduzir os danos sociais e materiais provocados por "calamidades naturais", priorizando as atividades pré-impacto: planejamento, prevenção e previsão. Estes esforços refletiam dois processos que se encontravam interligados. Por um lado, a crescente vulnerabilidade dos países em desenvolvimento em termos de perdas de vidas, prejuízos materiais e os seus efeitos cumulativos indiretos sobre desenvolvimento das regiões afetadas.Prejuízos estimados em cerca de 50 bilhões de dólares anuais, dois terços de perdas diretas e um terço em custo de prevenção e mitigação (TOBIN & MONTZ, 1997: 1). Por outro lado, refletia também o progresso adquirido no conhecimento cientí-fico e tecnológico desenvolvido para a confrontação do problema, como exprime a criação do Office of the United Nations Disaster Relief -UNDRO (UNDROnews, 1990: 10-21).O aumento da freqüência e intensidade das "calamidades naturais" coloca no centro do debate das ciências sociais as relações sociedade/natureza e a questão da sustentabilidade do desenvolvimento. Como todos os problemas ambientais, também as "calamidades naturais" se estabelecem nos pontos de interseção entre so- ciedade/natureza. O aumento da intensidade dos impactos provocados por "calamidades naturais" constitui apenas o ponto mais evidente de uma longa cadeia de interações recíprocas estabelecidas entre sociedade-natureza: as atividades sócio-econômicas transformam o ambiente natural o qual, alterado, acaba constrangendo o próprio desenvolvimento sócio-econômico (ALTVATER, 1995: 26). Na sociedade contemporânea entretanto, as "calamidades naturais" não deixam de ser paradoxais: ao mesmo tempo que produzem destruição, permitem repensar as relações estabelecidas entre sociedade-natureza (CARRASCO: 1992: 11). Mas, curiosamente, apesar da tendência de agravamento dos impactos provocados pelas secas na região nordeste, inundações e deslizamentos no sul e sudeste, queimadas na região norte, entre outros impactos recorrentes (ZUQUETTE et al., 1995: 16), as "calamidades naturais" permanecem sendo um objeto de estudo pouco explorado no conjunto de pesquisas sobre meio ambiente no Brasil. Conseqüentemente, o acesso a informações atualizadas e teoricamente consistentes sobre aspectos como, por exemplo, as formas de organização social durante os impactos, as percepções do risco das populações atingidas, a capacidade de auto-organização e o aprendizado dos atores sociais, a adequação das políti-cas públicas implementadas, os conflitos de interesses em períodos de crise, os efeitos sobre a dinâmica de desenvolvimento sócio-econômico, enfim, todo um conjunto de informações indispensáveis para formulação e implementação de medidas de confrontação, não se encontram à disposição dos planejadores e tomadores de decisão. Esta situação contrasta com o cenário internacional onde as "calamidades naturai...
O texto trata do processamento da morte na sociedade moderna; objetiva problematizar as estratégias psicossociais empregadas na sociedade moderna para conviver com a morte. Argumenta-se que a forma como a morte é processada socialmente na sociedade moderna é uma conseqüência de como nos relacionamos com a vida. Partindo do exame das contribuições de Philippe Ariès e Norbert Elias e nos conceitos de individualização formulado por Ulrich Beck e segregação da experiência proposto por Anthony Giddens, procuramos demonstrar que quanto menos problemática se torna a morte socialmente, mais angustiante se torna seu processamento para o indivíduo. Para desenvolver este argumento e mostrar como é segregada a experiência de morte, aplicamos a noção de ator-rede que permite a interpretação da justaposição de atores heterogêneos no processamento da morte.
A problemática sociotécnica dos desastres naturaisOs desastres naturais constituem um tema de estudo muito controverso. Após quase um século de pesquisa sistemática sobre o tema, na sociologia não existe ainda consenso sobre o que é um desastre e sua definição encontra-se em negociação (Quarantelli, 1998; Quarantelli e Perry, 2005). Essa disputa reflete tanto a diversidade de disciplinas mobilizadas no debate, por exemplo, a sociologia, a geografia, a antropologia, a epidemiologia, a psicologia e as disciplinas técnicas, meteorologia, sismologia, engenharias etc. (Alexander, 2000), como também as ambivalências dentro de uma mesma disciplina, como é o caso da sociologia (Tierney, 2007). Além disso, essas disputas refletem as estratégias de gestão e resposta (Revet, 2009). Nesse sentido, a temática dos desastres constitui um espaço de tensão porque abriga interesses muito heterogêneos. A definição dos desastres constitui, portanto, um desafio ao mesmo tempo cognitivo e político.Esses impasses conceituais parecem refletir o contexto sociocognitivo de desenvolvimento institucional da pesquisa dos desastres. A preocupação com os desastres possui uma longa história (Bryant, 1991;Schenk, 2007; Kozák e Cermák, 2010) e atenção da mídia (Pantti et al., 2012) e estes são onipresentes na vida cotidiana das pessoas (Crowe, 2012). As primeiras contribuições remontam ao início do século (Prince, 1920;Carr, 1932), mas é somente após a Segunda Guerra Mundial que se estabelece um processo de produção sistemática de informações (Quarantelli, 1978).
<p>O texto aborda o tema do desenvolvimento regional. Mais precisamente, os pressupostos epistemológicos, teóricos e metodológicos relacionados à produção do conhecimento com o desenvolvimento regional. Argumentamos que a produção do conhecimento com o desenvolvimento regional é reflexivo, contextual e relacional. Para desenvolver esse argumento, o texto foi dividido em cinco partes: ele inicia com uma breve introdução em que são apresentados os desafios relacionados à produção do conhecimento com o desenvolvimento regional; na segunda parte são apresentadas as bases epistemológicas necessárias para a produção do conhecimento com o desenvolvimento regional, que chamamos de reflexiva; na terceira parte enfocamos os pressupostos teóricos relacionados à causalidade do desenvolvimento regional; na quarta procura-se desenvolver as bases metodológicas da produção do conhecimento com o desenvolvimento regional com base em um modelo relacional; na última parte extraímos algumas consequências do exame epistemológico, teórico e metodológico da produção do conhecimento com o desenvolvimento regional.</p><p>Código JEL | N90; O18; R10.</p>
ResumoEste trabalho aborda a relação entre território, desastre e desenvolvimento. Os desastres constituem uma das questões mais desafiadoras para a compreensão e o desenvolvimento do território. Compreendem, ao mesmo tempo, um obstáculo para o desenvolvimento e, também um resultado do desenvolvimento socioeconômico da região. O estudo discute a relação entre desastre, território e desenvolvimento regional, além de partir da hipótese de que os desastres são territorializados e têm relação com a forma de ocupação do espaço e com o desenvolvimento socioeconômico da região de forma desigual. O foco do estudo foi uma das comunidades de Blumenau, Santa Catarina, mais atingidas pelo desastre socioambiental ocorrido na região do Vale do Itajaí em 2008. Este trabalho divide-se em quatro partes principais: 1) desastre e território, tratando das relações entre desenvolvimento regional e desastre; 2) o desastre de 2008; 3) o caso da comunidade da Rua Pedro Krauss Sênior em Blumenau; 4) a gestão do risco de desastres. Palavras
O texto aborda o tema das contribuições da Psicologia para a construção de comunidades mais seguras1 e sustenta que a adequação das intervenções da Psicologia na produção da segurança constitui o resultado da forma como se configura a insegurança e de como as comunidades são dimensionadas. O desenvolvimento desse argumento baseia-se em dois procedimentos analíticos: o primeiro refere-se à apresentação das formas de caracterização da insegurança, considerando três tradições de pesquisa: os estudos de hazards, desastres e riscos, e o segundo diz respeito à apresentação das transformações que marcam o desenvolvimento da sociedade moderna nas últimas décadas. Com base nesses dois procedimentos, apresentaremos as contribuições da Psicologia para a construção de comunidades mais seguras, através da possibilidade de estabelecer uma Psicologia dos desastres no Brasil.
Resumo O texto trata da avaliação da produtividade científica. Analisa o processo de metrificação da avaliação da produção científica, bem como o processo histórico de construção da avaliação científica e seus usos atuais. Argumenta que esse processo encerra um paradoxo: quanto mais impessoais se tornam as métricas, menor seu reconhecimento pelos cientistas. O estudo foi dividido em cinco partes: contextualização da problemática da avaliação científica; descrição das principais etapas do processo de institucionalização da metrificação; apresentação do processo de concepção dos principais indicadores de avaliação; exemplos da aplicação desses indicadores; apresentação das consequências analíticas e algumas recomendações para formulação de uma nova agenda de avaliação.
Este artigo tem como objetivo examinar a operacionalização do Sistema de Monitoramento e Alerta de Eventos Extremos de Blumenau (AlertaBLU), nos eventos ocorridos em outubro de 2015, assim como analisar as interfaces entre o sistema e as demais tecnologias utilizadas antes, durante e depois dos desastres. Argumenta que, embora o sistema represente um significativo avanço na gestão municipal dos riscos de desastres, aspectos endógenos e exógenos ao AlertaBLU comprometem a efetividade do sistema. Para desenvolver esse argumento foram utilizados três principais procedimentos: 1) pesquisa bibliográfica sobre desastres; 2) consulta sobre o AlertaBLU aos órgãos públicos municipais; 3) levantamento e análise de 84 notícias do principal jornal de Blumenau, 59 notícias no site da Defesa Civil e 34 notícias na maior página sobre desastres em Blumenau no Facebook. O texto está estruturado em torno de quatro principais seções: 1) introdução; 2) desastres e o sistema AlertaBLU em Blumenau/SC; 3) interfaces do AlertaBLU em outubro de 2015; 4) considerações finais. PALAVRAS-CHAVE:Desastres. TIC. AlertaBLU. Blumenau.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.