IntroduçãoA crescente literatura antropológica sobre objetos materiais pode ser lida como um esforço de repensar, ou mesmo anular, as linhas que separam pessoas e coisas, bem como dicotomias arraigadas no pensamento social ocidental, como material vs. imaterial, animado vs. inanimado, sujeito vs. objeto. As investigações sobre a vida social e a biografia das coisas (Appadurai 1986), os estudos sobre o papel constitutivo de objetos materiais Tal interesse teórico não se circunscreve à antropologia da arte ou aos estudos sobre cultura material, reverberando de modo particularmente sensível em diversos ramos da disciplina. No âmbito da antropologia da religião, a chamada "virada material" assumiu contornos específicos, uma vez que a análise da religião, na tradição intelectual ocidental, tendeu a privilegiar estados mentais e disposições internas (Cf. Asad 1993) em detrimento de suas dimensões materiais -não raro relegadas a um papel auxiliar de expressão de crenças e ideias já dadas (Cf. Hazard 2013). Neste texto não revisarei o amplo espectro de estudos que abordam a religião do ponto de vista de suas formas materiais e de seus usos na prática -tarefa levada a cabo no já mencionado artigo de Hazard. Objetivo reter uma tônica comum a diversas reflexões: o deslocamento de ênfases calcadas no simbolismo e na representação. Ou seja, não se trata de analisar como objetos refletem crenças, símbolos ou representações sobre o mundo social (Cf. Latour 2008), mas, ao contrário, de atentar para as influências e as transformações recíprocas entre o mundo espiritual e o mundano, entre
Resumo Por meio da descrição das interações entre espíritos de colonizadores, especialistas religiosos, divindades e devotos da deusa hindu Kali na Guiana, o artigo busca demonstrar como concepções nativas sobre a presença de entes espirituais no mundo são atravessadas por dúvidas, hesitações e (re)elaborações retrospectivas de eventos passados, bem como por reflexões aguçadas sobre as potencialidades de seres com estatutos ontológicos distintos assumirem, incorporarem e imitarem atributos e poderes de outros seres.
This paper describes the ritual procedures associated with animal sacrifice in the worship of the Hindu goddess Kali in Guyana, formerly British Guiana. Animal sacrifice is explored through questions relating to materiality, personhood and the mutual permeability of persons and objects. The aim is to advance an interpretation based on native conceptions regarding the potential effects of the exchange and circulation of substances between devotees of the goddess Kali, Hindu deities, and ritual artefacts.
Throughout the Guianas, people of all ethnicities fear one particular kind of demonic spirit. Called baccoo in Guyana, bakru in coastal Suriname, and bakulu or bakuu among Saamaka and Ndyuka Maroons in the interior, these demons offer personal wealth in exchange for human life. Based on multisited ethnography in Guyana and Suriname, this paper analyzes converging and diverging conceptions of the “same” spirit among several Afro- and Indo-Guianese populations. We argue that transformations in how people conceptualize bakulu reveal how supposedly radical moral differences are constructed within and between populations in the multi-ethnic Caribbean. More than figurative projections of monetized inequality or racial and ethnic prejudices, baccoo actively mediate how people throughout the Guianas think about and experience the everyday conduct of economic and racial relations.
Tradução de Dutchman ghosts and the history mystery: ritual, colonizer, and colonized interpretations of the 1763 Berbice slave rebellion”. Publicado originalmente em Journal of Historical Sociology, v. 3, nº 2, 1990, p. 133-165. Resumo [Original do texto]:Em ordens coloniais os subordinados mais empobrecidos e com menos poder tiveram poucas oportunidades de armazenar suas imagens do passado em formas tradicionalmente utilizadas por historiadores. Neste ensaio, eu exploro interpretações históricas da rebelião de escravos de Berbice de 1763 presentes em três rituais, cuja maioria dos participantes são residentes empobrecidos de comunidades rurais guianenses. Eu contrasto os temas endereçados nessas imagens com aqueles endereçados por relatos da rebelião presentes em abordagens coloniais e pós-coloniais de colonizadores e de colonizados. O foco de minha descrição e de minha análise é a relação entre abordagens históricas e as identidades sociais de seus produtores.
Em diálogo com proposições recentes em torno da antropologia da história, neste artigo abordo como espíritos de colonizadores holandeses na Guiana, antiga Guiana Britânica, atuam como agentes, atores e narradores do processo histórico. Argumento que espíritos participam da formulação, (re)criação e circulação de conhecimentos, fatos e experiências associados, pelos espíritos e pelos humanos, ao período colonial da Guiana.
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