As relações entre movimentos sociais, partidos políticos e Estado tornaram-se, nas últimas décadas, um dos focos centrais de problematização teórica e investigação empírica no campo de estudos sobre movimentos sociais. Inserindo-se nesse debate, o presente artigo propõe uma perspectiva de análise que possibilite apreender diferentes padrões de relação entre política institucionalizada e política não institucionalizada e, particularmente, como tais padrões oportunizam processos distintos de organização e atuação dos movimentos sociais. Para explorar as possibilidades analíticas de tal perspectiva, aborda-se a trajetória de militantes do denominado movimento de economia solidária no estado do Rio Grande do Sul. Através dessas trajetórias, é possível identificar um processo organizativo que não apenas não se dá externamente ao Estado, mas é, em grande medida, fomentado por agentes e políticas governamentais. Ao contrário de abordar e criticar tal processo como exemplo de cooptação, instrumentalização ou colonização do movimento de economia solidária pelo Estado, busca-se mostrar que ele é fruto de um complexo padrão de relações entre sociedade civil e Estado, mediadas por partidos políticos (e, particularmente, pelo Partido dos Trabalhadores - PT), que emerge e se consolida no Brasil ao longo dos últimos 25 anos.
Este artigo tem como objetivo problematizar um "objeto" pouco abordado quando se analisam as características tradicionais e autoritárias que bloqueiam a construção democrática no Brasil: a "sociedade civil". A partir do suporte teórico-metodológico da "sociologia relacional" de Norbert Elias e da fundamentação empírica fornecida pela análise comparativa das relações entre sociedade civil e governos municipais em duas cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, questiona-se uma apreensão essencialista e unificadora dos atores sociais, que deixa de perceber a sociedade civil como um espaço de diversidade, de relações de poder e de conflitos, no qual se encontram e intervêm atores marcados por diversas orientações e mantendo diferentes relações com a democracia.
Resumo O estudo da participação de movimentos sociais na produção das políticas públicas é uma agenda em franco desenvolvimento no Brasil e na literatura internacional. Neste artigo buscamos colaborar com o desenvolvimento dessa agenda, ao oferecer um modelo analítico para abordar aquilo que a literatura tradicionalmente apreende como “contexto político”, que condicionaria a atuação dos movimentos sociais nas suas tentativas de influenciar o Estado. Partindo de um diálogo crítico com a produção nacional e estrangeira, argumentamos que, em vez de se relacionarem com um contexto objetivado e externo que condiciona sua formação e ação, os movimentos sociais devem ser compreendidos como participantes em relações de interdependência com diversos atores e instituições com quem interagem rotineiramente, constituindo o que denominamos de estruturas relacionais. Na análise das relações entre movimentos sociais e políticas públicas, as estruturas relacionais especialmente relevantes analiticamente são os regimes políticos e os subsistemas de política pública. Nosso argumento é que os movimentos sociais não se relacionam com essas estruturas - conforme se depreenderia de uma formulação contextualista -, mas no interior delas, embora normalmente a partir de uma posição de desvantagem ou marginalização.
ResumoO ensaio bibliográfico responde à seguinte pergunta: quais são as contribuições e implicações da incorporação da abordagem de Goffman -e, particularmente, do seu conceito de enquadramento interpretativo -para o estudo da ação coletiva e, mais especificamente, dos movimentos sociais? O foco recai sobre a apresentação e a análise da pertinência e fertilidade dos conceitos de enquadramento interpretativo/molduras interpretativas para a pesquisa empírica sobre movimentos sociais. Para atingir o objetivo indicado acima, o manuscrito se estrutura da seguinte forma: a primeira seção resgata as principais características das formulações originais de Goffman sobre molduras interpretativas; a segunda seção descreve como o conceito de molduras interpretativas foi apropriado por pesquisadores de movimentos sociais; a terceira aborda as principais elaborações teóricas desenvolvidas em torno do conceito de molduras interpretativas na literatura de movimentos sociais; a quarta destaca alguns pontos de crítica a esta abordagem que apontam para futuros desenvolvimentos; por fim, as considerações finais apontam algumas potencialidades analíticas da abordagem das molduras interpretativas para a literatura brasileira de movimentos sociais. O texto conclui que a abordagem dos enquadramentos/molduras interpretativas, central na literatura internacional sobre movimentos sociais, oferece férteis instrumentos teóricos para os pesquisadores brasileiros avançarem na identificação e análise de mecanismos e processos explicativos dos movimentos sociais PALAVRAS-CHAVE: enquadramento interpretativo; movimentos sociais; frame analysis; Erving Goffman; ação coletiva. 2 , que tendia a negligenciar a cultura (e, especialmente, os processos de construção e atribuição de sentido), o campo de estudos sobre movimentos sociais no Brasil se constituiu como uma área relevante para explicar a constituição e o desenvolvimento dos movimentos sociais. Caracterizada por um expressivo "deducionismo das condições objetivas" (Kowarick 2000, p.126), a maior parte da literatura do período tendia a abordar a dimensão cultural como sendo marcada por uma dupla negatividade, assim descrita por Dagnino:"Em primeiro lugar, uma negatividade derivada do determinismo econômico, que retirou da cultura qualquer possibilidade de uma dinâmica própria, estabelecendo-a como uma esfera separada, uma mera expressão epifenomenal de uma 'essência' econômica. Em segundo lugar, a cultura foi aprisionada na negatividade no sentido de que as idéias, e a própria cultura, eram consideradas predominantemente como obstáculos à transformação social, que deveriam ser eliminados nas massas e substituídos pelo 'conhecimento verdadeiro', pela 'consciência de classe', por meio das ações iluminadas de seus verdadeiros portadores: os intelectuais, a vanguarda, o partido" (Dagnino 2000, p.64).Ao longo dos anos 1980, no entanto, observa-se um crescente questionamento a esta perspectiva. No âmbito de um processo mais amplo de mudanças
Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico é licenciada sob forma de uma licença Creative Commons -Atribuição 4.0 Internacional. Resumo:O artigo analisa a relação entre identidade individual e engajamento tendo como foco de discussão os processos psicossociais que dispõem e sustentam o engajamento. Parte-se do argumento que a identidade constitui um processo de produção do reconhecimento que o sujeito elabora sobre si e os outros, individual e coletivamente. No âmbito individual, esse processo envolve três dimensões identitárias: a dimensão pessoal, a dimensão social e a dimensão coletiva. Alinhandose ao desenvolvimento atual no campo das teorias da identidade que problematizam a relação entre essas diferentes dimensões identitárias, o presente trabalho argumenta que a produção e manutenção da identidade militante acontece por um processo de correspondência identitária entre as dimensões pessoal, social e coletiva da identidade individual. Palavras-chave: Identidade. Engajamento. Movimentos sociaisAbstract: The paper analyses the relation between individual identity and engagement focusing the discussion on the psychosocial processes that are available and support the engagement. The argument is that the identity is an acknowledgement production process that the subject elaborates about himself and others, individually and collectively. In an individual scope, this process involves three identity dimensions: the personal, the social, and the collective dimension. Attuned to the present development of the identity theory which problematize the relation among these different identity dimensions, the present work argues that the militant identity production happens by an identity correspondence process among personal, social and collective dimensions of individual identity.
O Brasil assistiu, ao longo das décadas de 1980 e 1990, à proliferação de fóruns, conselhos, comitês e parcerias que instituíram, nos diversos níveis de governo e nas mais variadas áreas de atuação do Estado, canais institucionais abertos para a expressão política de atores e segmentos da sociedade civil. Entretanto, a literatura que analisa esse processo tem, em grande medida, adotado uma visão dicotômica e normativa da sociedade civil. Observa-se a necessidade de ruptura com uma apreensão estática e substancialista da sociedade civil, a partir da adoção de um enfoque processual e relacional que permita analisar o processo de construção dos atores sociais na sua relação com outros atores e instituições (em especial, com o campo político-institucional). Assim, este é um trabalho de proposição teórico-metodológica e não de apresentação de resultados de pesquisa, tendo como objetivo problematizar a literatura que trabalha com uma abordagem normativa e estilizada da sociedade civil e propor a incorporação da abordagem das redes de políticas à discussão e análise dos processos de formação e atuação dos atores da sociedade civil e, mais especificamente, de como esses processos relacionam-se com os espaços institucionais de participação. Como instrumento de operacionalização metodológica da abordagem das redes de políticas, propõe-se o emprego da análise de redes sociais, para apreender o processo de construção e atuação dos atores sociais a partir de seu pertencimento a um espaço relacional e dinâmico, no qual se inserem atores com distintas vinculações institucionais (sociedade civil, Estado, mercado).
Introdução 3Apesar de uma trajetória relativamente longa e consolidada no debate acadêmico internacional, especialmente na França (Sawicki e Siméant, 2011), a pesquisa sobre engajamento militante ou militantismo 4 encontra-se em estágio ainda incipiente nas ciências sociais brasileiras. Mesmo com a presença de pesquisadores e grupos de pesquisa que, em anos recentes, têm avançado em termos de investigação empírica, formulação teórica e constituição de espaços de debate e reflexão em eventos científicos nacionais e internacionais, 5 este ainda é um tema pouco (re)conhecido, que acaba se colocando como um objeto periférico de outros campos
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