Condições e mecanismos do engajamento militante: um modelo de análise

Abstract

Introdução 3Apesar de uma trajetória relativamente longa e consolidada no debate acadêmico internacional, especialmente na França (Sawicki e Siméant, 2011), a pesquisa sobre engajamento militante ou militantismo 4 encontra-se em estágio ainda incipiente nas ciências sociais brasileiras. Mesmo com a presença de pesquisadores e grupos de pesquisa que, em anos recentes, têm avançado em termos de investigação empírica, formulação teórica e constituição de espaços de debate e reflexão em eventos científicos nacionais e internacionais, 5 este ainda é um tema pouco (re)conhecido, que acaba se colocando como um objeto periférico de outros campos

Espaços de Politização e Processos de Engajamento em Sergipe

“…Por outro lado, estudos realizados no Brasil com participantes e promotores do 5º Fórum Social Mundial, sediado em Porto Alegre/RS em 2005 (Coradini, 2008), e com militantes do Partido dos Trabalhadores (Gaglietti, 2003) e dos movimentos ambientalista (Oliveira, 2005) e Economia Solidária no Rio Grande do Sul (Silva;Oliveira, 2011) -portanto, em configurações muito distintas da sergipana -também destacam a alta relação entre pertencimento associativo e política partidária 3 . Progressiva-3 A pesquisa de Coradini com mais de dois mil entrevistados mostrou que 81,6% dos indivíduos que participavam de algum movimento ou organização social eram filiados a partidos.…”

“…Afora os diversos trabalhos publicados por aqueles dois pesquisadores e por seus orientandos (ver mais em https:// leppufs.weebly.com/), destaco de modo sumário as pesquisas de Neves (2000;2012) e de Souza (2009;2012), sobre o "movimento negro", de Carvalho (2013), sobre militância de leigos católicos, e de Figueiredo (2012), sobre a "condição de professor" e investimentos na esfera política. Para uma visão sobre os estudos em torno do engajamento e da militância no Brasil, ver Oliveira (2013) e Silva;Ruskowski (2016); e sobre a vertente francesa, que tem inspirado em especial os trabalhos mencionados, consultar Sawicki;Simméant (2011). embora sejam ainda grandes as lacunas em especial pelo lado da historiografia.…”

Insurgência da crítica e a crítica da insurgência: resistência,autonomia e desafios pós-ocupações secundaristas

“…Na literatura acadêmica sobre os engajamentos políticos há uma multiplicidade de definições, das mais variadas perspectivas teóricas e metodológicas, a respeito dos conceitos de militância e de ativismo. De modo geral, à militância está associada a defesa de uma causa, em uma organização hierarquicamente estruturada, que se sustenta ao longo do tempo (Sawicki;Siméant, 2011;Ruskowski, 2016), ao passo que o ativismo se caracteriza por adesões mais provisórias e não demanda necessariamente o vínculo a organizações estruturadas, priorizando a dimensão individual da ação. Tal vínculo associativo, quando existe, baseia-se nos princípios de horizontalidade e autonomia entre os membros, assumindo a forma de coletivos (Gohn, 2018;Pleyers, 2018;Sales, 2019;Sales;Fontes, 2020).…”

“…Assim como Janaína, Maria também foi integrante do Insurreição, mas quando entrevistada no primeiro semestre de 2020, por videochamada, já Por seu vínculo duradouro em uma organização política hierarquicamente estruturada orientada pela defesa de uma causa, Augusto é o que mais se assemelha à concepção tradicional do militante (Brenner, 2011;Sawicki;Siméant, 2011;Pudal, 2011;Ruskowski, 2016). Além de permanecer vinculado à mesma organização, Augusto atua como militante profissional.…”

Desigualdades e participação improvável

“…Nesse ponto, recorri à literatura de engajamento militante que oferece alternativa de análise ao chamar atenção para as condições e os mecanismos pelos quais as pessoas se engajam com a política, permitindo analisar o processo de engajamento independentemente da posição do indivíduo na estrutura social. Essa literatura é extensa e foi, aqui, apreendida através das reflexões e contribuições de Marcelo Silva e Bianca Ruskowski (SILVA;RUSKOWSKI, 2016a;RUSKOWSKI, 2012), que propõem um modelo de análiseque integra contribuições de diferentes perspectivas teóricas que visa explicar os processos de engajamento militante.…”