A parcela da população que está em situação de rua e faz uso de substâncias psicoativas encontra-se em condição de vida vulnerável e precária, à margem do sistema e desassistidos pelos serviços e políticas públicas de saúde. Nesta pesquisa, buscou-se compreender como o cuidado e os riscos à saúde perpassam estes cenários. Explorar práticas de autocuidado em saúde nestes contextos, além de relevante, revela-se como um grande desafio posto, atualmente, aos profissionais da área de saúde. Esta pesquisa é de cunho qualitativo e foi realizada em duas regiões do centro da cidade de Juazeiro–Bahia e teve como suporte teórico para análise dos resultados os conceitos de cuidado e autocuidado e a antropologia interpretativa de Clifford Geertz. Este estudo identificou padrões de “uso compulsivo” das substâncias psicoativas crack e álcool. Percebeu-se que os contextos e formas de utilização de SPA estão oferecendo riscos diretos e indiretos à saúde da população pesquisada. Forjaram-se nestes contextos esboços de estratégias de autocuidado com a saúde a partir das experiências dos sujeitos. Evidenciou-se a necessidade de maior aproximação desses contextos e criação de políticas de atenção à saúde voltadas para este público.
Resumo Este artigo problematiza os sentidos construídos por profissionais de Consultórios na Rua (CnaR) sobre o consumo de crack por mulheres e suas implicações às práticas de cuidado. Pesquisa qualitatitava realizada junto a quatro equipes de CnaR (eCnaR) que atuam em três territórios do município do Rio de Janeiro, totalizando 25 profissionais. Produzidos a partir de grupos focais, os dados empíricos apontam para a diversidade de sentidos na compreensão do crack, entendido como a “droga da morte” ou a ‘pedra da felicidade’.A discussão e a análise dos dados revelam que o gênero é incorporado de modo controverso no cotidiano dos serviços: mesmo que os discursos sinalizem para diferenças nos padrões de consumo de crack entre homens e mulheres, no acesso e uso dos serviços psicossociais e na forma de obtenção da droga, as mulheres continuam sendo pensadas pela sua capacidade reprodutiva. Apontam, ainda, que mesmo nos serviços da rede assistencial de saúde, usuárias de crack são estigmatizadas: por serem mulheres que consomem crack e pela situação de rua. Sinalizam que impera na organização da rede de serviços o ideário da mulher-mãe. Advoga-se pelo imperativo da incorporação do referencial empírico-analítico dos estudos de gênero na política de atenção à saúde de usuários de crack.
Neste artigo, o objetivo consistiu em analisar, em processos judiciais da Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Juazeiro-Ba, os dados relativos aos atos infracionais análogos ao crime de tráfico de drogas e associação para o tráfico, em que adolescentes estivessem envolvidos, entre os anos de 2011 a 2014. A análise dos fluxos de tais processos, ancorada na sentencing – importante instrumento de análise para investigação de sentenças, permitindo uma compreensão ampla das premissas que orientam a prática judicativa –, associada a debates sobre a descriminalização, considerou a relação entre o perfil identificado – adolescentes nãobrancos, pobres e com baixa escolaridade – e as possíveis disparidades das sentenças proferidas. Verificouse a ausência de celeridade no sistema judicial e, consequentemente, a baixa aplicabilidade do que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente no que concerne à garantia de direitos e à adoção de medidas protetivas e socioeducativas. Nos poucos casos de resolutividade, a distância temporal entre o ato ilícito e o desfecho do processo é muito grande, pondo em xeque sua efetividade no sentido de garantir a proteção, a ressocialização e seu potencial de intervir preventivamente. A morosidade da justiça se apresentou, nesse processo, como elemento limitador da análise.
Resumo: O trabalho ora proposto reflete sobre dados empíricos provenientes de três campos de investigação: 1) o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad); 2) uma comunidade terapêutica de cunho evangéli-co; e 3) o Coletivo Ciranda de Rua de Redução de Danos, dispositivos de atenção e cuidado dispensados a usuários de substâncias psicoativas (SPA). Utilizando-se de algumas técnicas importantes ao trabalho etnográfico, como a observação participante, as conversas informais e as entrevistas gravadas, pôde-se aceder a questões que explicitam controvérsias quanto à prática da Política Nacional direcionada a este público específico, bem como desvela debates polêmicos sobre a incidência de padrões morais e normas de conduta no tratamento aí implicado, além de ser privilegiado o uso de fármacos em detrimento de outras medidas terapêuticas. Diante disso, atentamos para a necessidade premente de políticas eficazes de assistência social em consonância com uma assistência de saúde que possa contemplar as múltiplas dimensões que abarca o fenômeno estudado, seja em espaços institucionalizados ou em territórios de consumo. Palavras-Chave: Etnografia, Usuário de drogas, Paradoxos terapêuticos. Abstract:The work proposed here reflects on empirical data from three research fields: 1) Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPSad) 2) a therapeutic community of evangelical nature, and 3) Coletivo CIRANDA de Rua de Redução de Danos, attention and care devices offered to users of psychoactive substances (SPA). Using some important techniques to ethnographic work, as participant observation, informal conversations and recorded interviews, it was allowed to access issues that explain controversies regarding the practice of the National Politics targeted to this specific audience, as well as unveil controversial debates on the incidence of moral standards and rules of conduct in the treatment within, and moreover the prevalence of drug use over other therapeutic measures. Therefore, we pay attention to the urgent need for effective social policies in line with health
O objetivo do artigo é analisar os processos judiciais relativos ao ato infracional de tráfico de drogas, em Petrolina-PE (2011-2014), com base na revisão analítica das instituições e leis historicamente voltadas para a menoridade, segundo a Theory of Sentencing. Apreciouse o conteúdo social das variáveis legais e extralegais, analisando o efeito cumulativo dos determinantes das sentenças. As decisões judiciais mais encontradas foram extinção processual e absolvição. Medidas socioeducativas de advertência, liberdade e semiliberdade são mais recorrentes que a internação. No entanto, há disparidades das sentenças em casos análogos e imputação de penas análogas em casos díspares. Conclui-se que o sistema penal é produtor e reprodutor de desigualdades sociais e a punição é percebida e utilizada como técnica de controle e transformação de adolescentes pobres apreendidos com pequenas quantidades de drogas.
No abstract
Resumo: Noções como as de saúde e doença se referem a fenômenos complexos, que conjugam fatores biológicos, sociológicos, econômicos, ambientais e culturais. As Ciências Sociais, ao analisar práticas de manutenção da saúde, apontam para a insuficiência e limites da biomedicina no trato dos males humanos, revelando o quanto o estado de saúde da população é intimamente ligado ao seu modo de vida e ao seu universo social e cultural. Apesar deste artigo apresentar um apanhando bibliográfico geral, destacando os principais conceitos e posturas metodológicas com que as Ciências Sociais têm contribuído para a compreensão dos processos de saúde/doença, seu principal objetivo é discutir implicações para uma área específica: a delicada relação entre concepções médicas, normatividade, legalidade e o trato com pessoas que apresentam comportamentos "desviantes", tal como aquelas que fazem uso de Substâncias Psicoativas. Neste sentido, o artigo destaca algumas vantagens do método etnográfico para a compreensão deste fenô-meno complexo e sua pertinência para além um campo disciplinar.
Este artigo objetiva analisar discursos sobre a maconha em material jornalístico da imprensa brasileira entre os anos de 1910 a 1949. Avaliando 174 notícias de 12 jornais, o trabalho afirma que foi se consolidando a construção de práticas discursivas que legitimam a relação entre drogas e crimes, com o aumento das notícias policiais e, consequentemente, dando espaço para a consolidação de um discurso policial sobre a maconha.
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